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Quando eu era miúda, até aos meus 27 ou 28 anos (e agora que digo isto começo a relacionar as coisas), era intempestiva, impulsiva e destemida. Dava-me na telha fazer uma coisa, fazia. Sem medos, sem "ses", sem nada. Era para fazer, fazia e pronto. Depois veio o medo. Comecei a ser muito menos impulsiva, muito mais cautelosa, muito mais medrosa. Medo de falhar, já vos disse aqui há tempos. E se isso tem lados maus, tem outros muito bons.
É o medo que me congela e me faz duvidar de mim - e eu sei que não devia, sei a teoria toda, mas tenho medo na mesma. É o medo que me impede de arriscar mais, que me obriga a dar um passo de cada vez, em vez de desatar a correr. Mas é também o medo de falhar que me faz ser super-perfeccionista e exigente comigo. Eu tenho tanto medo de não estar à altura que, quando faço alguma coisa, faço com todo o empenho.
Os bolos, por exemplo. Comecei devagarinho, sem grandes invenções. Mas como faço questão de fazer o que me pedem acabei por começar a levantar voo e a fazer coisas cada vez mais complexas. O bolo que fiz para a Maria, há quinze dias, mostrou-me que sou capaz - não me entendam mal: eu sei que sou capaz daquilo e de muito mais... mas há o medo a travar-me, sempre - e fez-me perceber que o medo é dispensável. E eu achei mesmo que tinha perdido o medo. Até ter o bolo da Casa do Gil para fazer.
Fiquei a pensar: é o medo que me atira para a frente. É o medo que me faz fazer as coisas com alma. É o medo que me faz não me importar com as horas que passo em pé, a moldar bonecos, a dar vida aos bolos. Quero que saia tudo perfeito, faço tudo com o máximo cuidado, até chegar onde quero. E, neste sentido, o medo é uma coisa boa. Não me permite contentar-me com o mais ou menos, não me permite fazer tudo sem pensar em nada, só por fazer.
Portanto, já sei que sou capaz de tudo. Mas, perante os desafios que vão surgindo, tremo sempre um bocadinho. E isso não tem que ser mau.