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A Margarida adora surpresa...
Eu adoro surpresas. A sério. Na verdade nunca tive muitas, mas adoro. Acho que ser surpreendido é das melhores coisas que nos pode acontecer – mas admito que nem toda a gente fique tão entusiasmado com o desconhecido como eu. Por exemplo, sou incapaz de ver um presente de Natal antes do dia 24. Adoro guardar tudo o que me dão, embrulhado, e nem sequer tento descobrir o que é – há excepções quando os embrulhos são estranhos!!:) – porque adoro a surpresa da noite.
Adoro que me levem a jantar a lugares que não conheço, que me ofereçam bilhetes inesperados, e aposto que adoraria que me organizassem uma festa surpresa – não, isto não é um pedido. Este ano vou passar o aniversário fora. Está tudo bem ;)
Este gosto faz com que adore organizar festas surpresa para as pessoas. Adoro. Nada me dá mais gozo do que organizar uma super festa, fingir que não vai acontecer algo de especial e ver a expressão do surpreendido na hora certa. Já ia matando o meu marido do coração, já vi pessoas a recuar três passos, já vi amigas ficarem todas a tremer. Já levei os meus pais à Opera de surpresa uma vez, com eles a refilar o caminho inteiro – acho que lhes disse que íamos a uma loja qualquer. A expressão de enfado do meu pai e a de irritação da minha mãe desfizeram-se no final do primeiro acto, depois de terem entrado no Teatro um pouco a contragosto. Adoro que as surpresas façam as pessoas felizes. Adoro poder encontrar pessoas inesperadas para fazer surpresas e pedir ajuda de toda a gente. Por exemplo, oferecemos há um tempo um jantar em pleno Rio de Janeiro a uns amigos nossos. Estava tudo programado por uma amiga carioca. “Só tu é que farias uma coisa destas” é, possivelmente, a frase que mais gosto de ouvir.
Gosto realmente de surpreender as pessoas. E adoro ser surpreendida. Ainda sabendo que não é fácil – sou demasiado atenta. Mas lembro-me que quando o João me pediu em casamento, por exemplo, fiquei tão contente [e aparvalhada] por ter sido surpreendida que quase me esquecia de lhe responder.
Adoro, adoro, adoro surpresas. Se eu pudesse, era surpreendida todas as semanas e arranjava uma surpresa todas as semanas. Mas depois talvez se tornasse um pouco óbvio. O que era uma pena. Porque eu gosto mesmo mesmo!
[Já eu... bom, o meu lado da história está aqui...]
Verso - a opinião da Margarida
Compreendo-o em três situações. Violação. Risco de vida para a mãe. Malformação do feto. Por principio!, sou contra. Não o considero uma questão de "liberdade de escolha", de "eu é que decido o que fazer com a minha barriga". Não consigo.
Também não acho que deva ser criminalizado - conheço pessoas que o fizeram e, embora discorde delas, não deixam de fazer parte da minha vida. De ser minhas amigas. Porque sei que o não fizeram de ânimo leve- e não!, isso não desculpa nem justifica mas ameniza a minha estranheza.
Custa-me, sinceramente, olhar para uma gravidez e considerar que só a mulher tem direito a decidir sobre ela: quem sou eu para 1) passar à frente do pai; 2) decidir matar um ser indefeso - e não vamos entrar na discussão sobre se é um bebé!, um monte de células ou coisa alguma. Nunca vamos chegar a conclusão nenhuma totalmente unânime sobre isso. Para mim é um bebé desde a concepção.
Sou realmente contra o aborto. Por principio. Como sou contra um homicídio premeditado. Não se é ou não a mesma coisa. Se podem ou não ser comparáveis. Sei que sou contra. E que a minha sensação de estar certa se adensa quando leio as notícias sobe o número ridículo de abortos que algumas mulheres praticam - como se fossem contraceptivos. Sei que sou contra o facto de pagar por eles, e de dar a uma mulher que aborta o mesmo tempo de baixa paga que a uma mulher que foi mãe - que sentido faz isso?
Sou contra, não o "direito de escolha" mas contra uma decisão que para mim é realmente acabar com uma vida. O direito de escolha começa - tem que começar - antes. Quando se tomam todas as precauções para não ter que o "sacar" quando já há um bebé - lá está!, para mim é um bebé.
Sei também que nunca tive que pensar, pessoalmente, sobre isso. Mas muito sinceramente? Duvido fortemente de que a minha opinião de alterasse.
[E a minha opinião, aqui.]
Verso - da Margarida
Quanto eu tinha oito ou nove anos pedi à minha mãe para entrar para os escuteiros. Durante dois anos tinha resistido à ideia – “A sério? Dormir no chão? – mas depois de visitar um Acampamento Nacional (ACANAC) em que as minhas duas irmãs participavam rendi-me às evidências: aquilo era muito mais que dormir no chão.
A minha experiência de campismo sempre foi a do selvagem: se fiquei uma ou duas vezes em parques de campismo foi muito. Mochila às costas, tendas e roupa para cinco (ou dez) dias e lá íamos nós, dormir ensanduichados numa tenda, durante o Inverno, e dormir ao relento, se preciso fosse, no Verão.
Os acampamentos tinham todos uma logística e uma ordem muito própria: chegar, despir a farda, montar a tenda. Estender os sacos-cama, fazer as construções. Se fosse um acampamento grande haveria chuveiros – e banhos em equipa… -, se não, banho de jerrican, ao frio – “O frio é psicológicos, o frio é psicológico, o frio é psicológico”, repetíamos enquanto sentíamos o sangue gelar nas veias – com a ajuda dos amigos que nos atiravam água pela cabeça abaixo.
Partilhei, em praticamente todos os acampamentos de Inverno, o saco-cama com a Francisca. Era a única forma de nós, miúdas friorentas até mais não, conseguirmos dormir uma noite de jeito. Aquilo implicava alguma logística e dava cabo das costas, mas sabe Deus como, conseguíamos caber as duas num saco-cama individual. No Verão, quando os dias começavam demasiado cedo, o truque era desaparecer dentro do saco-cama e fingir que continuava a ser de noite e que podia dormir mais uma hora ou duas.
Fui escuteira durante dez anos. Aprendi a tomar banho decentemente junto de outras pessoas e de fato-banho vestido; aprendi a dormir em cima de pedras, a fazer comida na fogueira, a fazer xixi a vinte passos da tenda se fosse de noite, a fazer caminhadas de 24h só com uma carta topográfica e uma bússola, a usar apitos e lanternas para pedir ajuda, a não me queixar e a chegar invariavelmente exausta mas felicíssima a casa. Todos os anos , acampava, pelo menos: no Carnaval, na Páscoa, no Verão – o grande acampamento) e no Natal. Fora um ou outro fim-de-semana em que também íamos. Foi assim durante cerca de treze anos.
Adorava acampar e sentir o cheiro do eucalipto fresco – e o sabor, quando caía dentro do arroz. Adorava a fogueira nas noites de fogo de conselho, as músicas cantadas ao luar, a mística de uma noite em campo. Adorava vestir os casacos dos outros quando estava a congelar, na certeza de que estava com, mais do que com amigos, com irmãos.
Tenho saudades de acampar. Tenho saudades, na certeza de que hoje não me sentiria tão confortável em campo como naquela altura. Mas tenho saudades. E aposto que quando os nossos filhos nos pedirem – e vão pedir, porque nós fomos os dois escuteiros, bem como as tias… - tenho a certeza de que vou com eles. Mas não para um parque de campismo. Vou com eles para o meio de um pinhal ou de um eucaliptal ensiná-los a fazer uma mesa, a cozinhar num campingás – que agora não se podem fazer fogueiras – e a contar histórias bonitas ao luar. E vou odiar o dia em que voltarmos a casa, cheios de dores nas costas pelo terreno que nos esquecemos de limpar antes de montar a tenda. Por falta de prática.
[E a minha falta de amor pelo campismo, aqui.]
Verso - as preferências da Margarida
É automático. Assim que entro no carro a minha mão nem precisa que o meu cérebro ordena: o indicador pressiona o botãozinho da M80 e lá vou eu a ouvir as melhores músicas dos anos 70, 80 e 90 até casa. Claro que nos dias em que estou mais cansada ou triste escolho a Smooth. Mas normalmente essa é só para viagens maiores, em que preciso, por alguma razão, que a cabeça descanse e o corpo descontraia de um dia mais difícil.
Basicamente, sou uma velha. Sou. As minhas amigas gozam comigo, mas é assim que funciona: eu sou muito mais M80 e muito menos RFM. No máximo ando pela Comercial mas mesmo assim, é natural ficar farta ao fim de um tempo...se calhar nasci no ano errado, sei lá eu. Mas acho verdadeiramente que as músicas há 20 ou 30 anos eram mais giras que as de agora. A mim dizem-me mais. Não conheço metade das músicas novas que aparecem, acho péssimos metade dos hits que fazem sucesso Verões inteiros, e sou o arquétipo da amiga idiota que não conhece metade das músicas que passam numa discoteca quando vamos sair - pouco também, que, again, sou uma seca de pessoa que prefere ficar em casa, ok?
É ver-me a ouvir Abba e a saber as letras todas. Ou GNR. Ou Velver Underground. Ou The Doors. Agora, não me peçam para cantar o novo hit de Janeiro, ok? O que querem que eu faça? Tenho irmãs dez anos mais velhas e tornei-me extremamente permeável a músicas que, sinceramente, acho melhor. Melhor nem é o termo: é música que me diz mais coisas que as músicas da RFM. Matem-me por isso :)
No fundo, é difícil fazer viagens comigo. Vão ter que ouvir M80 ou Smooth FM a viagem toda, excepto à hora certa - aí mudo para a TSF e oiço as notícias. Sim, sou uma velha. Fazer o quê em relação a isso?
(Esqueci-me de mencionar que também gosto de ouvir a Antena 2 se estiver muito muito aborrecida.)
[E as minhas rádios, aqui.]
Verso - o aniversário da Margarida
Acho que nasci numa quinta-feira. A minha mãe estava em casa de uns amigos, entrou em trabalho de parto e em cerca de duas horas eu já tinha nascido. Sempre fui assim, despachada. Demasiado despachada, às vezes. Nasci na Primavera, demasiado perto da Quaresma, mas demasiado longe do Domingo de Páscoa: já passei uns quantos aniversários à quinta ou sexta-feiras santas [e para quem, como eu, é católico e vive o tríduo Pascal a sério, isto é uma seca] mas nunca consegui fazer anos no Domingo de Páscoa. O que é uma seca.
Isto faz com que eu ache que o meu dia de aniversário é maaaais ou menos igual aos outros todos, com a vantagem de que somos o centro das atenções – perdoem-me, mas eu sou carneirinha. Ser o centro das atenções é algo que me importa mesmo quando tento que não importe. Sempre fui às aulas, e acho que só houve um ano em que não trabalhei no meu dia de aniversário. Gosto de chegar e de receber abraços e beijinhos e parabéns. Gosto que o meu telefone toque durante todo o dia e de receber mensagens de pessoa que achava que nunca se lembrariam de mim [é certo que o Facebook ajuda, mas ainda assim…]. Gosto de ter mimos durante o dia, seja em forma de email, de visitas inesperadas ou de simples telefonemas. Gosto. Gosto de fazer aniversário.
Há anos que me lembro de celebrar esse dia com os meus amigos. Os mais próximos, mas muitos, ainda assim. Há dois anos, estando em viagem, decidi celebrar no regresso, com duas festas: um jantar com os amigos de infância e um lanche com os outros todos. No ano passado enchi a casa com mais de vinte pessoas e fiz uma festarola com pratos e copos de plástico, comida caseira simples feita por mim e um bolo com o selo da irmã mais velha. Não me interessa ter uma festa muita elaborada. Interessa-me ter por perto as pessoas que me são importantes.
Este ano vai ser exactamente a mesma coisa: virei trabalhar no meu dia de aniversário, tentarei sair mais cedo e depois vou passar o final de semana fora, com a pessoa com quem construi uma nova família. Vai ser um bocadinho diferente, mas vai ser o meu aniversário como gosto dele: com pessoas, com aqueles de quem gosto, com trabalho, com normalidade. Mas não duvido de que vou sentir saudades de juntar toda a gente para celebrar comigo mais um ano. Aliás, tenho a certeza de que vou voltar e pensar se não deveria organizar um jantar tardio de aniversário para poder agradecer às pessoas estarem sempre na minha vida…
[E as minhas celebrações aqui.]
Verso - da Margarida
Não gosto de tatuagens. Nem pequenas, nem grandes, nem médias. Coloridas ou a preto-e-branco. Não gosto. Não digo que não haja pessoas que não fiquem engraçadas com algumas – dispenso tudo o que tenha a ver com proximidade do rabo ou que ocupe as costas inteiras – mas raramente me passou pela cabeça fazer uma.
Das raras vezes que isso aconteceu, foi porque passei por alguém que tinha uma especialmente bonita e que lhe assentava especialmente bem.
Na verdade, não percebo muito bem o que se tenta fazer quando se faz uma tatuagem – e isto não é uma crítica, é uma confissão. Gravar poemas na pele? Nomes de pessoas? Homenagens aos filhos? É preciso escrevinhar isso na pele? Estrelinhas nos pulsos ou nos tornozelos não podem ser substituídos por acessórios que se tiram?
Juro que não percebo. E talvez por isso tenha tanta aversão a tatuagens. Por isso e por o meu querido pai ter feito uma tatuagem pavorosa quando estava na Guerra, em África. Uma tatuagem que o envergonha tanto que anda sempre escondida e que até se vê o olhar de sofrimento do senhor quando vai à praia e tem que tirar a t-shirt.
Não entendo – verdadeiramente – o que leva alguém a escrever ou desenhar algo na pele. Para sempre. E depois penso sempre no que será daquela pele daqui a 50 anos: é que uma tatuagem numa pele esticadinha é uma coisa. Mas quando vejo pessoas de setenta anos com borboletas derretidas e estrelas que mais parecem cometas confesso que volto a não entender por que não se lembraram de que a velhice também afecta o que temos gravado na pele.
E o sentido? Não se perde o sentido daquilo que se desenha? Conheço tão boa rapariga que achou lindo tatuar golfinhos nas costas – lembram-se da época dos golfinhos? – e agora morre de vergonha. A minha prima, por exemplo, fez uma tatuagem enorme há uns anos. No ano passado, para além de a tatuagem já estar a esmorecer, aquele desenho não lhe fazia já lá muito sentido. E portanto, toca de fazer outra por cima. Ela gosta. Mas what’s the point, se afinal ao fim de uns anos deixamos de gostar de uma coisa que nos está marcada na pele para sempre?
Também conheci uma miúda que tatuou nas costas o nome do namorado. Querem que vos diga como a história acabou? Pois. Ela ficou com a tatuagem e ele foi à vida dele…e portanto agora, a menos que arranje um namorado com o mesmo nome, não estou a ver como se vai safar desta.
Eu sei que nem toda a gente desenha nomes ou golfinhos e afins. Mas são estes casos que me fazem pensar que dificilmente eu quereria alguma vez ter uma tatuagem. Porque não me estou a ver, aos 70 anos, a achar graça nenhuma a ter o que seja escrito na minha pele. Vai ficar ridículo. Na verdade aos 40 já vou achar ridículo. O que dá um tempo muito limitado de sucesso às pequenotas que poderiam ser gravadas na minha pele.
[A minha tatuagem, explicada aqui.]
[A Margarida nos saldos...]
Os básicos.
É para isso que aproveito os saldos – quando os posso aproveitar. Para comprar básicos. Casacos de Inverno. Botas de pele. Boas malas. Camisas brancas. Calças de tecido daquelas de que precisamos todo o ano, para trabalhar.
Gasto, nos saldos, mais dinheiro do que no resto do ano. Tenho quase a certeza disso. Mas também tenho a certeza de que faço as melhores compras. Um casaco de 100 euros que compro a 50 euros é uma mega compra. O mesmo para os sapatos. Raramente compro coisas que não tenham descontos de, no mínimo, 40%. Acho que só assim vale a pena. E também já aprendi que lojas fazem que tipo de descontos e quando.
Por exemplo: a Massimo Dutti faz sempre 50% de desconto a seguir ao Natal. Mas se esperarem duas semanas os descontos passam a ser de 60%. A Mango e a Zara começam com 20% e 40% mas com atenção – sobretudo aos sites – rapidamente vêem que vão para os 50% em cerca de duas ou três semanas.
“Ah!, mas nunca há o meu tamanho”. Online, minhas queridas (e meus queridos!). É raro entrar numa loja em época de saldos, actualmente. A menos que esteja vazia! Os sites são os meus melhores amigos: para além de terem a maior parte dos números e dos modelos, os descontos são os mesmos e posso ir buscar toda a embalagem à loja, sem ter que andar no meio da confusão, e sem pagar portes [tendo em conta que trabalho em frente a um centro comercial, ir buscar à loja não é um problema].
Nos últimos dois anos, sobretudo, aproveitei imenso os saldos. Tanto de Inverno como de Verão. Comprei boas camisas brancas, boas calças de tecido, sapatos e botas de pele, trench-coats, sobretudos, malas novas, casacos de boa malha…
Coisas que no dia-a-dia fazem toda a diferença, mesmo que sejam misturados com peças mais baratas, como as da Primark que abundam no meu roupeiro. Mas sou, assumidamente, uma aproveitadora total dos saldos. Em todas as estações do ano!
[E eu, também nos saldos!]
Verso - O (re) início da Margarida
Eu não faço resoluções de Ano Novo. Nunca tive por hábito fazê-lo e, sinceramente, não me faz muito sentido. Aliás, este ano, o primeiro que passámos casados, quando passei no escritório, dei por mim a sorrir ao ver a folha das resoluções do João. A sorrir de compreensão mas a pensar, na hora, “realmente isto não é para mim”.
Eu não sou uma pessoa de planos a longo prazo. Nem a médio, na verdade. É-me muito difícil fazê-los, embora gostasse de ser capaz. Mas sou demasiado impaciente para isso. Demasiado enérgica. Quando faço uma resolução começo a cumpri-la e ela tem que estar terminada entretanto. O que é uma pena, porque acho que fixar objectivos a longo prazo nos ajuda a focar no que realmente queremos. Mas comigo não dá…Eu funciono, por norma, da seguinte forma: sei o que quero. Sei mais ou menos de que preciso para as conseguir. E depois faço por isso. Sem grandes resoluções. Sem grande pressão. Porque fui aprendendo que a pressão não me ajuda.
E vou fazendo isso ao longo do ano, quando vou sentindo necessidade, e não no dia 31 de Dezembro. Geralmente essa é a altura em que aproveito para pensar sobre tudo o que aconteceu e para agradecer o que a vida me trouxe. Claro que, como em qualquer aniversário ou ocasião
especial, tenho desejos que gostaria de ver realizados. Mas nos últimos anos têm sido sempre os mesmos: serenidade, sorrisos e força. O resto vem por acréscimo. Com trabalho e com dedicação. E isso não são resoluções que se possam fazer no ano novo. São resoluções que tenho de cumprir todos os dias, no matter what.
Acho curioso que as pessoas façam listas. Que se comprometam com algo. Que acreditem que o dia 1 de Janeiro vai mudar algo nas suas vidas e que vão conseguir fazer coisas que até ali não foram capazes de fazer. Acho mesmo. Mas eu não sou assim. Comigo não funciona. Mas fico verdadeiramente feliz com quem as consegue cumprir. Porque eu não conseguiria. Por isso peço apenas força para que consiga ir fazendo e cumprindo as pequenas resoluções do meu ano. Até agora tem resultado. Mas sabe Deus o que me traz este 2014!
[As minhas resoluções de Ano Novo, aqui.]
Verso - o Natal da Margarida
Há anos que o meu Natal é igual: sempre no mesmo lugar, sempre na mesma casa, sempre com as mesmas pessoas. E sempre maravilhoso. O regresso ao “de sempre” é das coisas que mais prezo. Todos os dias há algo que muda na minha vida, portanto voltar a algo que sabemos constante, mesmo com o passar dos anos, desperta o que há de melhor em mim.
Todos os anos rumo ao Oeste a dia 23 ou 24 – consoante o trabalho. Até às 20h30 de dia 24 a rotina é a mesma: amassa-se o pão, temperam-se as carnes, preparam-se os doces.
Meninas, é preciso pôr a mesa.
Paaaaaai!, é hora de acender o forno.
Meninos, saiam de debaixo dos pés da avó!!
Há discussões constantes, há gargalhadas e há música de Natal trauteada pelos corredores. Ouvem-se as tampas dos fogões de sala a bater, as palhaçadas dos mais pequenos, a televisão aos berros porque a avó não ouve.
Mãe!, vou sair a correr para levar as coisas às meninas – leia-se, às amigas de infância, as únicas que continuam a ter direito a mimos de Natal. Passo na tia M. e vou buscar a Can-Can para ainda não estar frio.
Traz-me mais dois quilos de açúcar que acho que vou fazer mais umas coisas. E manteiga. E ovos E…
É um desenrolar de coisas necessárias e de trabalho que não acaba e de alegria partilhada que um verso de uma página nunca me dariam espaço para descrever a véspera de Natal naquela casa.
Este ano vai haver menos uma criança, menos uma irmã e menos uma avó, que o Natal obriga a estar com todas as partes da(s) família(s) e às vezes não dá para juntar tudo. Mas este ano vai haver também mais um marido e mais uma sogra. Que as famílias crescem e não há melhor do que ter casa cheia ainda que as pessoas não sejam as mesmas mas sejam igualmente importantes.
E eu tenho uma sorte tremenda e mesmo com uma família nova – a nossa – vou poder continuar a passar o Natal como sempre passei: em minha casa, com as minhas pessoas, em ambos os dias.
No meu Natal não há correrias entre festas em casas diferentes. A partir das 20h30 do dia 24 – quando nos sentamos para comer o bacalhau da Consoada – o meu Natal é um sossego. Há os presentes com um monte de gargalhadas. Há a roupa nova para a Missa do Galo. Há os desejos de Boas Festas nos zero graus que costumam estar à saída da Igreja. Há a Ceia de Natal cheia de coisas boas feitas no forno a lenha e no fogão e em tudo o que aqueça naquela casa. E há amor e histórias e gargalhadas e cansaço acumulado. E descanso. Há muito descanso. Porque no dia 25 a comida chega, quentinha, e nós enroscamo-nos de barriga cheia, no sofá, a agradecer a casa quente, a mesa farta e a presença uns dos outros.
Até ser hora de voltarmos às respectivas casas, de carro e coração cheio. Até ao Natal do próximo ano, que será exactamente igual. E por isso mesmo, tão bom!
[E o meu Natal aqui.]
Verso - pela Margarida
Ainda nunca os contei decentemente. Sei, por alto, quantos tenho, mas adio a contagem porque sei que no fundo estou em negação. Acho, racionalmente, um exagero, mas a verdade é que vou arranjando as melhores desculpas para mais um par: ou porque não tenho exactamente esta cor; ou porque estão muitos baratos; ou porque claramente os que tenho parecidos estão a ficar velho; ou porque realmente têm que se aproveitar os saldos…
Enfim. Gosto de comprar sapatos. Gosto de ter sapatos de várias cores, de vários modelos, de vários tecidos. Tenho sapatos para trabalhar e sapatos para o final de semana. E ainda os sapatos para as festas. Tenho sapatos abertos e fechados, rasos e com saltos, botas de cano alto e de meio cano, de camurça ou de pele.
Adoro sapatos de salto alto. Geralmente têm que ter no mínimo 5cm, embora possa abdicar disso no caso de serem sapatos para usar todos os dias e com os quais precise de andar mais do que 300 metros. Não troco de sapatos a meio do dia nem a meio das festas. Sapatos que calço de manhã são sapatos que tiro somente à noite; sapatos que escolho para uma festa, um casamento, um baptizado andam comigo o dia inteiro, não importa se me doem os pés ou não. Os sapatos não têm que ser somente confortáveis. Têm que ser bonitos. Têm que ter algo de nós neles.
Para mim uns sapatos bonitos fazem toda a diferença num visual. Ou porque são simples como o visual extravagante exige ou porque são extravagantes como o visual simples exige. Às vezes acho que é um exagero – ainda no outro dia pus uns dez pares de sapatos que já não uso de lado, para dar. Outras vezes olho, por exemplo, para os sapatos de vela (yep, também uso sapatos de vela) que têm dez anos e penso que foram um óptimo investimento. Tenho botas e sapatos de salto exactamente com a mesma idade. Que não só revelam que efectivamente a moda é cíclica como confirmam que os bons investimentos valem a pena, porque podem durar uma vida.
No meu armário, ao lado sapatos dourados com 10cm de salto estão All Star beringela, ténis pretos ou sabrinas castanhas listas. Ao lado dos quais estão sandálias brilhantes, sapatos com asas desenhadas ou botas simples de pele.
Adoro sapatos de autor – Christian Louboutin está no meu top of the top – e se pudesse teria efectivamente um closet com todos os sapatos que me apetecesse comprar. Em exposição, para me lembrar de que os tenho e para os poder ver. E para me lembrar de que são investimentos. Que às vezes, para ter um par de sapatos de que gosto, prescindo de jantares ou almoços fora. De finais de semana. De roupa. Mas que essas opções me fazem todo o sentido. A mim, que sou louca por sapatos.
Não tenho um closet. Não tenho os sapatos todos com que sonho. Não tenho todos os que me apetece comprar. Mas tenho muitos, é certo. E tenho alguns muito especiais. Se isso me faz uma pessoa feliz? Não, por si. Mas contribui bastante, I must say… =)
[O meu cardápio de sapatos, aqui.]
Verso (da Margarida)
Deserto. Fazendas do tamanho do mundo. Cangurus. Um mar a perder de vista. O outro lado do mundo. Pessoas giras, altas. Desenvolvimento, cultura, bom tempo. O outro lado do mundo. Surf, areia branca, povoações isoladas, animais selvagens, cenários de filmes…
Podia continuar aqui a debitar tudo aquilo que me encanta na Austrália, mas duvido de que o verso de uma folha chegasse para tal. Austrália é a minha viagem de sonho. Tenho uma curiosidade imensa por conhecer o outro lado do mundo, que parece tão parecido mas é ao mesmo tempo tão distante do que conhecemos do lado de cá!
Estar perto de povos com uma cultura tão diferente, mas que nem está tão distante da nossa quanto parece.
A Austrália é, para mim, o país de todos os sonhos. Onde tudo pode ser possível, onde a vida é maravilhosa, mesmo que haja tubarões na água. Sempre quis perceber como se vive num País tão grande, civilizado, criado por prisioneiros ingleses e que se transformou num modelo mundial em tantas coisas.
Um país onde as mais terríveis cheias de há dois anos mataram meia dúzia de pessoas apenas porque tudo funciona bem. Porque se protegem do mercado arrasador mas sem deixar de quererem ter a trabalhar para si os melhores do mundo.
A Austrália é ó país das cores maravilhosas [creio eu!], dos odores fantásticos, das pessoas bem-dispostas, da qualidade de vida. Se calhar a Austrália não é nada disto, mas enquanto eu não a for conhecer, ela vai ser para mim isto e muito mais. Agarrar nas malas e ir pelo menos três semanas, na melhor companhia, para o outro lado do mundo conhecer cangurus não me podia soar melhor!
Não sei se algum dia conseguirei realizar este sonho. Mas vai ser um dos objectivos da minha [ainda curta] vida. Porque se viajar é o melhor do mundo, podermos ir aos lugares que realmente amamos – mesmo que só em sonhos – é uma sensação de realização que não pode ser comparada a mais nada na vida!
Já realizei uma das viagens de sonho (NYC) e não me desiludiu. Quando era miúda, Londres também era um sonho, que também consegui realizar sem desilusões. Portanto, tenho fé de que consiga também chegar a este! Ainda que seja consideravelmente mais difícil, acredito que também há-de ser mais prazeiroso.
Portanto, se não se importam, torçam por mim! Que tenho uma vida para conseguir ir até lá!
[A minha viagem de sonho, aqui.]
Verso (Margarida)
Eu nunca gastei rios de dinheiro em presentes de Natal. Lá em casa o Natal sempre foi comedido, com a minha mãe a salientar que o mais importante era estarmos todos juntos. Mas claro que havia presentes, escondidos, cheiinhos de carinho. Até porque não havia muito dinheiro, portanto…
Eu, não adorando o Natal enquanto quadra, vivo-o intensamente em termos religiosos. E adoro dar presentes.
Mas não dou presentes por dar – que não há pior do que comprar algo só para dizer que comprámos. Tenho que encontrar coisas que façam sentido para as pessoas a quem os vou oferecer. Durante vários anos apenas comprava presentes para a minha família nuclear – que mesmo assim são dois pais, duas avós, dois sobrinhos, duas irmãs e dois cunhados. No entanto, fechava-me na cozinha durante um dia inteiro para fazer os presentes para as pessoas mais importantes da minha vida: brisas do liz, bombons de chocolate, bolachinhas…dependia do ano e da vontade, mas nunca fugia muito a isto.
Aquilo que mais felicidade me dá é chegar a casa de alguma amiga minha e ela já ter um espaço reservado na mesa da ceia de Natal para o meu prato. Porque o Natal é isso mesmo: fazermo-nos presentes, mesmo que em doces que se comem num instante.
Quando podia, comprava mais uma lembrança ou outra para as minhas amigas mais próximas: adoro fazê-lo. Dá-me mesmo gosto! Mais gosto do que o que me custa ficar sem o dinheiro.
Este ano, por exemplo, comecei a pensar com tanto tempo de antecedência que já tenho os presentes quase todos comprados. Faltam-me dois ou três, sendo que nesse bolo estão os das crianças, que ainda nem sabemos o que vão ser.
De resto, os que não estão comprados já estão pensados, pelo menos. Não são presentes. São lembranças. Porque, tal como a Lénia, também acho que não devemos propriamente endividar-nos para comprar presentes. Claro que geralmente me esmero mais no João ou nos meus pais, mas também porque é de quem, geralmente, recebo os presentes mais a sério.
E já me aconteceu decidir que não vou dar nada mas de repente olhar para coisas e ter que comprar. Porque ficaria tristíssima se não desse aquilo à pessoa em quem penso…é uma maçada. E no Natal, realmente o que me interessa é dar. Nada me faz mais feliz do que ver as pessoas de quem gosto abrirem os meus presentes e gostarem deles. Nada.
[O meu texto, aqui.]
Verso (da Margarida)
Eu cozinho. Não cozinho todos os dias, mas tento cozinhar frequência. Cresci numa casa onde éramos cinco e onde todos os dias a minha mãe se esforçava por inventar receitas novas para cada uma das refeições. Adoro comer em casa e só tenho pena de não ter herdado da mãe o gosto pelo fogão e pelos novos sabores. Aliás, na verdade eu adoro comer. Ponto final. Cozinhar é que me custa mais.
Não é que não goste, quando estou a cozinhar, mas de alguma forma, sabe-me sempre um pouco a obrigação: ter comida feita para haver o que comer. De qualquer forma, não me safo mal: cozinho relativamente bem, até experimento receitas novas, não tenho dificuldades de maior em apurar sabores com bons temperos e pouco sal… não sei fazer sopa (assumo!) e também não tenho o jeito maior do mundo para doces.
Mas o meu arroz branco é impecável – e juro-vos que é difícil fazer um bom arroz branco – e até já fui capaz de cozinhar quatro receitas novas para amigos num dia em que estava particularmente inspirada: saíram todas bem à primeira.
Mas o que eu queria mesmo era poder ter uma Bimby – estamos no caminho para isso – que me fizesse a comida toda sem eu ter que me ralar muito. Adoro a Bimby e as vantagens que aquilo dá: ora carrega no botão e enfia para lá esta quantidade de isto e daquilo, a velocidade é esta e durante este tempo. Sou muito feliz quando uso a dos meus pais e percebo que até sou capaz de fazer leite creme perfeito – sem ter que me esforçar coisa alguma.
Eu sou a cliente ideal de uma Bimby: não tenho gosto em cozinhar mas gosto de comer comida feita em casa. É o bicho perfeito para mim. E não me levem a mal as cozinheiras de mão cheia que adoram ir para a cozinha: dou todo o valor a quem gosta e consegue fazer comida maravilhosa (a minha irmã do meio ficou com toda a nossa herança genética nesse quesito, creio), mas realmente não é a minha onda.
Para além do mais tive uma sorte dos diabos e arranjei um marido que até come Chocapic ao jantar se eu lhe disser que não me apetece cozinhar e não houver nada no frigorífico. Ou seja: nem por obrigação consigo apurar o gosto para a cozinha. Mas tenho pena. Muita pena!
Mas ainda tenho esperança de que um dia, quando for grande, tenha pela cozinha o mesmo gosto que a Lénia tem.
[A minha versão dos factos, aqui.]
Verso - Margarida
Chamarem-me "margarina vaqueiro" deixou de ser um insulto ao décimo dia de aulas. Foi tão repetido até à exaustão que cedo aprendi a desligar e a não sofrer com isso. Foi a única coisa menos boa, aliás, com a qual me lembro de ter tido que lidar. Resolvi-a a de forma muito simples: o Vaqueiro passou a sair do meu nome, e regressou, anos mais tarde, quando comecei a trabalhar –e para que conste, adoro o nome. Ao menos ninguém se esquece.
A minha infância e adolescência foram razoavelmente tranquilas. Eu era uma miúda que não dava nas vistas e das vezes que gozavam comigo era porque tinha os dentes tortos – os meus pais abençoados resolveram isso com um aparelho -, porque tinha o cabelo cortado à rapaz [enfim, coisas das adolescência] ou então porque as maminhas só me cresceram muito depois das minhas colegas.
E não passou disto. Era boa aluna mas não a melhor, não era magra nem gorda, não era suficientemente alta para ser “girafa” nem suficientemente baixa para ser “anã”. Ainda não usava óculos o que me livrou do “caixa de óculos” .
Fui passando pelos dramas do ‘bullying’ como quem passa pelos pingos da chuva – discretamente, sem dar grande crédito, mas sem sofrer muito com isso.
Também acho que dantes era mais fácil fugir-lhe: as crianças eram menos agressivas, os insultos ficavam na escola, vigiados, e em casa a vida voltava ao normal. Atualmente os telemóveis e a internet são veículos perigosíssimos que levam o ‘bullying’ para fora do controlo dos pais e educadores, e que acompanham os miúdos em todo o lugar. São sms, enxovalhamento público nas redes sociais, telefonemas sem controlo…uma quantidade de coisas que nos leva também a empolar insultos que há dez anos não passariam disso mesmo: insultos. Que toda a gente ouvia e com que todos nós lidávamos.
Mas há dez anos os alunos não batiam aos professores, os pais não pediam explicações pelas más notas dos filhos, os filhos respeitavam a autoridade e com sorte, quem insultava um aluno ainda levava um susto do pai (do ‘insultor’ e do insultado) para aprender a respeitar os outros. Eu sou uma felizarda por nunca ter tido problemas de maior. Mas também sou uma felizarda por ter visto que há dez – ou vinte – anos se lidava com a falta de respeito pelo próximo de forma muito mais séria.
Queira Deus que não tenhamos que chegar ao pontos dos EUA onde há um mês uma miúda de 14 anos foi considerada arguida por, pela prática de bullying, ter provocado o suicídio de uma colega. Action, réaction.
[O meu lado da história, aqui.]
Verso (o texto da Margarida)
Verso
Quando a crise começou, mesmo a sério – portanto, em 2009 – eu não vivia em Portugal. Na altura estava no Brasil, a assistir a tudo de fora. Na altura, sempre que falava para cá, diziam-me para eu não voltar. “Na nossa área não há trabalho”. Fiz os planos nessa perspectiva: vinha cá, defendia a minha tese de mestrado, regressava ao final de dois meses e ficava por lá [I wish!].
Regressei a Lisboa, duas semanas depois fui chamada para uma entrevista e no dia seguinte à defesa da minha tese comecei a trabalhar. Passei quase quatro anos no mesmo lugar, com direito a um ou dois aumentos – nada de especial, é certo, mas mostrava-me que não podíamos estar assim tão mal. Fazia as minhas duas viagens por ano – é mentira. Houve anos em que fiz cinco – e conseguia aguentar-me.
Os impostos aumentaram, o meu rendimento disponível baixou e eu continuei a complementar o meu salário com trabalhos de free-lancer. Ainda hoje o faço. Há semanas em que trabalho doze horas por dia…é uma seca? É. Mas estou sempre focada. E por isso continuei a fazer as minhas duas ou três viagens por ano – é um vício, sim. Enquanto as conseguisse fazer estava tudo bem.
Este ano o cenário começou a ficar um pouco mais negro. Mais subida de impostos e eu a passar a ganhar o mesmo que em 2010. E de repente, uma nova proposta. Que resolvi aceitar, não apenas por razões monetárias. No início do ano fiz uma das viagens da minha vida, durante a nossa lua de mel, e tinha outra grande programada. Não deu, porque entretanto tivemos uma quantidade de revés na nossa vida. No entanto, acabou-se o ‘sufoco’ mensal das contas. Do salário que parecia que estava a acabar ainda o mês ia a meio. E sim, para mim jantar fora, comprar uma peça de roupa ou marcar uma viagem podem fazer, felizmente, parte das ‘despesas fixas’.
Por exemplo, este mês vamos a lugares muito giros. Estamos a planear coisas ainda mais giras no próximo mês. Se a crise nos afetou? Sim, claro. Mas somos uns abençoados, e felizmente a vida foi-nos ajudando a dar a volta. E sim, não temos filhos – o que é uma grande diferença no orçamento – e podemos fazer das viagens e dos passeios as nossas prioridades. Se podemos cortar nelas? Sim, mas preferimos cortar em jantares fora ou em concertos do que em viagens. Porque elas nos fazem querer mais e ser mais. Na verdade, fazem-nos abrir os olhos para todo um mundo que não nos chega a este pequeno Portugal, queiramos ou não.
Abre-nos horizontes, dá-nos tempos, dá-nos sabedoria, dá-nos vontade de ser melhor. Por isso, sim, o nosso orçamento anual vai continuar a contemplar viagens nas despesas fixas assim nos permita a vida. E graças a Deus – e ao nosso muito trabalho, não tenho dúvidas – temos sido uns afortunados.
[A frente sobre este tema, aqui.]
Frente & Verso
“Facto: amamentar é tão natural quanto assoar o nariz, coçar as costas ou bocejar”. Eu não faço qualquer uma das três últimas coisas sem ter algum recato. Tento assoar-me na casa de banho – a menos que esteja absurdamente constipada e passe o dia de lenço no nariz – não coço as costas na presença de ninguém e não bocejo sem por a mão à frente. Posto isto, a amamentação vem exactamente nesse seguimento: amamentem à vontade mas não me façam assistir.
Estar numa sala de espera e de repente olhar para a frente e ver uma mama que não conheço a saltar cá para fora para alimentar um bebé que também não conheço incomoda-me. De verdade. Eu não quero ver. Sim, amamentar é natural, mas fazer xixi também e eu não faço à frente de toda a gente. Porque acho – eu, que nunca amamentei – que tem o seu quê de íntimo (como o xixi, lá está).
Quando as minhas amigas que já são mães ou as minhas irmãs amamentaram ao pé de mim, não me recordo de uma vez em que não lhes tenha pedido para se taparem. Não quero ver. Não acho bonito. Não acho que tenha que ver. Não estou confortável com a situação. Aliás, acho mesmo feio. As mamas de uma pessoa quando está a amamentar parecem, sem tirar nem por, as de uma vaca. Desculpem. Mas parecem. Estão enormes, disformes, e feias. Lamento.
Se for eu a amamentar desconfio de que o desconforto vai ser o mesmo – eu não quero pessoas a olhar para as minhas mamas. A sério. Não quero. Só a ideia repugna-me. Não é por mal. É porque realmente acho dispensável. E cada vez vejo mais fotografias e textos e filmes com mães de mama de fora a alimentar bebés com o intuito de mostrar como amamentar é normal. E fico incomodada. Porque se é normal, não deve ser usado para mostrar que o é – faz sentido? Use-se uma fralda. Vá-se para o quarto. Seja-se discreto. Por favor. É só isso que eu peço. Porque eu nunca quero olhar. Mas quando as imagens ou as mamas, elas próprias, estão à minha frente…bom, torna-se difícil ignorar, não é? Blhergh!
[A Frente - ou seja, a minha parte - desta crónica está aqui.]
Conheci a Papel graças à Margarida e conheci a Margarida graças à Papel. Confuso, eu sei. Mas foi mesmo assim: foi através do blog da Meg que fui ter à Papel e foi através da Papel que me tornei amiga da Margarida. Escrevemos o Frente & Verso durante uns meses, a meias. Para quem nunca leu, a ideia é a seguinte: escolhemos um tema acerca do qual temos opiniões contrárias (e só isto já merecia um Nobel... é difícil "pa caraças"!) e escrevemos.
Com o fim da Papel, chegou o fim do Frente & Verso. Só que tivemos pena de não continuar a escrever as nossas crónicas-a-quatro-mãos e resolvemos recuperar o conceito para os nossos blogs. Por isso, daqui em diante, à quinta-feira, temos Frente & Verso aqui e no Cenas Diversas. A mecânica é esta: eu publico o texto que a Meg escrever, ela publica o que eu escrever. O primeiro, já a seguir. E o tema é polémico...