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Eu não sei se quem está lá em cima (e não, não estou a falar de Deus) já reparou bem no que anda a fazer ou se, quais burros com palas nos olhos, se limita a ver a curta distância e a observar a realidade dos amiguinhos que, estando também lá em cima, se regem mais ou menos pela mesma bitola e, parece-me, nada disto ainda os afectou.
A verdade é esta: este país está sem ar. Olho para as pessoas e só vejo olhares tristes, angustiados. Olhares de quem não sabe se vai ter o que comer a meio do mês, se vai poder comprar meias para os filhos, agora que vem aí o Inverno. Vejo gente desinspirada, desmotivada, sem vontade para nada. Porque nada vale a pena, neste país que nos assassinou, mantendo-nos vivos (e agora lembrei-me do Walking Dead: acho que tem tudo a ver).
Não há esperança. Roubam-nos por todos os lados, a toda a hora, com a desculpa da crise e da austeridade e do tem que ser, para pormos de novo o país a andar. Um país que não produz riqueza, que não exporta, não tem por onde andar. Anda apenas de empréstimo em empréstimo, de tranche em tranche, rumo ao endividamento final.
Olho para o lado e vejo que as pessoas deixaram de ter por que lutar. Não importa quanto lutemos, com quanta força lutemos: vem a dar no mesmo. Já mal temos para sobreviver, os nossos filhos conhecem uma realidade bem pior do que a que a minha geração conheceu em criança. Não era isto que os nossos pais queriam para nós, não é isto que nós queremos para os nossos filhos. Olho para o lado e o que vejo é uma nação que já não tem nada a perder. E todos sabemos do que são capazes (ainda que apenas em teoria) as pessoas que não têm nada a perder, certo?
Por isso, em busca de salvação, as pessoas rendem-se aos esquemas que lhes permitem sobreviver, alimentar os filhos, governar a casa. Não faço ideia de quantas mães terão hoje que vender o corpo para que os filhos possam comer. Calculo que sejam muitas. Muitas mulheres que, vendo o fundo do túnel às escuras, se valem do que têm e se vendem. É isto que este tempo nos está a fazer. Está a criar um país de prostitutas, que são muito mais dignas do que quem nos trouxe aqui, que têm toda a dignidade do mundo em si. Porque elas não têm alternativa, fazem o que podem para que os filhos sobrevivam, como é normal, razoável e expectável. Eles, aqueles que tinham alternativas, escolheram enterrar-nos vivos, sem ar, sem ter como sobreviver. Portanto, e fazendo o paralelismo com a história do que qual terá nascido primeiro, a galinha ou o ovo, neste país as putas nascem porque há uns filhos da puta que a isso obrigam.
Eu não consigo mesmo vislumbrar soluções. Já achei que isto se ia resolver. Hoje não acho. Acho apenas que nos mataram a esperança, que nos tiraram a motivação, que perdemos as forças para fazer este país acontecer. E não entendo como é que eles, os que estão lá em cima, ainda não perceberam que precisam de nós, que estamos cá em baixo, para resolver este buraco negro. Sem nós, sem o povo, este país há-de morrer asfixiado. É em nós que está a salvação da crise, porque somos nós que trabalhamos, que produzimos, que fazemos a máquina andar. E o que este governo ainda não percebeu é uma coisa muito simples:
Não é com vinagre que se apanham moscas.
Portanto parem de nos matar aos bocadinhos. Abram os olhos e arranjem soluções viáveis, que não matem o povo que faz este país andar. Os nossos brandos costumes já foram bem mais brandos e não me surpreenderá muito ver acontecer o que fazem as pessoas quando já não têm nada a perder.