A minha mãe sempre me disse: "dá-te forte e passa-te depressa". Confirmo. A par com a omnipresente preguiça, major feature que me define, aquela é talvez a minha costela maior. Mentira, não é nada (e podia, oh se podia, pôr-me aqui a debitar lugares-comuns acerca de moi-même, mas adiante que se faz tarde e temos todos mais que fazer).
Esta semana foi um pavor. Muito cansaço, muitas preocupações, eu a esticar-me ao máximo das minhas forças. Como não me movo a cocaína, não aguento passar uma semana inteira a dormir quatro horas por noite. Pensava eu. Na verdade, aguentei. Por norma, há uma noite, a meio da semana, em que não costuro e me deito a horas saudavelmente normais. Esta semana não aconteceu. Foi sempre entre as três e as quatro da manhã, para alvorar às sete.
Claro que ontem a bolha rebentou. Saí do escritório mais tarde do que era suposto, mega dor de cabeça instalada, peguei mas foi no carro que não me apeteceu vir de transportes. Fiz o IC19 em esforço para manter os olhos abertos, tendo o mundo contra mim: o sono, o cansaço, a dor de cabeça e o sol a bater de frente. Cheguei. Mimei os miúdos, lanchei e adormeci encostada à mesa da cozinha da minha mãe. Pedi-lhe que desse um toque ao meu marido, só para dizer que eu me ia deitar um bocadinho, que nem sequer estava em condições de ser eu a ligar-lhe. Dormi quase uma hora. Sono pesado. Entretanto ele chegou. Viemos para casa, fiz o jantar, ele deu banho aos miúdos, jantámos, eu arrumei a cozinha e às 22h30 estava na cama, a ler um bocado (o livro que ando a ler: pensei em desistir a meio mas aquilo, subitamente, tornou-se interessante e está quase lido). Adormeci ainda não era meia noite, livro caído em cima do peito, óculos na cara, meias por calçar (eu sou uma pessoa deveras friorenta e este ano só devo ter dormido sem meias uma meia dúzia de dias: relembro que moro no epicentro de um furacão onde nunca está calor e o vento e o frio abundam sempre). Ele aconchegou-me, fechou o livro, tirou-me os óculos, calçou-me as meias e eu pude dormir (e se isto não é Amor, não sei o que será).
Dormi sem interrupções até às oito, hora a que a mais velha veio instalar-se no meio de nós e ó mãe, quero leitinho e quero ver o Panda, lá me levantei para lhe aquecer o leite e pôr a televisão no canal do demo. Dormitei mais um bocadinho e às nove o pai resgatou o mais novo à palração sonora em que ele estava e trouxe-o também para a nossa cama (e ainda sobra espaço para, pelo menos, mais um ou dois miúdos. Não vai acontecer). Lá me levantei novamente para aquecer o leite do pequeno, dei-lhe o biberon e seguimos caminho. Tomei o pequeno-almoço, o pai e a filha saíram para andar de bicicleta, fiz a sopa do miúdo (que está a dormir a sesta da manhã quase há duas horas) e sentei-me a costurar e a escrever isto que agora lêem.
Estou retemperada. Com forças para trabalhar fim-de-semana fora, que bem preciso. As preocupações e os problemas não desapareceram mas sossegaram debaixo das horas de sono que me permiti ter. Há que saber quando parar. Há que respeitar o que o corpo e a cabeça nos ordenam. Ontem parei. E agora já só paro lá para quarta-feira ou coisa que o valha. Se não der o tilt entretanto...