Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Valor

06.01.12
Ontem acudi a uma amiga a carecer de ombro. Bebemos um chá enquanto lhe escutei as mágoas. Queria que a ouvisse e que falasse. Ouvi. E falei.

O ex-namorado passou 12 anos a fazê-la sentir que não era suficiente, que devia ser mais do que era, que era menos do que ele. Não era uma coisa óbvia nem constante, mas foi a mensagem que ele passou em pequenos gestos que foi tendo ao longo do tempo. A coisa prendia-se apenas no facto de ele trabalhar num nível altamente corporate e ela ser "apenas" uma mestranda e depois doutoranda (ou seja, trabalha numa universidade, faz investigação mas não está encafuada num escritório das 9h às 17h).
Ela, miúda inteligente e com tudo para dar certo, foi-se deixando minar pela tal mensagem de insuficiência, sem se aperceber.

Há um ano e meio ele resolveu que era o fim. Aproveitou uma ida dela ao estrangeiro, no âmbito da investigação científica dela, para a presentear, no regresso com um "quero-me separar". Nunca disse claramente o porquê daquela separação e seguiu a vida dele. E ela ficou presa no tal sentimento de insuficiência que ele semeou nela.

Ontem, num momento de reality-check, disse-me que continua muito magoada, continua a sentir que não foi suficiente para ele, que não é suficientemente boa, nem suficientemente capaz. E, se a conhecessem, perceberiam o quanto isto anda longe da realidade. E diz ela que se sente extremamente insegura.

Olhando de fora: a tal sementinha que o ex-namorado semeou ganhou raízes. Ela precisa de validação dos outros para garantir ser verdade aquilo que ela vê todos os dias. Ele assumiu, durante toda a relação, o papel de macho-alfa (coisa para merecer o Oscar, só vos digo). E ela, mulher forte, capaz, passou a necessitar de validação externa para viver.

E porque é que vos conto esta história? Para relembrar o que todps sabemos: a pessoa mais importante da nossa vida somos nós mesmos. É a nós que temos que agradar porque, no limite, nós somos as únicas pessoas que, de certeza absoluta, vão viver connosco até ao fim dos nossos dias. Portanto, por muito medo, muita insegurança, muitas pernas a fraquejar que tenhamos, há que não perder o norte e relembrar que sim, temos valor, que sim, somos capazes e que sim, valemos muito a pena. Sem precisarmos que ninguém no-lo diga.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Tags:


19 comentários

De Ana a 06.01.2012 às 09:44

A manipulação é uma cena tramada.
Eu cresci com esse sentimento, até ao dia em que bati com a mão na mesa e me abanei! O que andava eu a fazer-me???
É preciso uma força sobre-humana quase, para, primeiro, reconhecermos que estamos nesse poço da "constante aprovação dos outros". E depois para sairmos dele.
Ter auto-estima não é tão simples e fácil como parece. Ninguém é uma ilha, todos temos de nos relacionar uns com os outros e é neste contexto que nos são perpretados as maiores atrocidades e ataques à pessoa que somos.

De joana a 06.01.2012 às 09:45

Infelizmente, na maioria das vezes, fazemos depender a nossa auto estima, o nosso valor noutras pessoas. Pessoas que respeitamos e amamos muito e por esse têm esse "poder" de destruição. Depois custa a erguer só com o tempo e muita ajuda externa chegamos lá mas acima de tudo com muita força de vontade em ser feliz! (falo porque vive uma experiência semelhante)
Beijinho grande.

De Kyla a 06.01.2012 às 09:53

Não é fácil sermos nós próprios, quando vivemos em constante avaliação da sociedade.
Tudo é imagem e sem querer acabamos por ser vítimas disso.
Sei bem o que sente essa tua amiga, mas muito por culpa minha e só minha.
Bjs

De Fios de Vida a 06.01.2012 às 10:07

Li o texto e não pude deixar de comentar. Cada vez me apercebo mais disso. Independentemente do que a sociedade acha. Porque aquilo que pensamos de nós, passa para os outros. E nós temos que ser sempre nós, bastando-nos no limite. Beijinhos

De Filipa a 06.01.2012 às 10:13

Obrigada, sobretudo, pelo último parágrafo. Também sou um pouco assim - insegura e com necessidade de aprovação por parte dos outros. Percebo a necessidade de ultrapassar isso mas percebo, também, o quão difícil é fazê-lo. Um passo de cada vez! :)

De anf a 06.01.2012 às 10:38

Obbrigada por este texto,
Principalmente o último paragrafo, pois muitas vezes acontece valorizar muito mais a opinião dos outros que a minha, eu sei que é errado, sei que devia mudar , mas não é fácil.

De Cláudia a 06.01.2012 às 10:56

"se não gostarmos de nós quem gostará?"
Uma pessoa que precisa de ser enaltecida para se valorizar tem um problema que precisa de ser resolvido, porque enquanto não for capaz de viver sozinha e de ser feliz sozinha não vai conseguir fazer ninguém feliz.

De Kyla a 06.01.2012 às 11:02

Bom comentário, Cláudia :)

De Kyla a 06.01.2012 às 11:08

Não conhecia este padre, mas diz umas coisas acertadas:
http://www.youtube.com/watch?v=m6HuEucaiQE&feature=related

De Kyla a 06.01.2012 às 11:09

Mais um do padre Fábio de Melo: http://www.youtube.com/watch?v=LooKuyANTQY&feature=related

Comentar post


Pág. 1/2




Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Para vocês





Follow me!






Arquivos

  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2013
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2012
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2011
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2010
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2009
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D