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Para mim,um bom policial tem que ter duas ou três características obrigatórias: ritmo, uma história inesperada (e um final surpreendente) e tem que fazer uso de técnicas policiais de investigação - metam polícias, detectives privados, o que for, mas tem que haver alguém à procura de respostas. Ok, "O Nome da Rosa" é um policial e nem por isso tem polícias - não há polícia envolvida, bem entendido, mas há uma investigação.
Se pego num policial e à décima página ainda não estou agarradíssima (daquele género que é impossível largar o livro), a coisa vai mal. Ok, aconteceu num dos melhores policiais do mundo, "Os Homens que Odeiam as Mulheres", do Stieg Larsson. Mas depois percebe-se para quê toda aquela apresentação da família. E o ritmo da narrativa é suficientemente bom para que não seja uma estopada ler aquilo.
Tudo muito diferente do que este "Em Parte Incerta", até agora, me trouxe. Vou na página 150 e nem vislumbre de "policiação". Ok, há uma mulher desaparecida e podia dar-se o caso de o livro ser sobre as buscas dela. Que pode ter morrido, ter sido assassinada, ter sido raptada ou, simplesmente, ter ido passar uns dias a uma cabana no meio da floresta. Até ver, não se sabe.
O problema deste livro, para mim, é que ele é muito mais sobre as pessoas do que sobre os acontecimentos - e as personagens não são muito interessantes... Atentem: só ainda li 150 páginas, portanto é perfeitamente possível vir aqui amanhã escrever um post sobre quão estúpida fui e dizer que o livro é a oitava maravilha dos policiais. Mas não me parece. O problema é essencialmente estrutural. O livro está construído em capítulos relativamente curtos, todos escritos na primeira pessoa (é uma coisa que não aprecio por aí além, nem neste nem noutros livros), e intercala dois narradores: o marido, Nick, e a mulher, Amy. Há ainda uma divisão em duas partes - ainda vou a meio da primeira parte. A primeira é sobre o desaparecimento dela, a segunda, aparentemente, é sobre o aparecimento. Na primeira, os capítulos da Amy são acerca do passado dela e do marido. A ideia, suponho, é contextualizar tudo o que se passa em torno do desaparecimento dela. Os capítulos dele são sobre os dias que se seguem ao desaparecimento. E chateia-me muito aquele andar para trás na história. Pode ser fundamental - acredito que sim, ou a autora teria ido por outro caminho - mas, até ver, é uma seca.
Desconfio que, no fim, vou estar a defender a minha dama: isto não é um policial porra nenhuma. Será, eventualmente um mix entre romance e mistério, mas um policial... duvido. E ou a coisa muda muito nas próximas 350 páginas ou não sei. Se tivesse que ir agora ao Goodreads avaliar o livro, dava-lhe uma estrela. Talvez o problema sejam as minhas expectativas. Entendam: eu sou apaixonada por policiais, já li dezenas, tenho preferidos, já li uns mauzitos, mas sei identificar os imperdíveis e as xaropadas. Quando vejo meio mundo a gabar este livro, é natural que fique curiosa e que me atire vorazmente à leitura. Expectativas a bater no topo, obviamente. E depois começo a ler e aquilo e... meeehhhhhh... não anda, não tem um gatilho forte, parece uma sopa morna... Altamente desapontada, prossigo a leitura, na esperança de que algo ali me faça mudar de opinião rapidamente. Ainda estou à espera... porque, 150 páginas depois, o mais normal seria já ter desistido. Estou a dar-lhe (me) uma oportunidade. A ver vamos...