18.05.11
A minha mãe foi costureira muitos anos. Costurava para o Augustus, para a Casa Africana e para mais umas quantas marcas. Lembro-me de ser miúda e de a minha mãe me fazer roupa. Na altura, era costume estrear roupa em três ou quatro alturas do ano: no Natal, no aniversário, na Páscoa e na festa de verão da aldeia dela. Pelo menos nestas quatro ocasiões era garantido: blusas, calções, vestidos, tops novos. Um delírio. Eu adorava tudo: ir com ela escolher os tecidos, inventar modelitos (que ela NUNCA seguia à risca, o que originava sempre briga), provar, ajudá-la a tirar alinhavos e o dia da estreia, em que me pavoneava orgulhosíssima daquela preciosidade que era modelo único.
Nas férias do verão ia perto de um mês para casa de uma tia minha, também costureira, e havia sempre pelo menos uma peça de roupa nova, feita por ela, igual para mim e para a minha prima Zé. Adorávamos. Sentíamo-nos únicas, mesmo quando a roupa seguia moldes da Burda.
É exactamente isso que quero fazer sentir à minha filha. Ela já percebeu que tem uns vestidos especiais que foi a mãe que fez. Gosta de tudo menos que eu lhe peça para estar quieta para a poder medir (por isso ontem subornei-a para estar sossegada cinco minutos, para eu poder tirar todas as medidas possíveis e imaginárias e não ter que andar sempre a chateá-la.
É isto que quero fazer outras pessoas sentir: que têm uma peça única, feita com amor, com tempo, com dedicação, com atenção aos pormenores. Porque, para mim, a costura é criatividade e carinho. Apenas isso.
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