Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Um país de putas (e de filhos da puta)

18.10.12

Eu não sei se quem está lá em cima (e não, não estou a falar de Deus) já reparou bem no que anda a fazer ou se, quais burros com palas nos olhos, se limita a ver a curta distância e a observar a realidade dos amiguinhos que, estando também lá em cima, se regem mais ou menos pela mesma bitola e, parece-me, nada disto ainda os afectou.

 

A verdade é esta: este país está sem ar. Olho para as pessoas e só vejo olhares tristes, angustiados. Olhares de quem não sabe se vai ter o que comer a meio do mês, se vai poder comprar meias para os filhos, agora que vem aí o Inverno. Vejo gente desinspirada, desmotivada, sem vontade para nada. Porque nada vale a pena, neste país que nos assassinou, mantendo-nos vivos (e agora lembrei-me do Walking Dead: acho que tem tudo a ver).

 

Não há esperança. Roubam-nos por todos os lados, a toda a hora, com a desculpa da crise e da austeridade e do tem que ser, para pormos de novo o país a andar. Um país que não produz riqueza, que não exporta, não tem por onde andar. Anda apenas de empréstimo em empréstimo, de tranche em tranche, rumo ao endividamento final.

 

Olho para o lado e vejo que as pessoas deixaram de ter por que lutar. Não importa quanto lutemos, com quanta força lutemos: vem a dar no mesmo. Já mal temos para sobreviver, os nossos filhos conhecem uma realidade bem pior do que a que a minha geração conheceu em criança. Não era isto que os nossos pais queriam para nós, não é isto que nós queremos para os nossos filhos. Olho para o lado e o que vejo é uma nação que já não tem nada a perder. E todos sabemos do que são capazes (ainda que apenas em teoria) as pessoas que não têm nada a perder, certo?

 

Por isso, em busca de salvação, as pessoas rendem-se aos esquemas que lhes permitem sobreviver, alimentar os filhos, governar a casa. Não faço ideia de quantas mães terão hoje que vender o corpo para que os filhos possam comer. Calculo que sejam muitas. Muitas mulheres que, vendo o fundo do túnel às escuras, se valem do que têm e se vendem. É isto que este tempo nos está a fazer. Está a criar um país de prostitutas, que são muito mais dignas do que quem nos trouxe aqui, que têm toda a dignidade do mundo em si. Porque elas não têm alternativa, fazem o que podem para que os filhos sobrevivam, como é normal, razoável e expectável. Eles, aqueles que tinham alternativas, escolheram enterrar-nos vivos, sem ar, sem ter como sobreviver. Portanto, e fazendo o paralelismo com a história do que qual terá nascido primeiro, a galinha ou o ovo, neste país as putas nascem porque há uns filhos da puta que a isso obrigam.

 

Eu não consigo mesmo vislumbrar soluções. Já achei que isto se ia resolver. Hoje não acho. Acho apenas que nos mataram a esperança, que nos tiraram a motivação, que perdemos as forças para fazer este país acontecer. E não entendo como é que eles, os que estão lá em cima, ainda não perceberam que precisam de nós, que estamos cá em baixo, para resolver este buraco negro. Sem nós, sem o povo, este país há-de morrer asfixiado. É em nós que está a salvação da crise, porque somos nós que trabalhamos, que produzimos, que fazemos a máquina andar. E o que este governo ainda não percebeu é uma coisa muito simples:

 

Não é com vinagre que se apanham moscas.

 

Portanto parem de nos matar aos bocadinhos. Abram os olhos e arranjem soluções viáveis, que não matem o povo que faz este país andar. Os nossos brandos costumes já foram bem mais brandos e não me surpreenderá muito ver acontecer o que fazem as pessoas quando já não têm nada a perder.

Autoria e outros dados (tags, etc)


10 comentários

De Jo a 18.10.2012 às 15:01

Marianne... não acrescento nada porque me parece que disseste tudo e muito bem.

Comentar post




Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Para vocês





Follow me!






Arquivos

  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2013
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2012
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2011
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2010
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2009
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D