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Mecogate

24.01.14

Tudo o que se possa dizer, além do que já se sabe, parece-me pura especulação. Só, mais nada.

 

Sou mãe, a coisa que mais pânico me provoca é pensar que posso vir a perder os meus filhos - seja de que forma for - mas o Dux também é filho de alguém. Não consigo olhar para o que se vai dizendo na comunicação social e "culpar" o sobrevivente. Teve sorte - ou talvez não, pode nem sequer ter estado em risco. Mas não sei, perante o que se vai dizendo (especulando) sobre ele, se ele a esta altura não pensará que preferia ter morrido também. Está a ser julgado em praça pública. Está a ser apedrejado porque não fala, não conta o que se passou. Não sei se está capaz ou não. Sei que, no lugar dele, eu não teria coragem nem vontade de falar à comunicação social. Aos pais dos que morreram? Talvez. Mas já pensaram que tudo o que ele possa dizer pode vir a trazer ainda mais sofrimento àqueles pais? Os pais dos que morreram precisam que haja um culpado, precisam de mitigar a angústia de alguma maneira e, dada a crueldade das mortes dos filhos (não consigo imaginar coisa mais aflitiva do que um afogamento), um culpado talvez ajudasse. Talvez precisem de saber que os seus filhos foram obrigados a entrar no mar. Talvez precisem de saber que houve dolo. Talvez precisem disso para deixar seguir em paz os seus filhos, perdidos numa morte certamente injusta, com certeza prematura, inequivocamente estúpida. Eram miúdos com muito por viver. Mas não matemos quem está vivo. Não retiremos ao sobrevivente, ao João, o direito a viver. Não o julguemos sem factos, sem saber o que se passou. O João, como o Tiago, o Pedro, a Joana, a Carina, a Catarina e a Andreia, é filho de alguém. Merece viver. Merece respeito. Também os pais dos que morreram merecem respeito. Certo. Só que nada, explicação nenhuma, justificação nenhuma, lhes trará de volta os filhos. E o João, parece-me, está a ser "morto" aos bocadinhos. E eu não quereria ter um dia que explicar aos pais do João que ele "morreu" porque foi julgado em praça pública, por treinadores de bancada que só sabem o que os jornais contam. Não atiremos pedras. Não julguemos. Deixemos viver quem está vivo.

 

[Todos são inocentes, até prova em contrário. Uma sociedade em que se pense que todos são culpados, até prova de inocência não é uma sociedade livre nem justa.]

 

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1 comentário

De Polliejean a 24.01.2014 às 16:50

É o primeiro comentário imparcial que leio sobre este caso. Parabéns. Tens toda a tazão.

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