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Quando comecei a escrever em blogs, há nove anos e pouco, os blogs eram uns sítios onde as pessoas escreviam sobre o seu dia-a-dia. Havia variações, claro: havia o Gato Fedorento, havia O Meu Pipi, e por aí em diante. Mas, no essencial, os blogs eram exactamente isso: diários digitais (o termo "blog" é a versão short de "weblog", ou seja, diário-na-internet). A blogosfera estava longe de ser descoberta como máquina de fazer dinheiro. As marcas estavam longe de perceber o "poder" que os bloggers tinham.
Depois começaram os fenómenos: houve o boom-pipoca (anos depois de o blog ter nascido) e a coisa deu-se. As marcas começaram a olhar para alguns bloggers como opinion-makers/opinion-leaders e começaram a puxar por isso. E os bloggers foram-se rendendo ao lado comercial dos blogs. O que antes era um blog genuíno, com textos giros, pessoais, interessantes, passou a ser um intervalo publicitário (não estou a falar de um blog em particular, mas sim de vários - demasiados! - em que isto acontece).
Leio muitos blogs americanos e quase todos têm uma vertente comercial: espaços nas barras laterais para patrocinadores (que pagam um valor mensal para ter ali o anúncio/link), posts patrocinados, reviews de produtos pagas. Acontece que isso é claro e não é encapotado. Os posts patrocinados são assinalados, as reviews são identificadas (neste caso não há pagamento monetário mas sim oferta do produto/serviço sobre o qual é feita a review).
Cá não é bem assim. Fazem-se passatempos que, em muitos casos, são pagos (a marca que promove o passatempo oferece os produtos em questão e paga um determinado valor ao blogger para que o passatempo tenha lugar naquele blog). Escrevem-se posts patrocinados onde nada é explicado. Há uma política meio "subreptícia" e os leitores menos atentos podem perfeitamente achar que nada do que aparece naquele blog é comércio. Mas é.
Nada contra. Desde que esteja explícito, não vejo por que não o fazer. As marcas perceberam o potencial dos bloggers, os bloggers perceberam o valor do seu blog e tudo está correcto. Depois há erros grosseiros. Por exemplo: há umas semanas recebi uma oferta de uma marca. Ainda estou para saber como é que a marca conseguiu a minha morada, mas já nem vou por aí. Nunca me perguntaram se queria receber a oferta, se podiam enviar, se estava interessada. Nada. Mandaram, simplesmente. Ainda por cima, assumiram que o meu nome é a versão portuguesa do meu nickname. Não é. Isso fez com que, para poder receber a oferta, eu tivesse que pagar uma taxa nos Correios. Não teria acontecido se me tivessem pedido os dados correctos antes. A oferta que me foi enviada não tem rigorosamente nada a ver comigo nem com o meu blog. Podia aqui falar dela em concreto, mas não vai acontecer. Calculo que a intenção fosse boa, mas foi um tiro no pé. Já noutras ocasiões me ofereceram coisas que, por não terem nada a ver comigo, recusei. Agradeço a boa intenção, mas não vou pespegar com publicidade ao desbarato no blog. Muito menos com publicidade a coisas que não uso ou de que não gosto. Aconteceu também recentemente ser contactada por um serviço; pretendem que o teste e irei fazê-lo, até porque, mesmo antes de mo oferecerem, eu já andava para o experimentar. Depois logo conto como correu: bem ou mal, a verdade virá aqui parar.
Eu já fujo de blogs que são intervalos publicitários há muito tempo. Deixei de conseguir ler. Talvez por trabalhar em comunicação, não consigo olhar para aquilo com olhos de consumidora "normal", olho sempre pela perspectiva do marketeer. Por isso mesmo, não tenciono transformar isto num espaço carregadinho de publicidade. Claro que já aqui falei de produtos e serviços e sítios onde fui. Claro que voltará a acontecer, tantas vezes quantas eu achar que devo falar (ainda aqui há dias falei de fraldas e de marcas de fraldas, por exemplo. Ninguém me pagou para isso nem as marcas sabem que o fiz. Fi-lo enquanto consumidora e não enquanto folheto publicitário). No dia em que este blog tiver patrocinadores ou posts pagos ou reviews "pagas", vocês serão os primeiros a saber. Até lá, tudo o que aqui menciono tem apenas a ver com aquilo que experiencio enquanto consumidora, utilizadora e cliente.
Ah, e tenho saudades do tempo em que os blogs eram apenas blogs e em que se escrevia pelo prazer de escrever.
ADENDA: Alertou-me a Elsa para o facto de haver, neste post, algumas palavras com link a uma coisa qualquer para ganhar um iPhone4. Pois que é um bicho manhoso que se me agarrou à traquitana de escrever os posts no Sapo. Já tinha dado conta disto e sempre que me lembro de tal coisa apago os links. Aqui, no embalo da escrita, esqueci-me. Portanto, cenas para oferecer iPhones e tal, é SPAM. Sorry...!