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Os mais atentos que me lêem sabem que tenho blog há quase 10 anos. Isso, uma década. Fui mudando de poiso, mas a "linha editorial" nunca variou muito. A minha vida, sim.
Quando comecei o meu primeiro blog era uma miúda de 24 anos que tinha uma vida de miúda de 24 anos. Ainda vivia com os meus pais, trabalhava, ia tendo uns namorados e umas coisas parecidas, saía muito, andava sempre em jantares e sessões de copos. O normal, portanto. Era disto tudo que falava no blog, porque era esta a minha vida.
O tempo passou. Engravidei e achei que não ia deixar de ter o blog que sempre tive e que não ia deixar de falar dos assuntos de sempre, para passar a falar só da gravidez e do bebé e afins. Enganei-me redondamente. Por força das circunstâncias abandonei o meu blog público, abri um privado e continuei a escrever... mas passei a ter um baby blog em vez de ter um "lady blog". Normal, diria eu. Pois se a minha vida tinha mudado... se tudo girava em torno daquela bebé, era natural que a minha escrita andasse quase toda à volta do mesmo. Não me chateei muito com isso. Claro que fui sempre metendo outros assuntos pelo meio, porque, apesar de ser mãe, eu não era apenas mãe e continuava a ter interesses para além da maternidade, mas assumi o rótulo do blog e não quis desviar-me muito dele.
Em 2009, quando comecei este blog, a ideia era distanciar-me dos assuntos da órbita da maternidade. Queria sentir-me outra vez eu - não que eu fosse menos "eu" por ser mãe, mas sentia que estava a escrever num espaço que tinha um propósito mais reduzido do que aquilo que eu queria na altura. Senti que era a altura certa: a minha filha já tinha um ano e tal, já não era um absorvente ultrapotente de atenção e eu já tinha regressado ao mundo, depois de ter andado durante algum tempo naquela bolha.
Não tenho um baby blog. Tenho um my-life-blog. E a minha vida inclui duas crianças, por isso é natural que fale delas de vez em quando. Não falo só delas, mas falo muito delas porque a minha vida é assim mesmo - e o que vocês vão lendo aqui não é mais do que isto: a minha vida.
Não estranho nada quando um blog, até então mundano e "normal", passa a ser uma espécie de baby blog por força da parentalidade de quem o escreve. Faz parte, são coisas da vida. E, a menos que o/a autor/a se torne um/a chato/a obcecado/a com o assunto, que a escrita vire dicionário cutchi-cuthci, não é por causa disso que deixo de ler. Não tenho um radar anti baby blog nem nada que se pareça. Há baby blogs muito mais giros e divertidos do que muitos blogs ditos normais. E há, parece-me, uma nova corrente de mummy-blogs (alguns dos quais muito chatos, porque passam a vida a "evangelizar" em tom paternalista e isto, sim, é coisa que me faz deixar de ler um blog) que conseguem um bom equilíbrio entre assuntos de filhos e assuntos de mães.
Aqui há dias, quando a Pipoca anunciou a gravidez, deixou bem claro que o blog dela não vai ser um baby blog. Talvez não. Mas há-de ser um life-blog e mesmo que o pipoco não vire eixo em torno do qual tudo gire, há-de aparecer. É normal, é natural e o blog não perderá a essência por causa disso. Porque um blog é sempre de quem o escreve e, a menos que seja um blog ficcionado, falará sempre da realidade do autor. E nesta realidade cabem filhos, cães, gatos, canários, patos e cavalos, roupa e sapatos, viagens e refeições. É normal. Nós evoluímos, a nossa vida evolui e os blogs também. E ainda bem!
Sempre adorei bebés (ok, crianças também, mas os bebés têm extra-cuteness e fazem menos estragos). Há nos anos era ver-me a fazer de babysitter em tudo quanto era sítio. Os filhos dos amigos eram cobaias perfeitas para eu exercitar o meu instinto maternal A.F. (antes dos filhos). Depois vieram os meus. Continuei a adorar bebés. Continuei a não me importar de ser babysitter de vez em quando. Mas deixei de achar tanta piada aos filhos alheios porque agora tenho os meus que me consomem a maioria dos sorrisos. Ainda assim, os bebés ocuparam sempre um lugar especial no meu coração. Até que.
Temos uma prima com um bebé de três meses. Quando o vejo pego-lhe, ando ali um bocadinho com ele e assim que ele começa a refilar é bye-bye, vai lá à tua mãe.
Este fim de semana estive com um bebé com seis meses. O máximo que fiz foi um gugu-dadá aí a um metro de distância. Não tive vontade de pegar, de mudar fraldas, de assistir ao portfolio de gracinhas. Nada.
Depois há a filha do meu best-friend, que joga noutro campeonato porque se instalou confortavelmente naquele espaço do coração reservado aos sobrinhos - por enquanto é a única. Ainda por cima é linda. E sossegada. Arranca-me sempre uns "oh pá..." quando vejo fotos dela (e quero muito ir visitá-la esta semana, que já tenho saudades da pimpolha).
De resto, nada. Zero vontade de pegar, de estar com, de brincar com, de ver bebés. Curei-me daquele bichinho que me fazia querer ter mais filhos. Yep, loja fechada. Ficamos por aqui. Temos dois, são lindos e enchem-nos as medidas. Está bom assim e é assim que a nossa vida faz sentido. Somos super abençoados com estes que nos calharam em sorte, temos tudo o que era suposto ter no campo familiar. (Claro que se viesse um terceiro era bem vindo. Mas se antes não nos importávamos com a questão, agora sentimos que estamos bem assim).
(A propósito da notícia da mulher que matou os dois filhos adolescentes e que se suicidou a seguir.)
Não consigo entender que se matem filhos por vingança. Não consigo entender que se matem filhos para impedir o pai de ficar com eles. Não entendo que se matem filhos porque se acha que nunca serão felizes. Não entendo. Mas não julgo. As luzes que antes apareciam ao fundo dos túneis são cada vez mais escassas. Cada vez mais as pessoas se acham sem saídas, sem esperança, sem futuro. E lá devem acreditar que, matendo os filhos, os poupam a sofrimentos futuros. Não entendo. Mesmo sem mãe, há a possibilidade de se ser feliz. Morto, não se tem possibilidade nenhuma.
Acho que é preciso estar-se muito doente para se pensar em fazer uma coisa destas (e para concretizar, já agora). Não consigo imaginar sequer o caminho que se faz até este ponto em que se decide que a única hipótese é matar os filhos e morrer de seguida. Não entendo e espero nunca entender...
Pois que o senhor pediatra dos meus miúdos mandou arranjar uma chucha para o infante. Sim, agora... com dois anos. Porquê? Porque ele chucha nos dedos desde que nasceu. E é muito mais difícil largar dedos do que chuchas. Já com a miúda tinha sido assim. Chuchava no dedo, depois arranjou uma ferida brutal entre os dedos, tive que lhos entrapar e arranjar uma chucha. Tinha um ano e meio. Resultou. Largou-a com cerca de três anos, antes de o irmão nascer. Não foi nada problemático e ficou o problema resolvido. Portanto na semana passada lá fui eu à procura de uma chucha que pudesse agradar ao infante. Comprei uma da Nuk com um Mickey, personagem que ele adora. Fiz uma palhaçada com a chucha e ele lá ficou a dormir com ela. Até ver, está a correr bem. Vai resultar? Não sei... mas espero que sim!
O meu crianço mais pequeno fez dois anos. E, em jeito de presente, apanhou uma constipação épica. Para colorir ainda mais a coisa, o dia de anos dele foi aquele dia em que o IC19 esteve cortado a manhã quase toda. E era o dia da consulta com o pediatra. Era. Porque, depois de termos demorado uma hora e meia para andar sete quilómetros, desisti, dei a volta ao cabvalo e demorei cinco minutos a fazer os sete quilómetros de volta. Entretanto a constipação piorou, o que calha mesmo bem, visto que remarquei a consulta para amanhã.
Mas, bom, dois anos. Frases complexas, raciocínios lógicos e claríssimos, cortesia da irmã que puxa mesmo muito por ele. Conta até dez com algumas omissões avulsas. Não reconhece as cores. Reconhece tudo o que é bicharada. Adora livros. Conhece a família toda (a mais chegada, vá). Tem uma paixão assolapada pela Lia. Tem outra paixão assolapada pelo Mário e pela Joana (padrinho da irmã e respectiva senhora). É meigo e doce e urra como um jogador de rugby da selecção neozelandesa. É teimoso. Muito teimoso. É lindo. Igual ao pai. É nosso... há dois anos.
Fraldas.
Cá em casa não se usam fraldas de marca branca porque... não gosto. Experimentei não sei quantas marcas brancas e não gostei de nenhuma. Ora encaroçavam com os xixis, ora deixavam sair xixi pelos lados... Eram baratas, sim, mas não cumpriam os mínimos aceitáveis.
Cá em casa não se usam fraldas caras. Só mesmo porque são caras e porque há alternativas igualmente boas...
Cá em casa usam-se as linhas básicas/económicas da Dodot e da Huggies.
Ora bem, as Dodot Básico são mesmo básicas e são piores do que as Huggies Economy. As Huggies Economy são óptimas: são maiores que as Dodot, absorvem muito bem, é raro haver desastres nocturnos (e quando há a culpa não é delas... é do meu gaiato que faz xixis em quantidades industriais!). Mas, melhor ainda, são mais baratas que as Dodot Básico.
Ou seja, por cá usam-se Huggies Economy (de momento, por acaso, usam-se Dodot Básico, mas só porque não havia Huggies quando fui às compras e precisava MESMO de comprar fraldas, sob pena de voltar a 1970 e às fraldas de pano presas com um alfinete de ama! E o facto de agora ter este pacote para gastar fez-me ficar ainda com mais certezas acerca da minha preferência pelas Huggies!).
Portanto a dica é: usem e abusem destas linhas básicas. Não são piores que as linhas "normais" e são MUITO mais baratas.
*Os "sarilhos" só aparecem porque me soaram bem... Coisas de gente com pouco que fazer, está bom de ver!
Ouvir o meu filho chamar-me
Mãinnnn
Mamã
Mãe Nhénha
Nhénha
Ouvir o meu filho chamar-me
Kiba (enquanto encosta a cabeça no meu ombro)
Ouvir o meu filho dizer
Adóú-te
Ver os meus filhos crescer todos os dias, um bocadinho mais a cada dia que passa.
Hoje, numa grande superfície comercial, houve espectáculo para quem quisesse assistir. O mais novo, que circulava com o rabo preso no carro-bengala, começou a querer ir para o chão. Pu-lo no chão. Quis ir para o carrinho. Pu-lo no carrinho. Quis ir para o chão...
O mais novo, agarrado ao boneco (nojento, horrível que ele usa para dormir) começa a dizer que quer os carros de brincar. Dou-lhe os carros. Quer o boneco. Dou-lhe o boneco. Quer o balão. Dou-lhe o balão. Quer os carros. Dou-lhe os carros. Quer o boneco...
Levo-os à Merry Cupcakes. Um mini-cupcake para cada um. Ofereço bolo ao mais novo, ele diz que quer uma bolacha. Dou-lhe a bolacha. Quer o bolo. Dou-lhe o bolo. Quer água. Dou-lhe água. Quer a bolacha. Dou-lhe a bolacha. Quer o bolo...
Mais novo no carrinho, pede para ir ao colo. Digo que não. Adormece no carrinho. Fim de história. A maternidade é um mundo tão cor-de-rosa... corre sempre tudo bem... os nossos miúdos nunca fazem birra... nunca nos envergonham... nunca ganham as "guerras" que travamos com eles... nós nunca cedemos a chantagens deles... e nunca os chantageamos. Adoro isto, o quão cor-de-rosa é a maternidade...
[Ou de como estamos todos MESMO a precisar de férias!!]
Ontem foi a primeira consulta de seguimento pos gravidez molar. Cheguei ao hospital às 8h15 para fazer análises. Consulta marcada para as 10h40. Seca descomunal até às 12h30... Li uma revista, li 50 páginas do meu livro, matei a bateria do telemóvel... e nada de ser chamada para a consulta. Depois lá percebi: médica chamada de urgência ao bloco para uma cesariana.
Entretanto, na sala de espera, dois casais. As mulheres não se conheciam, os homens sim. Sentaram-se lado a lado (eles), exactamente ao meu lado, e estiveram uma hora e tal a conversar animadamente. Mal se ouviam os nomes que eram chamados para as consultas, tal era a algazarra que faziam. Às tantas, aquando de uma chamada que ninguém percebeu para quem era, soltei um "shiuuuu!" que fez um dos senhores zangar-se...
Ele: não é preciso mandar calar ninguém!
Eu: aparentemente é. O senhor está há uma hora e tal a conversar. Isto aqui não é o café nem é o bar. É uma sala de espera de uma consulta de ginecologia e obstetrícia. O senhor vem acompanhar a sua mulher, nem sequer é o senhor que está doente. Respeite quem aqui está à espera de uma consulta. Quer conversar? O bar é lá em baixo!
Ele: os médicos que falem mais alto!
Eu: os médicos é que têm que falar alto? Não! O senhor é que tem que falar baixo ou não falar de todo!
Bom... entretanto, à minha volta, muitas grávidas com barrigas enormes, narizes inchados e caras de felicidade. E a dada altura dei por mim numa angústia tremenda, com uma vontade de chorar gigante. Também eu queria estar ali, barriguda, disforme e feliz, a esperar por um CTG ou por um toque.
Em vez disso esperam-me seis meses de consultas semanais ou, caso a coisa corra muito bem, quinzenais. Esperam-me análises sempre antes das consultas. E espera-me uma médica novinha, muito querida, que conheci por altura dos toques-antes-do-parto do meu filho. Fez-me uma consulta calminha, respondeu a tudo o que perguntei, percebeu que estou informada, não me atirou areia para os olhos, disse-me o que esperar... Disse-me que a betaHCG está a descer bem, que já não estou anémica (yay!), que posso voltar a correr (duplo yay!), que posso fazer a minha vida normal... e que a minha tiróide ainda não está boa, pelo que posso mesmo aproveitar para perder os 5kg que me faltam...
Marcou-me os exames todos para as próximas duas semanas, para eu não ter que me preocupar com nada. É só mesmo ir lá and pray for the best!
[Falou-me em três a seis meses de acompanhamento semanal. Significa que, estando tudo bem, daqui a seis meses posso - se quiser... e ainda não sei se quero! - voltar a engravidar... Fiquei feliz. Mesmo que não engravide, só o saber que posso já é maravilhoso!]
A vida encarregou-se de me dar limões. Na verdade, deu-me um gigantesco pomar cheio de limoeiros carregados, com os ramos a dobrar para o chão, tal a quantidade de limões que ali há. Não é fácil. E não acontece só aos outros.
Já aqui contei dos violentíssimos enjoos que tenho tido. Também falei da perda de peso abrupta que tive: até agora, quase sete quilos à vida. Associei ao facto de andar a comer pouco, por causa dos enjoos. Mas não é só isso.
Sexta-feira passada fomos fazer a ecografia do primeiro trimestre. Ainda na sala de espera disse mais uma vez ao meu marido que acghava que aquilo não ia correr bem, tinha um feeling estranho. Ele, como bom macho que é, disse que aquilo eram coisas da minha cabeça. Já antes da eco eu tinha comentado com algumas amigas que sentia que havia alguma coisa errada com esta gravidez. Tal como comentei que achava que era uma menina. Não me enganei em nenhuma das sensações.
Assim que o médico me pôs a sonda na barriga disse que aquilo estava tudo errado, que aquilo não estava bom. Inocentemente, pensei que estivesse a falar do ecógrafo... Mostrou-me a minha placenta, que parece uma videira em Setembro, carregadinha de quistos que parecem uvas. Mostrou-me a bebé e disse que era inacreditável como é que esta bebé continua viva às 13 semanas. Fiquei sem chão. Não percebi...
Perguntou-me se eu tinha muitos enjoos, coisa que confirmei. Explicou-me que tem tudo a ver com a degenerescência grave que a placenta tem. Mostrou-me o coração da bebé, que tem um derrame pericárdico, coisa que é provável que faça o coração dela parar (e ele não percebeu como é que isso ainda não tinha acontecido). Mostrou-me a translucência da nuca, super aumentada na minha bebé. Explicou que isto poderá ter a ver com a cardiopatia, uma vez que ela não tem trissomia 21 (há osso nasal bem visível, por isso esta hipótese foi afastada).
Mandou-me para o hospital o mais rapidamente possível, para me fazerem mais exames e ser seguida lá. Disse-me, muito friamente (e ainda bem), que este bebé é pouco viável e que o mais certo é termos que interromper a gravidez. Saí dali a chorar. Fugi para um canto, por não querer assustar as outras grávidas que estavam à espera.
Fomos logo para o hospital, onde não me fizeram nada por já ser muito tarde. Mandaram-me estar lá na segunda de manhã, para fazer uma consulta de diagnóstico pré-natal e alguns exames adicionais. Vim para casa de rastos, sem saber o que pensar. No sábado fiz o que não se deve fazer: fui à net procurar explicações sobre o meu problema. Estranhamente, fez-me bem. Percebi o que é, porque acontece e quais as implicações futuras.
O que eu tenho chama-se Mola Hidatiforme Parcial. E raríssimo, mais propenso a acontecer em mulheres com mais de 40 anos (não confere), com historial clínico de abortos espontâneos (só tive um, não é lá grande historial). O que acontece é um erro de programação na fecundação: o óvulo é fecundado por dois espermatozóides. Obviamente, não é suposto isto acontecer, pelo que o bebé pode ficar com 23 cromossomas da mãe e 46 do pai. A placenta degenera e ganha os tais quistos, coisa que não é nada saudável.
Os sintomas disto são... enjoos e vómitos fortes e recorrentes, perdas de peso rápidas e inexplicáveis, prostração, apatia, sono... Ou seja, tudo o que eu tenho, em doses cavalares. Foi bom ter percebido que não eram coisas da minha cabeça, que havia uma explicação lógica para isto.
Ontem fui para o hospital às 9h, preparada para um dia passado ali. Fui atendida por uma médica que me disse que, em 23 anos, nunca tinha visto uma mola parcial ao vivo (a mola completa, onde só há formação de placenta mas não de bebé, é mais comum). Fez-me uma ecografia e lá apareceu outra médica que, em 30 anos de profissão, nunca tinha visto uma mola parcial ao vivo. Pediu-me que me despisse para me fazer uma eco com sonda vaginal... porque só esse ecógrafo é que tinha papel e ela queria ficar com as imagens da minha eco para ela... (foi aqui que comecei a sentir-me atracção de circo...).
Mandaram-me para o diagnóstico pré-natal, onde me passaram à frente de uma série de grávidas (o caso é mesmo muito grave e urgente...). A médica especialista no disgnóstico fez-me nova eco. Apareceu mais uma médica que, adivinhem... nunca tinha visto uma mola parcial ao vivo. E mais um médico, menos impressionável mas super atencioso, que me explicou os passos a dar de seguida. Fizeram-me uma biópsia à placenta (tiraram-me, a frio, dois pedaços da placenta - não doeu nada, vá-se lá entender...). Agora há que analisar o tecido e perceber se a bebé tem alterações cromossomáticas. Se tiver, não há volta a dar e vou ter que interromper a gravidez. Se não tiver, tem que se analisar a cardiopatia e ver se é tratável ou não. Enfim... estou rodeada de pontos de interrogação por todo o lado.
No meio disto tudo, encontrei-me. Sinto-me novamente eu, sem depressões. Parece que o facto de ter encontrado explicação para o que me andava a consumir foi o suficiente para me voltar a centrar. Estou triste, obviamente, mas estou conformada e serena. Sei que o que tiver que ser, será. E sei que a vida e Deus não nos dão nada com que não consigamos lidar...
Agora... é esperar por respostas.
Tivesse eu um computador que não tivesse vontade própria e escreveria muito mais amiúde. Este gajinho faz o que lhe dá na telha e empanca como gente grande. Vai daí... nem sequer me apetece ligá-lo. Depois, ó senhores do Sapo, que tal criarem uma plataforma catita para edição via telemóvel, hum? Isso é que era! Se desse para postar via Android, eu postava all day long... no intervalo dos enjoos, bem entendido.
Bom, adiante. Encontro-me benzinho. Cá vamos andando... nem bem nem mal, é como Deus quer. Enjoada na quarta casa (quando era na quinta era mais grave). Sem conseguir comer nada de jeito (saldo: menos 4kg do que no dia 0 da gravidez). Com azia o dia todo. Sem beber café, portanto completamente prostrada e sem reacção para nada. Durmo muito e muito mal. Ou é o calor, ou é a azia, ou é a minha filha em cima de mim, porque ainda não percebeu o conceito de fronteira que já lhe tentei explicar diversas vezes. Enfim... Já passaram quase 12 semanas, o que significa que, na mais remota das hipóteses, faltam mais... 29 semanas (ouch!).
Esta que vos escreve padece de todo um mal-estar geral quando se encontra neste estado dito de graça. Acontece que isto não tem graça nenhuma. Para terem uma ideia:
- Acordo às 8h. Trato dos miúdos, bebo um copo de leite e sigo viagem. Assim que sento o rabo no carro começam os arranques. Não do carro, mas meus mesmo. Vómitos, náuseas e afins.
- Deixo a catraia na escola e sigo para café com a minha mãe. Bebo o café sem pensar muito no assunto e como meio pão de deus (divido com o meu mai novo) ou meia carcaça (idem). Continuam os arranques.
- Regresso a casa, engulo o ácido fólico e dois Nausefe, sento-me dez minutos à espera que a coisa passe. E a coisa passa.
- Começo a pensar no que vou fazer para o almoço e regressam os arranques. Acabo por não fazer nada e preparo antes uma salada aditivada com sementes (linhaça, chia, girassol, sésamo e goji).
- A meio da tarde começa a dar-me a fome, mas a vontade de comer é nula. Acabo a comer fruta e um iogurte. Regressam os arranques.
- Vou buscar a miúda. Preparo-lhe uma torrada quando chegamos a casa, dou uma dentada naquilo e regressam os arranques.
- Começo a fazer o jantar, sempre aos arranques. Faça eu o que fizer, o resultado é sempre o mesmo: não consigo comer. Portanto, acabo a comer uma sopa ou salada ou fruta ou uns cereais. E regressam os arranques.
- 21h30: cozinha arrumada, putos deitados, eu enjoada. Deito-me. Passa-me a maresia até ao dia seguinte...
De maneiras que, com quase 2 meses de gravidez, o saldo (em peso) é... zero. Ou melhor, na verdade, já perdi um quilo. Claro que vou recuperar isto tudo lá para as 16 semanas, quando os enjoos derem por terminada a sua missão (espero eu que eles façam isso...). Claro que vou engordar um disparate de quilos no final, porque esta gravidez acertou mais uma vez naquela época diabólica para mim: o Natal. E eu, que até já sei isto tudo, por experiência provada e comprovada, já sei que, quando chegar Dezembro vou esquecer todos estes discursos de peso e comer o que me apetece, quando me apetece. Hei-de dar entrada na maternidade mascarada de baleia, mas não faz mal. É a última gravidez e depois desta, sim, entrego-me de alma e coração (e corpo, pronto) à missão de perder o peso ganho em três gravidezes. Até ver, tenho 14 quilos para perder. Calculo que isto no final acabe nos 18 quilos a abater. A ver vamos. E daqui a um ano penso nisso... para já só consigo mesmo pensar que os dois Nausefe que tomei há dez minutos já estão a fazer efeito e os arranques abrandaram. Por agora...
Difícil, esta coisa de comprar para a cria mais velha uma máscara que seja barata, bonita e quentinha... Acabei por escolher em função dos sapatos: comprei-lhe uns vermelhos com bolas pretas Flamengo-ish. Vai de espanhola. E escusado será dizer que ontem foi uma guerra para a fazer descalçar os sapatos...
"Mãe, ainda bem que compraste este de espanhola e não compraste de coelhinha como eu queria".
Tão vaidosa, esta princesa... (E é tão culpa minha...)
Não importa quantos filhos tens. Podes ter um ou doze. Ou vinte. Não importa. A primeira vez que um filho te chama "mamã" fica-te cravada no coração, uma impressão a quente que nunca mais se desfaz. Ao primeiro filho é a novidade: é a primeira vez que um ser que te saiu das entranhas chama por ti. Ao segundo filho, não sendo novidade, é igualmente inesquecível: é a primeira vez que aquele ser que te saiu das entranhas chama por ti.
É um clássico: ao primeiro filho o tempo dá para tudo. Para fotografias todos os dias, para um álbum devidamente actualizado, para saber de cor e sem recorrer a auxiliares de memória quantos meses tinha quando se riu, quando cuspiu pela primeira vez, quando pegou pela primeira vez num peluche. A partir daí a coisa diminui drasticamente. As fotografias são em muito menos quantidade. Não sabemos ao certo se começou a palrar com dois ou com sete meses. O primeiro dente apareceu algures entre os seis meses e a entrada para a primária. Não sabemos qual foi a primeira palavras porque agora já temos conversas intermináveis, cheias de palavras.
Isto não quer dizer que se ama menos os filhos seguintes, por oposição aos primogénitos. Quer apenas dizer que o tempo que tínhamos disponível quando tínhamos só um filho é agora ocupado a amar várias pessoas pequenas, a cuidar delas, a garantir que se tornam adultos responsáveis e não perigosos deliquentes. O tempo não estica. O coração das mães, sim.