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Verso - o Natal da Margarida
Há anos que o meu Natal é igual: sempre no mesmo lugar, sempre na mesma casa, sempre com as mesmas pessoas. E sempre maravilhoso. O regresso ao “de sempre” é das coisas que mais prezo. Todos os dias há algo que muda na minha vida, portanto voltar a algo que sabemos constante, mesmo com o passar dos anos, desperta o que há de melhor em mim.
Todos os anos rumo ao Oeste a dia 23 ou 24 – consoante o trabalho. Até às 20h30 de dia 24 a rotina é a mesma: amassa-se o pão, temperam-se as carnes, preparam-se os doces.
Meninas, é preciso pôr a mesa.
Paaaaaai!, é hora de acender o forno.
Meninos, saiam de debaixo dos pés da avó!!
Há discussões constantes, há gargalhadas e há música de Natal trauteada pelos corredores. Ouvem-se as tampas dos fogões de sala a bater, as palhaçadas dos mais pequenos, a televisão aos berros porque a avó não ouve.
Mãe!, vou sair a correr para levar as coisas às meninas – leia-se, às amigas de infância, as únicas que continuam a ter direito a mimos de Natal. Passo na tia M. e vou buscar a Can-Can para ainda não estar frio.
Traz-me mais dois quilos de açúcar que acho que vou fazer mais umas coisas. E manteiga. E ovos E…
É um desenrolar de coisas necessárias e de trabalho que não acaba e de alegria partilhada que um verso de uma página nunca me dariam espaço para descrever a véspera de Natal naquela casa.
Este ano vai haver menos uma criança, menos uma irmã e menos uma avó, que o Natal obriga a estar com todas as partes da(s) família(s) e às vezes não dá para juntar tudo. Mas este ano vai haver também mais um marido e mais uma sogra. Que as famílias crescem e não há melhor do que ter casa cheia ainda que as pessoas não sejam as mesmas mas sejam igualmente importantes.
E eu tenho uma sorte tremenda e mesmo com uma família nova – a nossa – vou poder continuar a passar o Natal como sempre passei: em minha casa, com as minhas pessoas, em ambos os dias.
No meu Natal não há correrias entre festas em casas diferentes. A partir das 20h30 do dia 24 – quando nos sentamos para comer o bacalhau da Consoada – o meu Natal é um sossego. Há os presentes com um monte de gargalhadas. Há a roupa nova para a Missa do Galo. Há os desejos de Boas Festas nos zero graus que costumam estar à saída da Igreja. Há a Ceia de Natal cheia de coisas boas feitas no forno a lenha e no fogão e em tudo o que aqueça naquela casa. E há amor e histórias e gargalhadas e cansaço acumulado. E descanso. Há muito descanso. Porque no dia 25 a comida chega, quentinha, e nós enroscamo-nos de barriga cheia, no sofá, a agradecer a casa quente, a mesa farta e a presença uns dos outros.
Até ser hora de voltarmos às respectivas casas, de carro e coração cheio. Até ao Natal do próximo ano, que será exactamente igual. E por isso mesmo, tão bom!
[E o meu Natal aqui.]
Aproveitei o início das férias da miúda para uns mimos com cada um dos filhos, a solo. Ontem peguei nela e levei-a a ver o "Frozen" e a almoçar no McDonald's. Passeámos, conversámos, divertimo-nos, num dia só para ela.
Hoje foi a vez do mais novo. Levei-o a estrear-s eno cinema, com o "A Revolta dos Perus". Almoçámos no PáteDonáles, a pedido dele. Fizemos compras de supermercado (a maior seca da vida para ele que, mesmo assim, aguentou bem a coisa), brincámos, conversámos, passeámos e divertimo-nos os dois.
A ideia não foi ter um dia com cada um, porque isso é coisa que até acontece com alguma frequência, graças à diferença de idade deles. A ideia foi mesmo levá-los aos dois ao cinema, para ver coisas adequadas à idade e ao gosto de cada um. Podia ter levado o miúdo a ver o "Frozen" ontem, é certo, mas ele não ia ter achado tanta graça como achou ao filme dos perus. E eles os dois juntos, embora se dêem bem, de vez em quando flipam e é guerra de meia noite. E não me apeteceu andar a fazer de Suíça e a sanar disputas... portanto, um em cada dia, com mimos exclusivos.
Se ainda não arrancaste do Pólo Norte e se ainda for a tempo, esquece estes:
Para mim, pode ser um destes:
Só esta noite - três noites depois do cansaço, portanto - é que consegui recuperar da maratona de trabalho do fim de semana... We're growing old...
(Saudades do tempo em que saía muito, chegava a casa às 5 ou às 6 da manhã, dormia até ao meio dia - seis ou sete horas, portanto -, e estava pronta para regressar à vida! Agora demoro meia semana a recuperar... E só piora, não é? Digam-me a verdade...)
Despachei hoje o assunto Natal. Se por Natal entendermos "nascimento" a coisa torna-se ainda mais exacta. Presentes de Natal propriamente ditos faltavam poucos - e muitos, simultaneamente, já que faltavam todos excepto dois e os que comprei não foram muitos. Duas sobrinhas, prima que ainda entra na categoria criança (que nós só damos presentes às crianças), filha e marido. O filho e o outro sobrinho já estavam tratados - e isto fechou a lista de presentes de Natal por estas bandas.
Só que entre dia 19 e dia 24 fazem anos quatro pessoas fundamentais para nós: a madrinha da minha filha, o padrinho da minha filha, a mulher do padrinho da minha filha e a filha do padrinho da minha filha (eu tenho pontaria, eu sei!, mas ele ainda tem mais: a casa dele aniversa toda num intervalo de cinco dias! E podia ser mais "grave" ainda, se eu não calho a ter tido aquela gravidez molar - o bebé estaria a fazer um ano por estes dias, tal como a filha do padrinho). Portanto, também tratei dos presentes para eles, que não podiam faltar e que não têm culpa da altura em que foram feitos nem da altura em que nasceram. Gosto de tratar de presentes assim: com tempo, sem confusões e sozinha, que é para andar para cá e para lá sem cansar ninguém. Por este ano, está feita a festa. Agora é começar a pensar em bolos...
Fez ontem dez anos que comprei a minha casa. Esta, que entretanto sofreu uma actualização de software e passou a ser a nossa casa. Quando para cá vim, no final de 2003, estava sozinha no patamar. O viznho da frente nunca tinha sequer habitado a casa, havia uma guerra em tribunal por causa dela e, anos depois, a dita foi vendida (em leilão público, suponho).
Vieram então para cá os nossos vizinhos da frente: mãe e três filhos adolescentes. Tinha tudo para correr mal, só por esta descrição. Eu sei, não é simpático da minha parte - e não sei o que me espera daqui a 8-10 anos, quando os meus filhos forem também adolescentes - mas o que é facto é que temi o pior: barulho e confusão a toda a hora. Não podia ter-me enganado mais. São super sossegados, super educados, super simpáticos. E prestáveis - acho que vos contei que foi a mãe-vizinha que recebeu os meus óculos quando eles chegaram e que, se ela não o tem feito, acho que ainda hoje não os tinha comigo.
Bom, acontece também que a senhora é uma excelente cozinheira. Já provei a comida dela? Não, nunca. Mas o patamar cheira sempre tão bem que é impossível a comida ser má. Agora, por exemplo, saí do elevador e cheirou-me a caril (em bom, atenção!). Faço este exercício muitas vezes: tento adivinhar o que ela cozinha pelo cheiro que se sente no patamar.
E eu, que adorava o sossego que era um patamar só para mim, gosto muito desta ideia de não estar aqui sozinha, de ter aqui gente mesmo ^`a porta. No fundo, uma companhia. Com cheiros bons, ainda por cima!
Este fim-de-semana foi o baptizado da pequena Laura. Ainda não tenho fotos (de jeito), quando tiver mostro. Enquanto decorreu a cerimónia na igreja eu fiquei na casa da pequena (e dos pais e dos irmãos), a preparar tudo para o almoço. Fiz bacalhau com natas, creme de legumes, pão de alho, cheesecake de frutos vermelhos, tarte de oreos e limão, bolachinhas decoradas e o bolo. Só tenho fotos do bolo. Foi este:
Verso - pela Margarida
Ainda nunca os contei decentemente. Sei, por alto, quantos tenho, mas adio a contagem porque sei que no fundo estou em negação. Acho, racionalmente, um exagero, mas a verdade é que vou arranjando as melhores desculpas para mais um par: ou porque não tenho exactamente esta cor; ou porque estão muitos baratos; ou porque claramente os que tenho parecidos estão a ficar velho; ou porque realmente têm que se aproveitar os saldos…
Enfim. Gosto de comprar sapatos. Gosto de ter sapatos de várias cores, de vários modelos, de vários tecidos. Tenho sapatos para trabalhar e sapatos para o final de semana. E ainda os sapatos para as festas. Tenho sapatos abertos e fechados, rasos e com saltos, botas de cano alto e de meio cano, de camurça ou de pele.
Adoro sapatos de salto alto. Geralmente têm que ter no mínimo 5cm, embora possa abdicar disso no caso de serem sapatos para usar todos os dias e com os quais precise de andar mais do que 300 metros. Não troco de sapatos a meio do dia nem a meio das festas. Sapatos que calço de manhã são sapatos que tiro somente à noite; sapatos que escolho para uma festa, um casamento, um baptizado andam comigo o dia inteiro, não importa se me doem os pés ou não. Os sapatos não têm que ser somente confortáveis. Têm que ser bonitos. Têm que ter algo de nós neles.
Para mim uns sapatos bonitos fazem toda a diferença num visual. Ou porque são simples como o visual extravagante exige ou porque são extravagantes como o visual simples exige. Às vezes acho que é um exagero – ainda no outro dia pus uns dez pares de sapatos que já não uso de lado, para dar. Outras vezes olho, por exemplo, para os sapatos de vela (yep, também uso sapatos de vela) que têm dez anos e penso que foram um óptimo investimento. Tenho botas e sapatos de salto exactamente com a mesma idade. Que não só revelam que efectivamente a moda é cíclica como confirmam que os bons investimentos valem a pena, porque podem durar uma vida.
No meu armário, ao lado sapatos dourados com 10cm de salto estão All Star beringela, ténis pretos ou sabrinas castanhas listas. Ao lado dos quais estão sandálias brilhantes, sapatos com asas desenhadas ou botas simples de pele.
Adoro sapatos de autor – Christian Louboutin está no meu top of the top – e se pudesse teria efectivamente um closet com todos os sapatos que me apetecesse comprar. Em exposição, para me lembrar de que os tenho e para os poder ver. E para me lembrar de que são investimentos. Que às vezes, para ter um par de sapatos de que gosto, prescindo de jantares ou almoços fora. De finais de semana. De roupa. Mas que essas opções me fazem todo o sentido. A mim, que sou louca por sapatos.
Não tenho um closet. Não tenho os sapatos todos com que sonho. Não tenho todos os que me apetece comprar. Mas tenho muitos, é certo. E tenho alguns muito especiais. Se isso me faz uma pessoa feliz? Não, por si. Mas contribui bastante, I must say… =)
[O meu cardápio de sapatos, aqui.]
Ontem à noite, todos na casa de banho. Filho pequeno fecha a porta no trinco. Filha abre a porta. Saem os dois dali, em direcção ao quarto. Eu abro a cortina da banheira (o marido estava a tomar banho) e digo mesmo muito baixinho "ela já consegue abrir as portas!! Qualquer dia apanha-nos a fazer sexy!!". Marido ri-se. Eu saio dali, em direcção ao quarto dos miúdos, para os ir deitar. Miúda apanha-me no corredor e diz "ó mãe, não me chegaste a explicar o que é fazer sexy..." (se calhar falei menosn baixinho do que pensei).
Fomos para o quarto dela, sentei-a na cama e o diálogo que se seguiu foi mais ou menos este:
- Então, vá, diz-me lá o que é que tu já sabes.
- Fazer sexy é estar casado?
- Mais ou menos. Para começar, não é fazer sexy que se diz. É fazer sexo.
- Sexy é para as meninas?
- Não. Diz-se sempre "fazer sexo".
- Ah, está bem. E é estar casado?
- Mais ou menos.
- Então é namorar?
- Mais ou menos. Quando as pessoas gostam muito uma da outra fazem sexo. Dão beijinhos, abraços e assim.
- E é meninos com meninas?
- Não. Os meninos pequenos não podem fazer sexo, só os adultos, os crescidos é que podem. Os meninos da tua idade não fazem sexo. Só os crescidos.
- E pode ser menino com menino?
(Mega glup meu, óbvio! Porque é quando há uma pergunta complicada, eles arranjam logo outra ainda pior a seguir??)
- Pode...
- Mas não é muito normal, pois não?
- É normal, sim. Menino com menina, menino com menino e menina com menina, é tudo normal - mas só os crescidos. Só que o que acontece mais vezes é menino com menina.
- Ah... e os meninos podem casar com meninos?
- Sim.
- Onde?
- Em muitos países. Quem decide isso são os governos. Cá, por exemplo, foi o presidente.
- O Cavaco Silva?
- Sim.
- Ah...
- Tens mais alguma pergunta?
- Hummm...
- Podes perguntar sempre tudo o que tu quiseres saber. Quando tiveres uma pergunta, uma dúvida qualquer, perguntas à mãe ou ao pai e nós respondemos e explicamos, ok?
- Sim.
- Tens mais alguma pergunta?
- Tenho.
- Diz.
- O que é que comem os tatus?
(Obrigada e bom dia!)
(Aqui há tempos disse-vos que este é o meu blog masculino preferido. Percebe-se.)
(Catarina, lê o post. Acho que vais gostar.)
Um dia entras por essa porta de que não conheces ainda a chave. Pegas no tempo e guarda-lo no bolso, deixas os lamentos no tapete da entrada, assumes o corpo que te coube em sorte e entras. Para trás fica uma vida. Um passado, guardado numa caixa, como fotografias de infância do tempo em que a máquina era analógica e não permitia guardar apenas os sorrisos - ficavam os olhos fechados, os desfoques, os planos incorrectos, ficava tudo como na memória, mesmo os gestos imperfeitos. Deixas os dias em que te soubeste angústia. Deixas as tardes de pés enterrados na areia, enquanto crianças faziam castelos e piscinas à beira do mar daquela praia que ainda é tua. Deixas os bilhetes das viagens de avião, emoldurados há muito, muito tempo. Não trazes nada que seja pretérito. Nas mãos, cada traço é linha de futuro, nada que consigas ainda decifrar.
Abres a porta e o ar que te rasga os pulmões é frio, um ar fértil e novo, que nunca antes te tocou. Não sabes ao que vais e é aí que reside o fulgor. Abraçarás tudo o que vier. Sorrirás sem mágoas nem reservas. Não tremerás perante incertezas, antes saberás sempre qual o caminho a seguir. No dia em que abandonares à porta a insegurança, no dia em que conquistares o domínio sobre ti, o mundo passa a ser a paisagem que te entra pela janela, vento suão que tranquiliza em vez de inquietar. No dia em que não te julgares nem te exigires coisas para lá do que és capaz, a tua alma sossega e desliza pela tarde, no doce balanço de uma rede amarrada a duas árvores a que conquistou a sombra. No dia em que a porta se abrir, depois de lhe teres encontrado a chave - que esteve sempre contigo, afinal, talvez guardada num bolso escondido, mas contigo, junto ao calor da tua pele -, o teu corpo ganha a luta e tu tornas-te maior do que o medo.
Isto. Porque a história é muito boa. E porque tem isto:
Há bocado, quando estávamos a sair do carro para vir para casa, ela:
- Mãe, o que é fazer sexy?
(Seis anos acabados de fazer... Não estou preparada para isto...)
O melhor de ontem: voltar aos eixos. Um treino como deve ser, no ginásio; alimentação direitinha; casa posta em ordem. Sentir que tudo está como deve estar. E ver episódios do "Betrayal" de enfiada - apaixonei-me pela série, que me faz lembrar o The Killing: nada é o que parece e há sempre quem consiga dar a volta a tudo...
Estou farta de andar em trocas de compras de Natal! Este ano não há uma coisa em que acertemos, mamãe e eu! Ora são botas pequenas, ora são camisolas pequenas, ora são casacos... mas nunca é tudo ao mesmo tempo! Portanto, hoje, mais uma passeata pelo shopping, para acertar tamanhos de coisas. E a ver se vou levantar os exames que fiz em Setembro... E a ver se vou ao Ikea, abastecer-me de livros-presentes-de-Natal...
No dia da festa da minha princesa, a minha Lia estava algures em parte incerta e não tive a mestria dela no campo fotográfico. Portanto, as fotos que tenho estão uma valente trampa... But, oh well, deixem-me contar-vos o que fiz e depois logo mostro (ou tento, vá).
Portanto, o tema escolhido por ela foi... "Princesas". Ela ia dizer Disney a seguir, mas eu fingi que não ouvi - não me quis agrafar a uma Rapunzel da vida, que me ia limitar um bocadinho. Nada contra, mas queria uma coisa mais abrangente. Portanto, Princesas, assim no geral.
O bolo foi super simples: red velvet com creamcheese, dois andares, tubos de plástico lá dentro a suster a coisa, andar de baixo rosa velho, andar de cima rosa claro, umas coroas na lateral, no andar de baixo, o nome dela e uns corações no andar de cima, uma princesa no topo. Simples, mas giro (eu sou suspeita, eu sei).
Depois, fiz gelatinas e brigadeiros, em copos individuais. Fiz muffins de laranja e, com o resto da massa, um bolo. Não pus cremes em nada disto. Fiz mini-folhados de salsicha (also known as piglets), cookie pops (bolachas num pauzinho de chupa-chupa) decoradas (que também serviram para recordação da festa, para as amigas, mas, tanto quanto sei, as recordações duraram o tempo das viagens de regresso a casa: foram comidas nos carros!). Também fiz cheesecakes de frutos vermelhos, em copos individuais. Fiz ainda sandwich-pops. O quê?, perguntam vocês? Então, peguei em tortilhas de trigo (as que se usam para fazer os wraps, há várias marcas, nomeadamente da Bimbo, que são as mais baratas e as de que gosto mais), queijo e fiambre e fiz rolos, como se estivesse a enrolar um wrap. Só que depois cortei aquilo aí com 3 a 4cm de espessura. E fechei com pauzinhos de gelado. Ficaram a parecer chupa-chupas!
Os sumos: tutti-frutti, ice tea de manga e sumo de laranja, cenoura e limão, servidos em jarras de vidro. Houve ainda pipocas doces e salgadas e batatas fritas, que não estavam na ementa, mas que foram pedidas com muito carinho por uma amiguinha da minha filha e, vá, é raro eu resistir a olhos de bambi...
Encostei a mesa à janela, encostei o sofá - que costuma estar no meio da minha sala - à estante dos livros, junto a uma parede, e fiquei com a sala ampla para elas brincarem à vontade. Fartaram-se de andar a correr, brincaram às escondidas, dançaram, pintaram e fugiram do meu miúdo mais novo, que era o único rapaz e ainda por cima bebé! Acho que elas se divertiram... bom, a avaliar pelas lágrimas na hora de se irem embora, eu diria que sim, que gostaram e que se divertiram...
1. Conta-nos um bocadinho sobre ti: quem és, onde estás a viver, quantos filhos tens, que idades têm eles, há quanto tempo emigraste, o que vos levou a emigrar?
Sou a Maria Alzira (também tenho um bonito nome, como podes ver) tenho 32 anos, quase 33 (próximo dia 25/11) e estou em Angola há 7 anos (10/2006). Vim para Angola ainda solteira e com 25 anos e entretanto juntou-se o namorado (passados 2 meses da minha chegada a Angola).
Tenho 2 filhotes, a Matilde com 4 anos e meio e o Manuel que vai fazer 1 ano dia 29/11. Foram ambos feitos por cá mas nascidos em Portugal por opção (no tempo da Matilde as condições para ter um filho não eram as melhores e preferi ter em Portugal perto dos meus pais e agora do Manuel como não estou em Luanda e a gravidez teve alguns percalços Portugal foi também a opção).
Emigrei como te disse com 25 anos. O motivo foi única e exclusivamente a aventura e o desejo de poder ajudar na reconstrução de um País saído da guerra. Queria fazer a diferença na vida das pessoas.
Era uma jovem e o que me levou a emigrar não foi a mesma que leva a gora milhares de pessoas a abandonar o País. Não foi a falta de emprego (até porque tinha um estável como verás mais à frente) nem as dívidas acumuladas porque nesta idade apesar de ser proprietária de um T1 e de uma dívida ao banco estava em condições de a pagar e de ainda juntar uns trocos.
Nestes 7 anos já vivi em várias cidades de Angola. O meu primeiro contrato de um ano e numa empresa Angolana vivi em Luanda, no Sumbe e em Benguela. Andava por mais cidades mas sempre em hotéis. Nestas 3 cidades foi onde passei mais tempo. A minha base era no Sumbe (10/2006-09/2007).
Nos últimos 6 anos estive 3 anos em Luanda (10/2017-07/2010) e desde 2010 estou no Lubango (08/2010-até à data).
2 - O que é que fazias antes de emigrar e o que fazes agora?
Tirei o curso de Eng.ª Geotécnica no ISEP mas quis o destino que iniciasse o meu percurso profissional na área das infra-estruturas de abastecimento de água e saneamento básico numa empresa que prestava consultoria à “Águas de Portugal S.A.” Estive por lá 3 anos e se o meu sonho sempre foi ir para a obra, o meu director não era da minha opinião e sempre desempenhei o papel de Executive Assistant ou Assistente de Direcção de Projectos, auxiliando em todas as fases da obra desde a parte de projecto e planeamento passando por facturações, controlo de custos, etc., até à entrega da obra ao cliente.
Como tinha o bichinho da obra e tinha uma colega ainda pior que eu que me andava sempre a espicaçar cujo marido veio para Angola no período pós-guerra, lá ganhei coragem e comecei a enviar CV para ver se tinha sorte. A esperança não era muita principalmente por ser mulher e a guerra ter acabado há pouco tempo. Mas 30 minutos depois de ter enviado o CV o general dono da empresa telefonou-me.
Tinha de ir à região de Lisboa a uma entrevista e como sou do Porto saí-me logo com algo semelhante: "Olhe, caso não tenha percebido sou mulher e veja lá se não me vai fazer gastar euros e uma data de km para depois vir pelo mesmo caminho e sem esperança". Ele riu-se e só me disse para não me preocupar. Passados 2 dias lá fui eu e já saí da entrevista com ordem para entregar os meus documentos nos RH que vinha para Angola.
As minhas pernas tremeram! E agora? Eu não sabia o que fazer! Tinha cá família e namorado (de 7 anos). Eu, menina dos papas e do namorado, tinha de ir sozinha para África! MEDO!
O meu pai (que Deus o tenha) foi o primeiro a dizer “Faz-te à vida! Eu não tive hipóteses, que a tua mãe cortou-me as pernas, por isso não a vou deixar cortar as tuas!” E assim decidi partir.
Com choro, abraços apertados lá vim eu para Angola.
Neste momento sou Project Manager numa empresa alemã onde trabalho desde 2007. Estou a gerir um projecto de abastecimento de água à cidade do Lubango. Este projecto é financiado pela banca Alemã e insere-se no Projecto de Reconstrução Nacional numa cooperação entre a minha empresa e o MINEA – Ministério de Energia e Águas de Angola.
3 - Porque escolheram esse país para viver?
Como já referi acima, foi mesmo a aventura. Angola tinha acabado de sair da Guerra. Tínhamos margem para progressão na carreira e acima de tudo os salários também eram bastante aliciantes. Com a adjuvante de ser um País fácil de emigrar na altura uma vez que Angola estava extremamente necessitada de mão-de-obra qualificada e o tempo de espera para Visto de Trabalho ao abrigo do programa onde me encontro inserida era reduzido.
4 - Qual foi a grande diferença que encontraste em relação a ser mãe em Portugal e aí?
Só tive a Matilde em 2009 e Angola já estava muito melhor do que estava em 2006. Para dizer a verdade, o meu único receio era que ela ficasse doente pois os cuidados de saúde ainda deixam muito a desejar.
Prefiro ser mãe aqui do que aí. Pelo menos enquanto trabalhadora por conta de outrém. Até aos 3 anos, a Matilde (e o Manel vai pelo mesmo caminho) ficam em casa com ama. Se estivéssemos em Luanda considerava a hipótese da Matilde ficar em casa até à idade de entrar no 1º ano. Mas aqui no Lubango tenho um infantário de uma Angolana/Portuguesa que segue o ensino Português e que consegue prestar um ensino de qualidade (ao nível do particular em Portugal ou até melhor).
Aqui começamos a trabalhar as 8 da manha e tomamos o pequeno-almoço todos juntos. Ao almoço tenho disponibilidade para vir a casa e almoçar em família com o marido e com o Manel. A Matilde como é muito má para comer optamos por deixá-la almoçar na escola. Ela lá almoça bem na companhia dos colegas enquanto que em casa era um stress e acabava por se atrasar e já não ir à escola de tarde. Saio às 17 e ainda tenho tempo para os miúdos, coisa que em Portugal era impossível. O serviço de casa é feito por uma empregada que está incluída no meu contrato e por isso a disponibilidade após as 17 é total para a criançada. Nos fins-de-semana temos sempre programas ao ar livre com amigos (campismos e praia com fartura).
Claro que nem tudo é um mar de rosas. Apesar de uma maior disponibilidade para os filhos falta-nos a família como suporte para que eu e o marido possamos ter mais momentos a 2. E os miúdos sentem imenso (assim como nós) a falta dos avós.
5. Como é que o Estado “trata” as mães? Como funcionam as licenças de maternidade? Que apoios são dados aos pais e às crianças?
Estado Angolano ou Alemão?
O meu contrato é na Alemanha por isso sou regulada pelas leis Alemãs. 8 Semanas antes da data prevista para o parto (40 semanas) tenho ordem para entrar de baixa forçada, caso contrário a empresa paga multa. E depois do parto temos também 8 semanas de licença. Durante estas 16 semanas a empresa paga a totalidade do salário não havendo qualquer penalização ou comparticipação da Segurança Social da Alemanha. Após estas 16 semanas o valor que a empresa paga vai baixando percentualmente. Se baixar para menos de 1500 euros mensais aí a segurança social alemã repõe o valor até atingir os 1500 euros/mês.
No caso da Matilde fiz as 8 semanas pós parto e do Manel fiz 12 semanas mas como prémio de produtividade a empresa pagou as 4 semanas extra na totalidade.
Até o bebé fazer 1 ano temos direito a redução horária de 2 horas diárias para aleitamento (seja materno ou artificial). Após um ano só tem em caso de aleitamento materno.
Segundo a lei angolana a mãe tem direito a licença de maternidade a partir do dia do parto e durante 60 dias. Durante esse tempo a empresa é obrigada a continuar a pagar o salário à trabalhadora exceptuando o subsídio de almoço e transporte.
Nós, como estrangeiros, não temos direito a abono de família mas os angolanos recebem por cada filho o equivalente aproximadamente a 5 euros também pagos pela empresa da funcionária. A segurança social aqui, apesar do trabalhador descontar, não serve para nada, pelo menos no aspecto referente à maternidade. Relativamente ao aleitamento, a mãe tem redução de 1 hora de trabalho diária mas apenas se amamentar.
Vacinação e consultas aqui são gratuitas, mas eu optei em ambos os casos por trazer as vacinas de Portugal e administrá-las em casa. Consultas só em caso de emergência e até ao momento não foi necessário. Para os casos de viroses consultamos via telefone o pediatra em Portugal que é incansável.
6. Qual dos dois países consideras mais seguro, tanto para os adultos como para as crianças?
Portugal sempre me pareceu mais seguro principalmente enquanto vivi em Luanda. Para ser sincera nunca me senti ameaçada cá tendo apenas sido vítima de racismo 2 ou 3 vezes em 7 anos e tendo sido a pessoa em causa sempre repreendida por Angolanos imediatamente após o insulto. Relativamente ao tratamento e insegurança acredito que apenas somos tratados como reflexo de como tratamos. Por favor, obrigada e bom dia não matam ninguém e acredita que baixam as defesas e agressividade de qualquer Angolano mais “quente”.
Temos de andar de portas trancadas (e vidros fechados) em Luanda mas nas províncias andamos à vontade.
Relativamente às crianças acredito que têm muito mais liberdade aqui. Não há medos dos raptos e podemos estar a vontade se a criança está em casa da vizinha ou de um amigo. Estamos na praia descansados porque os miúdos são muitos e há sempre um mais velho (ou 2 ou 3) a tomar conta da criançada mais nova.
Sinceramente sinto-me tão segura em Portugal como em Angola. Mas claro que da mesma maneira que não vou a certos sítios em Portugal também não vou a sítios de má fama em Angola e evito andar muito de carro à noite fora das horas normais.
7. Caso os teus filhos não tenham nascido aí, como foi a adaptação deles?
A Matilde veio para Angola com 6 semanas e o Manuel com 3 meses. A habituação deles praticamente não existiu uma vez que a gravidez foi passada cá até às 32 semanas e já tinham o swag Angolano ;)
A Matilde veio em Agosto e a transição foi muito pacífica. Saiu aí de verão e chegou cá a um Cacimbo (inverno) com temperaturas semelhantes a Portugal. Ela era uma bebé bastante complicada e que sofreu de cólicas até aos 5 meses e o estar aqui até a acalmou. Ao final do dia em vez de passearmos de carro íamos para o jardim do condomínio passear e ela adormecia a olhar para as árvores e palmeiras.
No caso do Manuel, veio em Março e teve febre (38º- nada de alarmante) nos 2 primeiros dias. Na altura em Portugal fazia frio e quando chegou levou logo com temperaturas de 36 graus. Mas nada que um ben-u-ron e dormir de fralda não resolvesse.
8. Como foi a vossa adaptação, enquanto família?
Chegámos cá como namorados, casámos, tivemos filhos. Foi uma habituação gradual e sem grandes dramas. Claro que fazem falta os avós e tios para ficarem com os miúdos e podermos ter tempo a 2. Mas com os amigos e ama podemos ter sempre um jantar tranquilo e uma conversa sem crianças. Somos uma família normal como somos em Portugal quando aí estamos. Temos o que precisamos e isso basta-nos.
9. Quais são as maiores dificuldades com que te deparas no teu dia-a-dia?
Em 2006 dizia que era a facilidade em arranjar bens essenciais e o trabalho em si. Hoje apenas a parte profissional é difícil.
Em 2006 não se passava fome mas os alimentos não abundavam, ou melhor quando havia massa, não havia arroz, se havia leite não havia manteiga e outras conjugações semelhantes. Uma pessoa que vinha habituada à Europa e a ter tudo na mercearia à porta de casa vê-se no dilema de ter de começar a amealhar como as formigas e começar a ter uma despensa recheada para as eventualidades. Nunca me faltou nada, mas também já tive de mandar comprar leite a 360 km de distância e pedir a amigos para me trazerem alguns alimentos. Hoje em dia este departamento já está sanado e encontra-se facilmente de tudo. Podemos é precisar de correr 4 ou 5 supermercados em vez de ir apenas a 1.
Relativamente à parte profissional o relato dava um testamento enorme se fosse a detalhar. As coisas acontecem muito lentamente. Toda a gente diz que sim mas depois fica sentado à espera que o colega faça. Ainda não existem muitas pessoas profissionais por cá. Infelizmente não falo só de angolanos que só há poucos anos começaram a ter acesso ao ensino (devido ao longo período de guerra) mas também me refiro a expatriados que vêm com a ideia de fazer pouco porque para quem não tem nada isso basta. Simplesmente odeio essa mentalidade e já tive uma série de confrontos porque não tenho sangue de barata nem gosto de estar parada. Aqui o pessoal empurra as culpas para os colegas, não gosta de assumir posições e gosta, como costumo dizer, de andar pelo meio dos pingos da chuva. Não são carne nem peixe.
Depois temos a imiscuidade entre os interesses públicos e privados em que toda a gente só olha para o seu umbigo e tenta tirar vantagens da posição que tem para se safar de alguma maneira. Falo mesmo de meter dinheiro extra ao bolso com o chamado business que por aqui é prática corrente e ninguém se parece importar com isso. Há-os inclusivamente na minha empresa, com pessoal a prejudicar gravemente os projectos, a direcção sabe mas prefere fechar os olhos. Acaba por ser a regra do deixa andar… Para mim é um pouco complicado lidar com isto mas mantenho a minha cabeça erguida e deito-me de consciência tranquila na almofada ao final de cada dia. O melhor a fazer aqui é ser cega, surda e muda em algumas situações. Desempenhar o papel para o qual fomos contratadas e não olhar para o que o vizinho faz. Assim deixamos de ser uma ameaça e podemos desempenhar o nosso trabalho com dignidade e honestidade.
Eu pessoalmente estou ligada mais à gestão dos projectos e não há muitos interesses no meio onde me movimento. Os "big bosses" é que andam pelo lago dos tubarões. Aqui cumprimos ordens e milestones e tentamos, dentro do possível, levar o projecto a bom porto e satisfazer as necessidades das populações.
10. Se tivesses que dar um conselho a alguém que esteja a pensar emigrar para o país onde vives, o que dirias?
Primeiro, se querem vir pela experiência, que venham. Se vêm por dinheiro, esqueçam. Neste momento e ao contrário de há alguns anos, Angola já não paga tão bem quanto isso. Há países na Europa a pagar tanto ou mais do que se paga aqui. Apesar de terem mais custos tem também mais qualidade de vida em outros locais e melhores oportunidades para criar os filhos. Angola é uns país difícil porque ainda tem muitas dificuldades e não é de fácil adaptação (principalmente se viermos sozinhos). Há muita gente que vê Angola como o paraíso de praias e palmeiras. Sim, temos disso mas também na parte profissional pode ser muito desgastante e desmotivante porque tudo leva o seu tempo (às vezes tempo demais) a acontecer. A rivalidade profissional e o não olhar a meios para subir está pior do que nunca e ou se tem estofo ou não se tem.
Por isso digo, venham mas de coração aberto e não só pelo dinheiro. Têm de vir com espírito de aventura, sacrifício e muita paciência. Posso dar o exemplo na minha empresa: de 20 Portugueses que chegaram na mesma altura que eu, apenas nos mantemos cá 4 e todos eles porque têm cá a família. Acho que isso explica muita coisa.
[Obrigada, Ziza!!]
Amanhã vai haver disto na mesa...
(E fiquei meio sem palavras. Não, fiquei mesmo sem...)
Verso (da Margarida)
Deserto. Fazendas do tamanho do mundo. Cangurus. Um mar a perder de vista. O outro lado do mundo. Pessoas giras, altas. Desenvolvimento, cultura, bom tempo. O outro lado do mundo. Surf, areia branca, povoações isoladas, animais selvagens, cenários de filmes…
Podia continuar aqui a debitar tudo aquilo que me encanta na Austrália, mas duvido de que o verso de uma folha chegasse para tal. Austrália é a minha viagem de sonho. Tenho uma curiosidade imensa por conhecer o outro lado do mundo, que parece tão parecido mas é ao mesmo tempo tão distante do que conhecemos do lado de cá!
Estar perto de povos com uma cultura tão diferente, mas que nem está tão distante da nossa quanto parece.
A Austrália é, para mim, o país de todos os sonhos. Onde tudo pode ser possível, onde a vida é maravilhosa, mesmo que haja tubarões na água. Sempre quis perceber como se vive num País tão grande, civilizado, criado por prisioneiros ingleses e que se transformou num modelo mundial em tantas coisas.
Um país onde as mais terríveis cheias de há dois anos mataram meia dúzia de pessoas apenas porque tudo funciona bem. Porque se protegem do mercado arrasador mas sem deixar de quererem ter a trabalhar para si os melhores do mundo.
A Austrália é ó país das cores maravilhosas [creio eu!], dos odores fantásticos, das pessoas bem-dispostas, da qualidade de vida. Se calhar a Austrália não é nada disto, mas enquanto eu não a for conhecer, ela vai ser para mim isto e muito mais. Agarrar nas malas e ir pelo menos três semanas, na melhor companhia, para o outro lado do mundo conhecer cangurus não me podia soar melhor!
Não sei se algum dia conseguirei realizar este sonho. Mas vai ser um dos objectivos da minha [ainda curta] vida. Porque se viajar é o melhor do mundo, podermos ir aos lugares que realmente amamos – mesmo que só em sonhos – é uma sensação de realização que não pode ser comparada a mais nada na vida!
Já realizei uma das viagens de sonho (NYC) e não me desiludiu. Quando era miúda, Londres também era um sonho, que também consegui realizar sem desilusões. Portanto, tenho fé de que consiga também chegar a este! Ainda que seja consideravelmente mais difícil, acredito que também há-de ser mais prazeiroso.
Portanto, se não se importam, torçam por mim! Que tenho uma vida para conseguir ir até lá!
[A minha viagem de sonho, aqui.]
Já fiz as compras para a festa de aniversário da gaiata. A seguir, corte de cabelo na mãe da gaiata, que bem precisa (isto não vê tesoura quase há um ano... e está enorme e já me pesa e estou farta do cabelo comprido. Vou chegar lá com a dúvida: franjo ou não franjo? O Renato decidirá - sim, isto é o quanto eu confio nele! E, para quem ainda não encontrou um cabeleireiro de sonho, só vos digo: Renato, Chill Factory, em Oeiras. De caras!!). Depois, compras de uns acessórios para a festa, eventual beijinho na prima super-grávida (e, com o stress em que já estou, meto dinheiro em como vai ser precisamente quando estivermos juntas que lhe rebentam as águas... e ainda acabo a passar a tarde no hospital!) e regresso a casa, para começar a ronda dos bolos novamente: para amanhã, um bolo de aniversário para uma empresa que faz 10 anos. E tudo para a festa (quase tudo, vá, que há coisas que só posso mesmo fazer no dia).
Isto é uma animação. E ainda bem!!
E porque hoje é a primeira sexta-feira de Dezembro e, por isso, é Red Lipstick Day, fica de novo o texto que deu origem ao Movimento.
O mundo olha e repara: vai ali uma mulher de batom vermelho. Passo a passo, segura, insegura, observa quem a rodeia à procura dos olhares reprovadores. Encontra sempre um ou outro: uma mulher de batom vermelho é sempre uma puta. Não é. Não mesmo!
Olhamos e gostamos sempre de ver nas outras. Fica bem, é charmoso, há mistério e muita ousadia. Gostamos do que o batom vermelho diz sobre elas, as mulheres que o usam. Não gostamos do que possa dizer de nós porque, no nosso íntimo, temos medo que diga coisas erradas. Que somos putas. Não somos.
Um dia atiramos o medo para trás das costas e arriscamos. Talvez só para ir ali às compras - mas depois pensamos: batom vermelho para ir às compras?? Batom vermelho pede um acontecimento: um jantar, uma festa. Só que, entre trabalho, casa, filhos e rotinas, as festas são escassas e os jantares acontecem 95% das vezes em casa. Fabrique-se o evento: desafia-se o marido para jantar fora, só para poder usar o batom vermelho. À noite todos os gatos são pardos e ninguém dará por nós. Só que dá. Há olhares. As outras mulheres olham para nós e pensam que o batom fica bem, é charmoso, traz mistério e ousadia. Pensam de nós o mesmo que nós pensámos das outras que usavam batom vermelho.
Depois, já sem medo, usamos o batom vermelho sempre que nos apetece. Pode ser só para ir às compras. Não é para o mundo, é para nós.
É preciso estar "in the mood". Não se usa batom vermelho se nos sentimos num dia "não". Usamo-lo quando gostamos de nós, quando nos assumimos, quando não temos medo do que o mundo possa pensar. Quando sabemos quem somos, o que somos, como somos. E gostamos de tudo o que vemos quando olhamos para nós.
Eu acho que todas - TODAS - as mulheres deviam arriscar e experimentar aquilo que um batom vermelho faz por nós. Acho que todas deviam experimentar a sensação de usar batom vermelho e assumir que gostamos de nós, que merecemos, que valemos a pena. Um batom vermelho não é só um batom. É um universo de sensações. Não do mundo, mas nossas, só nossas. Por nós, para nós.
Vale a pena! Experimentem! (Sem medos!)
[E se postarem fotos no insta, usem a tag #redlipstickday. E depois, se quiserem juntar a vossa foto ao mural deste mês, enviem-na para marianne.notsofast@gmail.com. Ah, e tragam uma amiga também (ou um amigo, vá! Aqui há lugar para todos!)!]
Dei-me a mim mesma uma folga, hoje. Limitei-me a escrever, a almoçar a ver uma série, a não stressar com nada. Serviços mínimos mode: ON. De vez em quando faz bem. E, porra, eu mereço!
Deitámos ao entardecer as dúvidas. Unimos os corpos e deixámos que fosse essa a matemática que responde ao problema. Os cálculos são facciosos. Moldamo-los conforme nos faz jeito, sem que atentemos à verdade dos factos. Quando os corpos suam, a matemática é a ciência menos exacta. Não há nada que permaneça imóvel. Tudo perde o nome e o sentido. Portas fecham-se para que a claridade se circunscreva ao breve momento em que a paz desce sobre a pele e se faz memória.
Estes dois corpos, duas ruas sem saída, encontrados num ponto de fuga, geometria pouco capaz. Restam os peitos que batem acelerados, o fogoso olhar em descontrolo. O tempo ganha minutos, não se sabe se não são verdadeiros os relógios de Dali. Tudo se molda.. Nada é exactamente como os corpos acreditam ser.
Já nos desafiaram tantas teorias. Contradisseram-se todas as certezas, os pantones mudaram de cor, acrescentaram-se luas ao planeta que só demora dois minutos a girar.
No amor, como nas perdas, ausentam-se as certezas dos números exactos e a vista ganha nova dimensão. E nem o silêncio, esse imperador benévolo, se mantém intacto e permanente.
No tempo em que os corpos se fundem, o que resta do mundo é uma névoa demasiado fugaz para se fazer notar.
Quando eu era miúda, até aos meus 27 ou 28 anos (e agora que digo isto começo a relacionar as coisas), era intempestiva, impulsiva e destemida. Dava-me na telha fazer uma coisa, fazia. Sem medos, sem "ses", sem nada. Era para fazer, fazia e pronto. Depois veio o medo. Comecei a ser muito menos impulsiva, muito mais cautelosa, muito mais medrosa. Medo de falhar, já vos disse aqui há tempos. E se isso tem lados maus, tem outros muito bons.
É o medo que me congela e me faz duvidar de mim - e eu sei que não devia, sei a teoria toda, mas tenho medo na mesma. É o medo que me impede de arriscar mais, que me obriga a dar um passo de cada vez, em vez de desatar a correr. Mas é também o medo de falhar que me faz ser super-perfeccionista e exigente comigo. Eu tenho tanto medo de não estar à altura que, quando faço alguma coisa, faço com todo o empenho.
Os bolos, por exemplo. Comecei devagarinho, sem grandes invenções. Mas como faço questão de fazer o que me pedem acabei por começar a levantar voo e a fazer coisas cada vez mais complexas. O bolo que fiz para a Maria, há quinze dias, mostrou-me que sou capaz - não me entendam mal: eu sei que sou capaz daquilo e de muito mais... mas há o medo a travar-me, sempre - e fez-me perceber que o medo é dispensável. E eu achei mesmo que tinha perdido o medo. Até ter o bolo da Casa do Gil para fazer.
Fiquei a pensar: é o medo que me atira para a frente. É o medo que me faz fazer as coisas com alma. É o medo que me faz não me importar com as horas que passo em pé, a moldar bonecos, a dar vida aos bolos. Quero que saia tudo perfeito, faço tudo com o máximo cuidado, até chegar onde quero. E, neste sentido, o medo é uma coisa boa. Não me permite contentar-me com o mais ou menos, não me permite fazer tudo sem pensar em nada, só por fazer.
Portanto, já sei que sou capaz de tudo. Mas, perante os desafios que vão surgindo, tremo sempre um bocadinho. E isso não tem que ser mau.
Ontem foi um dia do catano. Do cansaço extremo à vontade de fazer, com passagem por lágrimas impossíveis de controlar, houve de tudo. Bom, eu explico: tinha dormido quatro horas e precisava de terminar um bolo. Este bolo:
Este ano decidimos, entre amigas, fazer uma troca de prendas em modo "Amigo Secreto". Só que não estamos para nos chatear/não temos tempo para gerir a coisa. Andámos à procura e encontrámos um site que faz exactamente isso: sorteia os amigos, manda a informação necessária para cada um, permite que se façam perguntas (anonimamente, claro!) ao amigo secreto, para aferir melhor os seus gostos, dá para criar listas de desejos (que também podem ajudar quem oferece) e... zero chatices!
Para o caso de andarem às aranhas com sorteios de Amigos Secretos, fica a dica: Elfster.
Dada a exaustão, esta semana adio a publicação da short-story. (Se escrevesse agora saía uma coisa bonita, de certeza...)