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Mães pelo Mundo - Ziza, Angola

09.12.13

1. Conta-nos um bocadinho sobre ti: quem és, onde estás a viver, quantos filhos tens, que idades têm eles, há quanto tempo emigraste, o que vos levou a emigrar?

 

Sou a Maria Alzira (também tenho um bonito nome, como podes ver) tenho 32 anos, quase 33 (próximo dia 25/11) e estou em Angola há 7 anos (10/2006). Vim para Angola ainda solteira e com 25 anos e entretanto juntou-se o namorado (passados 2 meses da minha chegada a Angola).

Tenho 2 filhotes, a Matilde com 4 anos e meio e o Manuel que vai fazer 1 ano dia 29/11. Foram ambos feitos por cá mas nascidos em Portugal por opção (no tempo da Matilde as condições para ter um filho não eram as melhores e preferi ter em Portugal perto dos meus pais e agora do Manuel como não estou em Luanda e a gravidez teve alguns percalços Portugal foi também a opção).

Emigrei como te disse com 25 anos. O motivo foi única e exclusivamente a aventura e o desejo de poder ajudar na reconstrução de um País saído da guerra. Queria fazer a diferença na vida das pessoas.

Era uma jovem e o que me levou a emigrar não foi a mesma que leva a gora milhares de pessoas a abandonar o País. Não foi a falta de emprego (até porque tinha um estável como verás mais à frente) nem as dívidas acumuladas porque nesta idade apesar de ser proprietária de um T1 e de uma dívida ao banco estava em condições de a pagar e de ainda juntar uns trocos.

Nestes 7 anos já vivi em várias cidades de Angola. O meu primeiro contrato de um ano e numa empresa Angolana vivi em Luanda, no Sumbe e em Benguela. Andava por mais cidades mas sempre em hotéis. Nestas 3 cidades foi onde passei mais tempo. A minha base era no Sumbe (10/2006-09/2007).

Nos últimos 6 anos estive 3 anos em Luanda (10/2017-07/2010) e desde 2010 estou no Lubango (08/2010-até à data).

2 - O que é que fazias antes de emigrar e o que fazes agora?

Tirei o curso de Eng.ª Geotécnica no ISEP mas quis o destino que iniciasse o meu percurso profissional na área das infra-estruturas de abastecimento de água e saneamento básico numa empresa que prestava consultoria à “Águas de Portugal S.A.” Estive por lá 3 anos e se o meu sonho sempre foi ir para a obra, o meu director não era da minha opinião e sempre desempenhei o papel de Executive Assistant ou Assistente de Direcção de Projectos, auxiliando em todas as fases da obra desde a parte de projecto e planeamento passando por facturações, controlo de custos, etc., até à entrega da obra ao cliente.

Como tinha o bichinho da obra e tinha uma colega ainda pior que eu que me andava sempre a espicaçar cujo marido veio para Angola no período pós-guerra, lá ganhei coragem e comecei a enviar CV para ver se tinha sorte. A esperança não era muita principalmente por ser mulher e a guerra ter acabado há pouco tempo. Mas 30 minutos depois de ter enviado o CV o general dono da empresa telefonou-me.

Tinha de ir à região de Lisboa a uma entrevista e como sou do Porto saí-me logo com algo semelhante: "Olhe, caso não tenha percebido sou mulher e veja lá se não me vai fazer gastar euros e uma data de km para depois vir pelo mesmo caminho e sem esperança". Ele riu-se e só me disse para não me preocupar. Passados 2 dias lá fui eu e já saí da entrevista com ordem para entregar os meus documentos nos RH que vinha para Angola.

As minhas pernas tremeram! E agora? Eu não sabia o que fazer! Tinha cá família e namorado (de 7 anos). Eu, menina dos papas e do namorado, tinha de ir sozinha para África! MEDO!

O meu pai (que Deus o tenha) foi o primeiro a dizer “Faz-te à vida! Eu não tive hipóteses, que a tua mãe cortou-me as pernas, por isso não a vou deixar cortar as tuas!” E assim decidi partir.

Com choro, abraços apertados lá vim eu para Angola.

Neste momento sou Project Manager numa empresa alemã onde trabalho desde 2007. Estou a gerir um projecto de abastecimento de água à cidade do Lubango. Este projecto é financiado pela banca Alemã e insere-se no Projecto de Reconstrução Nacional numa cooperação entre a minha empresa e o MINEA – Ministério de Energia e Águas de Angola.

 

3 - Porque escolheram esse país para viver?

Como já referi acima, foi mesmo a aventura. Angola tinha acabado de sair da Guerra. Tínhamos margem para progressão na carreira e acima de tudo os salários também eram bastante aliciantes. Com a adjuvante de ser um País fácil de emigrar na altura uma vez que Angola estava extremamente necessitada de mão-de-obra qualificada e o tempo de espera para Visto de Trabalho ao abrigo do programa onde me encontro inserida era reduzido.

 

4 - Qual foi a grande diferença que encontraste em relação a ser mãe em Portugal e aí?

Só tive a Matilde em 2009 e Angola já estava muito melhor do que estava em 2006. Para dizer a verdade, o meu único receio era que ela ficasse doente pois os cuidados de saúde ainda deixam muito a desejar.

Prefiro ser mãe aqui do que aí. Pelo menos enquanto trabalhadora por conta de outrém. Até aos 3 anos, a Matilde (e o Manel vai pelo mesmo caminho) ficam em casa com ama. Se estivéssemos em Luanda considerava a hipótese da Matilde ficar em casa até à idade de entrar no 1º ano. Mas aqui no Lubango tenho um infantário de uma Angolana/Portuguesa que segue o ensino Português e que consegue prestar um ensino de qualidade (ao nível do particular em Portugal ou até melhor).

Aqui começamos a trabalhar as 8 da manha e tomamos o pequeno-almoço todos juntos. Ao almoço tenho disponibilidade para vir a casa e almoçar em família com o marido e com o Manel. A Matilde como é muito má para comer optamos por deixá-la almoçar na escola. Ela lá almoça bem na companhia dos colegas enquanto que em casa era um stress e acabava por se atrasar e já não ir à escola de tarde. Saio às 17 e ainda tenho tempo para os miúdos, coisa que em Portugal era impossível. O serviço de casa é feito por uma empregada que está incluída no meu contrato e por isso a disponibilidade após as 17 é total para a criançada. Nos fins-de-semana temos sempre programas ao ar livre com amigos (campismos e praia com fartura).

Claro que nem tudo é um mar de rosas. Apesar de uma maior disponibilidade para os filhos falta-nos a família como suporte para que eu e o marido possamos ter mais momentos a 2. E os miúdos sentem imenso (assim como nós) a falta dos avós.

5. Como é que o Estado “trata” as mães? Como funcionam as licenças de maternidade? Que apoios são dados aos pais e às crianças?

Estado Angolano ou Alemão?

O meu contrato é na Alemanha por isso sou regulada pelas leis Alemãs. 8 Semanas antes da data prevista para o parto (40 semanas) tenho ordem para entrar de baixa forçada, caso contrário a empresa paga multa. E depois do parto temos também 8 semanas de licença. Durante estas 16 semanas a empresa paga a totalidade do salário não havendo qualquer penalização ou comparticipação da Segurança Social da Alemanha. Após estas 16 semanas o valor que a empresa paga vai baixando percentualmente. Se baixar para menos de 1500 euros mensais aí a segurança social alemã repõe o valor até atingir os 1500 euros/mês.

No caso da Matilde fiz as 8 semanas pós parto e do Manel fiz 12 semanas mas como prémio de produtividade a empresa pagou as 4 semanas extra na totalidade.

Até o bebé fazer 1 ano temos direito a redução horária de 2 horas diárias para aleitamento (seja materno ou artificial). Após um ano só tem em caso de aleitamento materno.

Segundo a lei angolana a mãe tem direito a licença de maternidade a partir do dia do parto e durante 60 dias. Durante esse tempo a empresa é obrigada a continuar a pagar o salário à trabalhadora exceptuando o subsídio de almoço e transporte.

Nós, como estrangeiros, não temos direito a abono de família mas os angolanos recebem por cada filho o equivalente aproximadamente a 5 euros também pagos pela empresa da funcionária. A segurança social aqui, apesar do trabalhador descontar, não serve para nada, pelo menos no aspecto referente à maternidade. Relativamente ao aleitamento, a mãe tem redução de 1 hora de trabalho diária mas apenas se amamentar.

Vacinação e consultas aqui são gratuitas, mas eu optei em ambos os casos por trazer as vacinas de Portugal e administrá-las em casa. Consultas só em caso de emergência e até ao momento não foi necessário. Para os casos de viroses consultamos via telefone o pediatra em Portugal que é incansável.

 

6. Qual dos dois países consideras mais seguro, tanto para os adultos como para as crianças?

Portugal sempre me pareceu mais seguro principalmente enquanto vivi em Luanda. Para ser sincera nunca me senti ameaçada cá tendo apenas sido vítima de racismo 2 ou 3 vezes em 7 anos e tendo sido a pessoa em causa sempre repreendida por Angolanos imediatamente após o insulto. Relativamente ao tratamento e insegurança acredito que apenas somos tratados como reflexo de como tratamos. Por favor, obrigada e bom dia não matam ninguém e acredita que baixam as defesas e agressividade de qualquer Angolano mais “quente”.

Temos de andar de portas trancadas (e vidros fechados) em Luanda mas nas províncias andamos à vontade.

Relativamente às crianças acredito que têm muito mais liberdade aqui. Não há medos dos raptos e podemos estar a vontade se a criança está em casa da vizinha ou de um amigo. Estamos na praia descansados porque os miúdos são muitos e há sempre um mais velho (ou 2 ou 3) a tomar conta da criançada mais nova.

Sinceramente sinto-me tão segura em Portugal como em Angola. Mas claro que da mesma maneira que não vou a certos sítios em Portugal também não vou a sítios de má fama em Angola e evito andar muito de carro à noite fora das horas normais.

7. Caso os teus filhos não tenham nascido aí, como foi a adaptação deles?

A Matilde veio para Angola com 6 semanas e o Manuel com 3 meses. A habituação deles praticamente não existiu uma vez que a gravidez foi passada cá até às 32 semanas e já tinham o swag Angolano ;)

A Matilde veio em Agosto e a transição foi muito pacífica. Saiu aí de verão e chegou cá a um Cacimbo (inverno) com temperaturas semelhantes a Portugal. Ela era uma bebé bastante complicada e que sofreu de cólicas até aos 5 meses e o estar aqui até a acalmou. Ao final do dia em vez de passearmos de carro íamos para o jardim do condomínio passear e ela adormecia a olhar para as árvores e palmeiras.

No caso do Manuel, veio em Março e teve febre (38º- nada de alarmante) nos 2 primeiros dias. Na altura em Portugal fazia frio e quando chegou levou logo com temperaturas de 36 graus. Mas nada que um ben-u-ron e dormir de fralda não resolvesse.

 

8. Como foi a vossa adaptação, enquanto família?

Chegámos cá como namorados, casámos, tivemos filhos. Foi uma habituação gradual e sem grandes dramas. Claro que fazem falta os avós e tios para ficarem com os miúdos e podermos ter tempo a 2. Mas com os amigos e ama podemos ter sempre um jantar tranquilo e uma conversa sem crianças. Somos uma família normal como somos em Portugal quando aí estamos. Temos o que precisamos e isso basta-nos.

9. Quais são as maiores dificuldades com que te deparas no teu dia-a-dia?

Em 2006 dizia que era a facilidade em arranjar bens essenciais e o trabalho em si. Hoje apenas a parte profissional é difícil.

Em 2006 não se passava fome mas os alimentos não abundavam, ou melhor quando havia massa, não havia arroz, se havia leite não havia manteiga e outras conjugações semelhantes. Uma pessoa que vinha habituada à Europa e a ter tudo na mercearia à porta de casa vê-se no dilema de ter de começar a amealhar como as formigas e começar a ter uma despensa recheada para as eventualidades. Nunca me faltou nada, mas também já tive de mandar comprar leite a 360 km de distância e pedir a amigos para me trazerem alguns alimentos. Hoje em dia este departamento já está sanado e encontra-se facilmente de tudo. Podemos é precisar de correr 4 ou 5 supermercados em vez de ir apenas a 1.

Relativamente à parte profissional o relato dava um testamento enorme se fosse a detalhar. As coisas acontecem muito lentamente. Toda a gente diz que sim mas depois fica sentado à espera que o colega faça. Ainda não existem muitas pessoas profissionais por cá. Infelizmente não falo só de angolanos que só há poucos anos começaram a ter acesso ao ensino (devido ao longo período de guerra) mas também me refiro a expatriados que vêm com a ideia de fazer pouco porque para quem não tem nada isso basta. Simplesmente odeio essa mentalidade e já tive uma série de confrontos porque não tenho sangue de barata nem gosto de estar parada. Aqui o pessoal empurra as culpas para os colegas, não gosta de assumir posições e gosta, como costumo dizer, de andar pelo meio dos pingos da chuva. Não são carne nem peixe.

Depois temos a imiscuidade entre os interesses públicos e privados em que toda a gente só olha para o seu umbigo e tenta tirar vantagens da posição que tem para se safar de alguma maneira. Falo mesmo de meter dinheiro extra ao bolso com o chamado business que por aqui é prática corrente e ninguém se parece importar com isso. Há-os inclusivamente na minha empresa, com pessoal a prejudicar gravemente os projectos, a direcção sabe mas prefere fechar os olhos. Acaba por ser a regra do deixa andar… Para mim é um pouco complicado lidar com isto mas mantenho a minha cabeça erguida e deito-me de consciência tranquila na almofada ao final de cada dia. O melhor a fazer aqui é ser cega, surda e muda em algumas situações. Desempenhar o papel para o qual fomos contratadas e não olhar para o que o vizinho faz. Assim deixamos de ser uma ameaça e podemos desempenhar o nosso trabalho com dignidade e honestidade.

Eu pessoalmente estou ligada mais à gestão dos projectos e não há muitos interesses no meio onde me movimento. Os "big bosses" é que andam pelo lago dos tubarões. Aqui cumprimos ordens e milestones e tentamos, dentro do possível, levar o projecto a bom porto e satisfazer as necessidades das populações.

10. Se tivesses que dar um conselho a alguém que esteja a pensar emigrar para o país onde vives, o que dirias?

Primeiro, se querem vir pela experiência, que venham. Se vêm por dinheiro, esqueçam. Neste momento e ao contrário de há alguns anos, Angola já não paga tão bem quanto isso. Há países na Europa a pagar tanto ou mais do que se paga aqui. Apesar de terem mais custos tem também mais qualidade de vida em outros locais e melhores oportunidades para criar os filhos. Angola é uns país difícil porque ainda tem muitas dificuldades e não é de fácil adaptação (principalmente se viermos sozinhos). Há muita gente que vê Angola como o paraíso de praias e palmeiras. Sim, temos disso mas também na parte profissional pode ser muito desgastante e desmotivante porque tudo leva o seu tempo (às vezes tempo demais) a acontecer. A rivalidade profissional e o não olhar a meios para subir está pior do que nunca e ou se tem estofo ou não se tem.

Por isso digo, venham mas de coração aberto e não só pelo dinheiro. Têm de vir com espírito de aventura, sacrifício e muita paciência. Posso dar o exemplo na minha empresa: de 20 Portugueses que chegaram na mesma altura que eu, apenas nos mantemos cá 4 e todos eles porque têm cá a família. Acho que isso explica muita coisa.

 

[Obrigada, Ziza!!]

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Mães pelo Mundo - intervalo

02.12.13

Hoje, por ser o aniversário da pequena lontra cá de casa, não há Mães pelo Mundo. Retoma na segunda-feira que vem com um pé em Angola...

 

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Sobre as entrevistas às mães pelo mundo

26.11.13

Isto está a dar-me um gozo tremendo. Porque vou conhecendo histórias de gente interessante (e eu sou viciada em histórias boas, como sabem!), vou sabendo de realidades que são muito diferentes da nossa (e da minha enquanto mãe, em particular). E se eu já tinha vontade de emigrar, cada vez tenho mais. Outra coisa gira é estar a receber contactos de gente que quer contar a sua história, coisa que eu agradeço muitíssimo. E é ler os comentários como os que estão agora na entrevista desta semana, de gente que está na mesma situação do que estas mães que tenho aqui apresentado. Está a ser um prazer!

 

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Mães Pelo Mundo - Carla, Bélgica

25.11.13

Hoje apresento-vos a Carla, que está em Bruxelas desde 2010.

1. Conta-nos um bocadinho sobre ti: quem és, onde estás a viver, quantos filhos tens, que idades têm eles, há quanto tempo emigraste, o que vos levou a emigrar?

O meu nome é Carla, tenho 35 anos e estamos a viver em Bruxelas há quase 3 anos. O Guilheme vai completar 4 anos no final do ano, ele nasceu em Portugal mas a ideia de emigrar começou a rondar quase ele estava a completar 1 ano.

Emigramos por motivos profisionais, o meu marido teve uma proposta de trabalho e não fizemos muitas contas, encaramos desde o início que seria uma oportunidade de crescimento profissional e também pessoal.

O maior desafio de todos foi ir preparando a familia com a novidade, comecamos por dizer que estavam a rondar o Miguel com esta possibilidade, mas na verdade a proposta já estava em cima da mesa. Não ajudou ser altura de Natal e aniversário do meu filho e a mudança iria ser no início do ano.

 

2. O que é que fazias antes de emigrar e o que fazes agora?

Eu estava a trabalhar numa multinacional há quase 10 anos, adorava o meu trabalho na área financeira, adorava os meus colegas. É um dos raros casos em que se acorda de manhã e não me importava de ir trabalhar. A hipótese de largar esta empresa era dolorosa para mim.

Uma vez que esta empresa também tinha escritórios em Bruxelas tentei fazer uma simples transferência de posto de trabalho. Enfim, foi mesmo uma tentativa porque ao fim de 3 meses tive que apresentar a minha carta de demissão, foi um dos dias mais dificeis para mim. A ideia de ir para um país sem trabalho era para mim muito difícil. Tentava ser o mais optimista em frente de todos, mas lá no fundo estava cheia de medo. Como é que eu ia para um país à procura de trabalho sem falar a língua deste país (francês/holandês)?

Ainda em Portugal me inscrevi em inúmeras empresas de ofertas de emprego, na semana que cheguei a Bruxelas tinha entrevistas marcadas todos os dias. Uma grande ajuda foi os meus ex-colegas e amigos que enviaram o meu currículo para os contactos deles em Bruxelas e foi assim que a minha actual chefe recebeu o meu CV e me chamou de imediato para uma entrevista. E assim ao fim de 15 dias de aterrar em Bruxelas tinha uma proposta de trabalho.

 

3. Porque escolheram esse país para viver?

Confesso que Bélgica iria ser dos últimos países a escolher para viver, uns anos antes fizemos uma viagem pela Europa e lembro de dizer que Bruxelas foi a cidade que menos gostámos. Agora sei que fez muita diferença visitar a um domingo (tudo fechado) e onde ficamos hospedados não era a melhor zona de Bruxelas.

Bruxelas foi a cidade escolhida porque está aqui a sede da empresa do Miguel.

 

4. Qual foi a grande diferença que encontraste em relação a ser mãe em Portugal e aí?

Eu acho que ser mãe em Portugal a grande verdade é que nunca me via sozinha, ou seja, é claro que a mãe era eu mas tinha sempre ali a ajuda extra da minha mãe para tirar alguma dúvida, para me ajudar com questões de comida, para ficar com ele se precisava de trabalhar mais tempo, etc..

Aqui sou eu, o pai e mais ninguém!! O Guilherme só nos tem a nós então temos de ser um pouco mães, avós, tios.. tudo!!!!

No meu caso não tenho problemas em trabalhar de casa quando o Guilherme está doente ou quando a escola está fechada , acho que as empresas aqui são mais flexíveis nesse aspecto. Uma das perguntas sempre presentes nas entrevistas era se queria trabalhar 100% ou part-time uma vez ter uma criança tão pequena.

Gostava muito de ter outro filho mas ao mesmo tempo pergunto-me como é possível sem ninguém por perto para me ajudar, mas claro que não era a única nem a primeira a fazer isso. Quem sabe um dia....

 

5. Como é que o Estado “trata” as mães? Como funcionam as licenças de maternidade? Que apoios são dados aos pais e às crianças?

Por aqui a licença é só 3 meses, mas temos uma outra licença que é de 4 meses que podem ser tirados até a criança ter 12 anos.

 

6. Qual dos dois países consideras mais seguro, tanto para os adultos como para as crianças?

Em termos de segurança não vejo grande diferenças, é claro que existem zonas de Bruxelas que são menos seguras mas acho que o mesmo acontece em outras cidades da europa.

 

7. Caso os teus filhos não tenham nascido aí, como foi a adaptação deles?

O Guilherme em Portugal estava numa ama que era uma pessoa praticamente da família, ou seja, a primeira experiência numa creche foi cá. Com um ano de idade ele também estava a começar a dizer as primeiras palavras o que complicou mais a adaptação na nova creche. Desde o primeiro dia que só falavam Francês com ele, chorou algumas vezes mas eu acho que nós como pais estávamos mais nervosos com esta mudança, a pergunta se estávamos a fazer o melhor estava sempre presente. Acho que os pais sofrem mais neste aspecto do que eles. O Guilherme com poucos meses de creche começou a falar mais Francês do que Portugues.

Neste momento ele está numa escola onde aprende Francês e Inglês ao mesmo tempo, claro que se atrapalha um pouco mas acho que está a ser muito bom para ele. Com quase 4 anos percebe as 3 línguas, mas o falar foge muito para o francês... mas cá por casa é só Portugues. :D

 

8. Como foi a vossa adaptação, enquanto família?

Olhando para trás penso que nos adaptámos bem. Acho que como família estas experiências nos unem mais. Só nos temos a nós e somos o apoio uns dos outros.

Não é facil ficar longe da família e dos amigos, todos nos fazem muita falta, mas também vamos construindo novas amizades por aqui, acho que somos mais “abertos” para conhecer pessoas novas.

 

9. Quais são as maiores dificuldades com que te deparas no teu dia-a-dia?

Além da saudade da família e amigos, uma coisa que sentimos falta é a simpatia natural do povo português. Aqui as pessoas são mais frias, o estilo de vida também é diferente. O que para nós era normal em Portugal aqui passa sempre um bocado para o luxo. Um simples jantar fora passa a custar mais do dobro, o belo do café já se bebe em casa e só depois saímos para passear. Isto porque acho que dar 2.5€ por um café é abuso.

Não podemos dizer que são dificuldades mas acho que são mudanças no estilo de vida e só nos resta encarar com normalidade se não torna muito mais dificil a estadia por aqui.

10. Se tivesses que dar um conselho a alguém que esteja a pensar emigrar para o país onde vives, o que dirias?

O meu primeiro conselho seria de tomar a decisão em conjunto como casal. É uma mudança muito grande e vai alterar muito vida de casa um.

Depois disso só posso aconselhar para o fazeram, acho que cresci bastante como pessoa, não penso só no aspecto profissional mas também no aspecto pessoal. Todos os dias se aprende algo, eu tenho o prazer de trabalhar numa multinacional em que encontro pessoas de todas as nacionalidades. Um simples intervalo de almoço fico a saber as tradições/hábitos que cada um.

Com dedicação tudo se alcança e estamos cada dia mais certos que fizemos a escolha certa, estamos bem profissionalmente e estamos a proporcionar algo ao Guilherme que não conseguíamos dar em Portugal.

 

[Muito obrigada, Carla!!]

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Mães pelo Mundo - Cíntia, Suíça

18.11.13

A minha primeira entrevistada é a Cíntia, que chegou à Suíça no final de 2010.

1. Conta-nos um bocadinho sobre ti: quem és, onde estás a viver, quantos filhos tens, que idades têm eles, há quanto tempo emigraste, o que vos levou a emigrar?

Sou a Cíntia, tenho 35 anos. Nasci e vivi a maior parte da minha vida em Lisboa. Sou casada e tenho dois filhos, a Sara, que tem 9 anos e o Lucas que tem 5. Decidimos que queríamos sair de Portugal quando eu estava grávida do mais novo, no princípio de 2008, acabamos por só conseguir concretizar as coisas no final de 2010. Faz por estes dias 3 anos que chegamos à Suíça. Mentiria se dissesse que não saímos por necessidade, como tantas outras pessoas, mas no nosso caso foi mais do que isso, talvez por morarmos num grande centro urbano do concelho de Oeiras sentimos que a qualidade de vida da nossa família podia melhorar exponencialmente noutro lado, e isso, juntamente com alguma (crescente) insatisfação profissional e social fez-nos não ter dúvidas nenhuma sobre o que queríamos para o futuro.

 

2. O que é que fazias antes de emigrar e o que fazes agora?

Em Portugal estudei comunicação social mas trabalhei pouco na área, tive vários empregos menos especializados, mas quando saímos estava desempregada por opção. A gravidez do Lucas foi de risco, na mesma altura a Sara saiu do colégio onde estava e ficou em casa comigo. Depois, com dois filhos, não consegui encontrar nada que me compensasse o preço de mandá-los para e escola e que os beneficiasse mais do que ter-me em casa a 100%. Quando viemos para a Suíça eu fui a primeira a ir trabalhar, não me valeu a experiência profissional ou académica mas sim a pessoal, porque fui para casa de um casal, cozinhava e tratava da roupa. O meu marido começou a trabalhar na área dele cerca de um mês depois, mas a verdade é que não tinha horários certos e comigo a trabalhar fora 6 dias por semana das 8 às 21, as coisas começaram a não funcionar. Tínhamos chegado há 8 meses quando decidi despedir-me, assim poupávamos a mensalidade da escola do Lucas, o meu marido não tinha de se preocupar com horários e os miúdos estavam mais acompanhados. Uns meses mais tarde descobrimos que através de uma associação eu podia tomar conta de crianças em casa, no tempo que tivesse disponível e nos meus termos, é uma coisa comum aqui, famílias que se disponibilizam a tomar conta de crianças e integra-las no seu dia-a-dia de uma forma menos formal do que uma escola. Foi isso que fiz até Maio passado, entretanto parei, porque em Agosto deste ano mudámo-nos para outra parte do país.

 

3. Porque escolheram esse país para viver?

Embora as estatísticas digam que é um dos melhores países para emigrar, sinceramente, escolhemos a Suíça por gosto. Visitamos várias vezes e sempre nos sentimos bem aqui, a calma com que se vive, a organização e a paisagem encheram-nos o coração. É daquelas coisas que se sente, sabes que naquele sítio podes ser feliz e pronto.

4. Qual foi a grande diferença que encontraste em relação a ser mãe em Portugal e aí?

Bem, esta pergunta pode ter uma resposta enorme! No meu caso pessoal, talvez a maior diferença tenha sido o não se olhar para uma “full-time mom” como se fosse uma desgraçada ou somente alguém que não consegue arranjar emprego. É muito comum as mãe ficarem em casa até os miúdos começarem a escola, normalmente entre os 3 e os 4 anos. É normal não se fazer mais nada do que isso, mas caso seja necessário ganhar dinheiro também há muitas alternativas, a minha vizinha do R/C faz trabalho administrativo a partir de casa por exemplo, eu tomava conta de miúdos, é possível trabalhar-se a 20, 30% do tempo normal. Parece-me que ser mãe aqui tem uma conotação mais positiva do que em Portugal, tanto social como profissionalmente. Ser mãe a tempo inteiro é uma coisa boa, até porque é perfeitamente possível viver-se só com um ordenado.

 

5. Como é que o Estado “trata” as mães? Como funcionam as licenças de maternidade? Que apoios são dados aos pais e às crianças?

Relativamente às licenças de maternidade, honestamente não sei, nunca cá estive grávida nem conheço ninguém que tenhas estado. Creio que se recebe o ordenado a 100% durante um determinado tempo, nas não sei quanto, sinceramente. Relativamente à gravidez em si, está tudo incluído nos seguros de saúde (que aqui são obrigatórios), o acompanhamento, o parto e até há verbas estabelecidas de propósito para cursos de preparação. Relativamente a apoios, há muitos, mas só os recebe quem realmente precisa deles. O único que é diretamente adquirido é o equivalente ao “abono de família”, todos os meses, juntamente com o ordenado o estado paga um valor por cada criança, a média são 200 Francos (160€ mais ou menos) mas pode ir até aos 300 Francos (240€) em determinados cantões. Sei que há sítios onde também existem incentivos ao aumento da natalidade. Depois há toda uma série de coisas, se um dos país não trabalhar, a parte obrigatória do seguro de saúde é subsidiada, por exemplo, até se chegar ao extremo, em que se a família ficar sem nenhuma fonte de rendimento, temporariamente, o estado paga tudo, inclusive a renda da casa, a alimentação e por ai fora.

6. Qual dos dois países consideras mais seguro, tanto para os adultos como para as crianças?

Claramente é mais seguro aqui. Para te dar um exemplo simples, as escolas não têm vedações, os miúdos são controlados obviamente, mas é mais um controle humano do que físico. Os miúdos a partir dos 10 anos vão praticamente todos sozinhos para a escola e aqui onde moramos agora, brinca-se na rua como no tempo em que eu era miúda, as amigas da Sara batem-lhe à porta para ir para o parque e ainda outro dia estamos a chegar de carro e deixamo-la tipo no meio da estrada para ir ter com outra amiga que estava a passear o cão. Foi e é difícil libertarmo-nos da sensação de medo constante, de ter de estar sempre atentos, mas realmente aqui há espaço para respirar, para deixar os miúdos serem miúdos. É claro que será ligeiramente diferente se morares no meio de uma cidade grande, mas mesmo assim a sensação de segurança é muito grande. Bem, só acrescentar que nem tudo é perfeito, uma vez em Lugano assaltaram-nos o carro, levaram-me as compras que tinha no porta-bagagens e o computador de trabalho do meu marido.

7. Caso os teus filhos não tenham nascido aí, como foi a adaptação deles?

No geral a adaptação tanto de um como de outro tem sido relativamente fácil, o Lucas ofereceu alguma resistência maioritariamente por causa da língua, mas não é nada que não estivéssemos à espera ou que não se contorne com relativa facilidade. A adaptação inicial foi facilitada por nos termos mudado para a parte italiana da Suíça, o pai fala italiano e eu falava pouco mas percebia quase tudo, porque estudei italiano na escola mas nunca pratiquei. A Sara entrou na escola dois meses após o inicio da aulas e levou cerca de 4 meses a dominar a língua, o Lucas demorou um pouco mais porque passava menos tempo na escola, mas agora falam os dois italiano normalmente, tal como falam português. Em Agosto começou todo um mundo novo quando nos mudamos para a parte francesa do país e estamos na fase de reaprender a comunicar, a Sara leva avanço porque em Lugano já aprendia francês, mas aos poucos nós também lá chegaremos. Quase toda a gente fala ou italiano, inglês ou português e arranja-se sempre maneira de resolver o que é preciso. Em termos sociais tem sido muito bom, as pessoas são por norma mais sociáveis do que eu estava habituada em Portugal e por consequência os miúdos também são, ultrapassada a barreira da língua não houve qualquer dificuldade em fazer amigos e creio sinceramente que lhes custou mais mudar-se de Lugano para aqui do que Portugal para Lugano. Já cá têm amigos novos, mas o telefone, o Skype e as visitas ajudam a matarem saudades dos amigos que deixaram no Ticino.

 

8. Como foi a vossa adaptação, enquanto família?

Desde que foi tomada a decisão de vir que sempre dissemos que vínhamos para viver e não só para trabalhar, que vínhamos permanentemente e não tínhamos planos para voltar a viver em Portugal, talvez por causa disso a nossa vida familiar nunca tenha mudado grande coisa. Houve períodos mais instáveis quando foi preciso viver em função de horários impossíveis, mas são fases, e aconteceriam aqui ou noutro lado qualquer. A grande diferença que as pessoas notam é que quando vão para fora estão sozinhos, não há pais, mães, avós, primos e amigos para dar uma mão com o que quer que seja, mas isso não era novidade para nós, sempre fomos autossuficientes na manutenção das nossas rotinas e assim continuamos a ser, Home is where your heart is e se estivermos os 4, desculpa, 5 (faltava o gato), estamos bem. Mudarmo-nos para a Suíça também teve outra coisa boa, a geografia. Estar no meio da Europa dá imenso jeito para passear e no que toca a essa parte a nossa vida melhorou muito, coisas como levar os miúdos à Disneyland ficam um bocadinho mais fáceis quando podes meter-te no carro e chegar lá em meio dia.

9. Quais são as maiores dificuldades com que te deparas no teu dia-a-dia?

Acredito que a maior dificuldade é sempre a língua, porque as outras coisas como aprender as normas, o funcionamento das coisas e por ai fora vai muito de se uma pessoa é mais o menos expedita, mais ou menos interessada. No meu caso particular, e espero não ser mal interpretada, a maior dificuldade tem sido fugir da ideia feita do que é um emigrante português. A verdade é que se queres socializar quando estás fora só tens duas hipóteses, ou te dás com as pessoas da tua nacionalidade ou com os locais, o problema é que nós não temos grande coisa em comum com a maioria dos portugueses que conhecemos por cá e no que toca a amizades, a nacionalidade em comum não chega. Por outro lado, os suíços e pessoas de outros países que cá moram costumam ter uma ideia pré concebida de ti a partir do momento em que dizes de onde vens, e para ser honesta, essa ideia implica muita vezes (e automaticamente) que os teus interesses são futebol, bacalhau e férias na terra em Agosto. Eu sou praticamente vegetariana e nem sequer sei em que equipa joga o Cristiano Ronaldo, por isso já estás a ver!

 

10. Se tivesses que dar um conselho a alguém que esteja a pensar emigrar para o país onde vives, o que dirias?

Relativamente à Suíça diria que este não é um país para se vir á aventura, ou se vem com trabalho certo ou é melhor não arriscar, diria a quem conseguir vir que venha com vontade de cumprir as regras, das mais simples às mais complexas, porque é daí que vem grande parte da qualidade de vida do país. Diria ainda que emigrar não é fácil, é precisa muita força de vontade para superar todas as barreiras do dia-a-dia, é preciso reaprender a fazer tudo, ir ao médico ou ao supermercado passam a ser tarefas complexas e tudo é novo. Eu trouxe poucas saudades e vim porque quis muito, mas sei que é ainda mais difícil quando se vem porque tem mesmo que ser, porque é a única alternativa. No fundo, e isto serve para qualquer lado, diria a quem quer emigrar que vá com o coração aberto, que vá disposto a integrar-se na sociedade do país para onde vai, que olhe para ele como uma casa e não só como um trabalho temporário, porque mesmo que seja para um dia voltar, ter o coração noutro lado não ajuda em nada a viver-se feliz todos os dias.

[Muito, muito obrigada, Cíntia!]

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Mães pelo Mundo - apresentação

18.11.13

Lembram-se de, aqui há tempos, vos ter pedido contactos de mães portuguesas que estejam a viver fora de Portugal? Pois bem, chegou a altura de explicar de que se trata.

Este nosso bonito país já viu melhores dias e, força das circunstâncias, há cada vez mais gente a emigrar, a ir lá para fora à procura das oportunidades que aqui já não existem. Dei por mim a pensar nisto: se eu quisesse emigrar agora, tendo filhos pequenos, o que é que eu saberia acerca do país que escolhesse? Muito, sem dúvida: informação oficial é coisa que não falta. Mas... e casos práticos de gente na mesma situação que eu? Foi por isso que pensei que seria interessante ter por aqui uma rubrica semanal, a que chamei "Mães pelo Mundo" (nome assumidamente decalcado do "Portugueses pelo Mundo", da RTP), onde vou apresentar mães que emigraram. O que vão poder ler são as entrevistas que fui fazendo e onde se contam casos reais, onde se fala do melhor e do pior, do que é bom e do que é complicado.

Já tenho algumas entrevistas feitas mas faço novamente o apelo: se conhecem mulheres (com filhos) que tenham emigrado, avisem-me. Quero muito poder ter aqui entrevistas dos quatro cantos do mundo! Acho que vai ser giro e... espero que gostem!

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