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Há autores que nos prendem pelo coração e não nos largam mais. Foi o que o Chris Cleave conseguiu comigo. O senhor Cleave tem 40 anos, trabalhou em jornais e depois houve um dia que decidiu dedicar-se à escrita a tempo inteiro. Em boa hora o fez!
O primeiro livro que li dele foi "Pequena Abelha": um murro no estômago, uma coisa crua, dura, quase cruel. Mas tão bem escrito que nem a dureza das palavras me impediu de devorar o livro. Isto aconteceu no Verão passado.
Depois, em Abril deste ano, li "Menina de Ouro", o seu mais recente romance. Mesma fórmula: crueza, realidade sem floreados, brutalidade e aquela escrita maravilhosa que é impossível pôr de lado.
Ontem comecei a ler "Incendiário", que é o seu primeiro romance (sim, não os li por ordem e não faz mal, porque as histórias não têm nada que ver umas com as outras). Li mais de metade do livro. De uma assentada. Neste livro ele faz o mais difícil: escreve mal. O livro é uma longa carta dirigida a Osama Bin Laden, escrita por uma mulher que perdeu o marido e o filho num ataque terrorista da Al Qaeda. A senhora assume logo de início que não tem o dom da escrita e mantém-se fiel a isso: não há vírgulas, há frases complexas por estarem mal escritas, mas ao fim de pouco tempo estamos a "ouvi-la" falar e é precisamente através desta característica que ela se materializa e se torna de carne e osso. Hei-de acabar o livro hoje e, a não ser que piore muito, vai ser mais um daqueles livros que ficam para a vida.
Entretanto descobri porque é que gosto tanto dos livros do Chris Cleave: pela humanidade das personagens. Ele não entra em estereótipos, não alinha na regra do herói/heroína. As personagens dele são reais: têm qualidades e defeitos, têm fragilidades, erram, não são perfeitas. São pessoas como todos nós conhecemos. Há sempre personagens de que não gostamos, não porque sejam más (no sentido "evil" da coisa) mas porque são o tipo de pessoa com quem não nos daríamos bem, se existissem.
Li reviews do livro que estou a ler em que se dizia que não se tinha sentido empatia com a personagem principal e que essa era a razão para não se ter gostado muito do livro. Eu estou a adorar o livro precisamente por causa da personagem principal: uma mulher imperfeita, com fraquezas, mas genuína e transparente, o tipo de pessoa que existe na vida real e com quem já todos nos cruzámos.
Resumindo: para mim, ali ao lado do Follett, do Falcones, do Tordo, do Saramago... está o Cleave. Mesmo!