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Verso - o Natal da Margarida
Há anos que o meu Natal é igual: sempre no mesmo lugar, sempre na mesma casa, sempre com as mesmas pessoas. E sempre maravilhoso. O regresso ao “de sempre” é das coisas que mais prezo. Todos os dias há algo que muda na minha vida, portanto voltar a algo que sabemos constante, mesmo com o passar dos anos, desperta o que há de melhor em mim.
Todos os anos rumo ao Oeste a dia 23 ou 24 – consoante o trabalho. Até às 20h30 de dia 24 a rotina é a mesma: amassa-se o pão, temperam-se as carnes, preparam-se os doces.
Meninas, é preciso pôr a mesa.
Paaaaaai!, é hora de acender o forno.
Meninos, saiam de debaixo dos pés da avó!!
Há discussões constantes, há gargalhadas e há música de Natal trauteada pelos corredores. Ouvem-se as tampas dos fogões de sala a bater, as palhaçadas dos mais pequenos, a televisão aos berros porque a avó não ouve.
Mãe!, vou sair a correr para levar as coisas às meninas – leia-se, às amigas de infância, as únicas que continuam a ter direito a mimos de Natal. Passo na tia M. e vou buscar a Can-Can para ainda não estar frio.
Traz-me mais dois quilos de açúcar que acho que vou fazer mais umas coisas. E manteiga. E ovos E…
É um desenrolar de coisas necessárias e de trabalho que não acaba e de alegria partilhada que um verso de uma página nunca me dariam espaço para descrever a véspera de Natal naquela casa.
Este ano vai haver menos uma criança, menos uma irmã e menos uma avó, que o Natal obriga a estar com todas as partes da(s) família(s) e às vezes não dá para juntar tudo. Mas este ano vai haver também mais um marido e mais uma sogra. Que as famílias crescem e não há melhor do que ter casa cheia ainda que as pessoas não sejam as mesmas mas sejam igualmente importantes.
E eu tenho uma sorte tremenda e mesmo com uma família nova – a nossa – vou poder continuar a passar o Natal como sempre passei: em minha casa, com as minhas pessoas, em ambos os dias.
No meu Natal não há correrias entre festas em casas diferentes. A partir das 20h30 do dia 24 – quando nos sentamos para comer o bacalhau da Consoada – o meu Natal é um sossego. Há os presentes com um monte de gargalhadas. Há a roupa nova para a Missa do Galo. Há os desejos de Boas Festas nos zero graus que costumam estar à saída da Igreja. Há a Ceia de Natal cheia de coisas boas feitas no forno a lenha e no fogão e em tudo o que aqueça naquela casa. E há amor e histórias e gargalhadas e cansaço acumulado. E descanso. Há muito descanso. Porque no dia 25 a comida chega, quentinha, e nós enroscamo-nos de barriga cheia, no sofá, a agradecer a casa quente, a mesa farta e a presença uns dos outros.
Até ser hora de voltarmos às respectivas casas, de carro e coração cheio. Até ao Natal do próximo ano, que será exactamente igual. E por isso mesmo, tão bom!
[E o meu Natal aqui.]