19.04.10
Sexta-feira, jantar do Grupo de Teatro da escola secundária, gente que não via há anos, conversa a ser posta em dia, regresso a casa à uma e um quarto.
Saio do carro carregada de sacos (tinha ido às compras à tarde), com um extra de 12 litros de leite na mão. Vejo três rapazes em frente ao café, o que é normal ali. Eles atravessam para o meu lado e um deles entra num dos prédios. Eu passo pelos restantes dois, normalmente. Chego à porta do meu prédio e, quando estou a pegar nas chaves que já tinha no bolso, sinto-os encostados a mim.
Um deles: boa noite.
Eu: boa noite.
O mesmo: queremos dinheiro.
Eu: não tenho dinheiro.
O outro: queres ser assaltada? Eu sei que tu tens dinheiro.
Eu: já disse que não tenho dinheiro.
O primeiro: eu sei que tu tens dinheiro. Queremos 11 euros.
Eu: queres ver a minha carteira, para veres que eu não tenho dinheiro?
Ele: quero.
(pouso os sacos, pego na carteira, que abro)
Eu: vem aqui para a luz, para veres que eu não tenho dinheiro.
Ele: aqui está bom.
Eu: só tenho estas moedas.
Ele: dá cá. Eu gosto de moedas.
Eu: está aqui uma moeda marroquina, que é recordação. Vou ficar com ela, se não te importas.
Ele: fica, não me serve para nada. Obrigado e boa noite.
Eu: boa noite.
Saldo do assalto: € 1,52... isso: um euro e cinquenta e dois cêntimos. Uma fortuna. Mas fui eu que trabalhei para o ganhar e senti-me violada na mesma.
Abri a porta a tremer, peguei nos sacos a tremer, entrei no prédio a tremer. Eles continuaram pela rua. Eu fui levar metade das coisas ao elevador, depois quando voltei para buscar o resto iam eles a voltar para trás, a rir. Não foi pelo dinheiro, foi pelo divertimento de assustar. Eu não pensei sequer em gritar, em fazer alarido, nada. Àquela hora ninguém me ouvia, não estava ninguém na rua. O mais certo era pegarem-me na mala e desatarem a fugir e aí era pior a emenda que o soneto.
Cheguei a casa a tremer, assim que saí do elevador pousei tudo e tive que respirar fundo para me acalmar. 31 anos. Assaltada pela primeira vez.
Autoria e outros dados (tags, etc)