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Ando ao sabor dos enjoos e do sono. É isto que detesto nas gravidezes: ficar refém de necessidades que não são minhas mas que também são minhas. Não consigo sequer pensar em comida. Cozinhar (e tenho que cozinhar todos os dias) é meio caminho andado para não conseguir comer. Hoje, por exemplo, preparei uma caldeirada de peixe para o miúdo e acabei a almoçar muesli seco. Não consigo pensar em comer carnes e peixes como fazem as pessoas normais. É uma agonia de todo o tamanho.
Hoje, porém, estou em experiências. Por culpa dos enjoos andava a tomar Nausefe. Para quem não sabe, Nausefe são uns comprimidos, supostamente milagrosos, para os enjoos, náuseas e vómitos, achaques muito comuns em gente grávida. Acontece que os efeitos secundários daquilo são... náuseas, enjoos e vómitos (entre outros bonbons, como diarreia e obstipação). Eu, enjoada credenciada, andava a tomar dois de manhã e um ao deitar. Hoje, farta dos enjoos e do sono (que aquilo também dá muito), decidi testar-me e passar o dia Nausefe-free. Pasmem-se: não estou enjoada. O sono mantém-se, mas os enjoos, até ver, não apareceram. Continuo sem conseguir comer em condições, mas só o facto de conseguir estar há meio dia sem estar agoniada é assim uma grande vitória!!
Quando engravidei da minha filha mais velha foi a alegria geral (depois do choque inicial). O segundo filho TROUXE com ele comentários do género "que bom, agora já ficas despachada, tens um casal". O terceiro filho traz olhares de espanto e a pergunta recorrente "mas queriam ou foi um acidente?".
Esclarecendo: sim, queríamos. Não, não foi um acidente. Sim, adoro números ímpares. Não, não gosto de números pares. Este terceiro filho desempatará os géneros cá de casa e está óptimo assim. Será o último filho, muito desejado, muito esperado, muito bem-vindo. E lá se vai o já-tens-um-casalinho-já-estás-despachada.
[Nos vossos teclados não sei, mas no meu o S e o X estão pegados. E eu escrevo sem olhar para as teclas. E obrigada às 746 pessoas que me alertaram para a gralha...]
Esta que vos escreve padece de todo um mal-estar geral quando se encontra neste estado dito de graça. Acontece que isto não tem graça nenhuma. Para terem uma ideia:
- Acordo às 8h. Trato dos miúdos, bebo um copo de leite e sigo viagem. Assim que sento o rabo no carro começam os arranques. Não do carro, mas meus mesmo. Vómitos, náuseas e afins.
- Deixo a catraia na escola e sigo para café com a minha mãe. Bebo o café sem pensar muito no assunto e como meio pão de deus (divido com o meu mai novo) ou meia carcaça (idem). Continuam os arranques.
- Regresso a casa, engulo o ácido fólico e dois Nausefe, sento-me dez minutos à espera que a coisa passe. E a coisa passa.
- Começo a pensar no que vou fazer para o almoço e regressam os arranques. Acabo por não fazer nada e preparo antes uma salada aditivada com sementes (linhaça, chia, girassol, sésamo e goji).
- A meio da tarde começa a dar-me a fome, mas a vontade de comer é nula. Acabo a comer fruta e um iogurte. Regressam os arranques.
- Vou buscar a miúda. Preparo-lhe uma torrada quando chegamos a casa, dou uma dentada naquilo e regressam os arranques.
- Começo a fazer o jantar, sempre aos arranques. Faça eu o que fizer, o resultado é sempre o mesmo: não consigo comer. Portanto, acabo a comer uma sopa ou salada ou fruta ou uns cereais. E regressam os arranques.
- 21h30: cozinha arrumada, putos deitados, eu enjoada. Deito-me. Passa-me a maresia até ao dia seguinte...
De maneiras que, com quase 2 meses de gravidez, o saldo (em peso) é... zero. Ou melhor, na verdade, já perdi um quilo. Claro que vou recuperar isto tudo lá para as 16 semanas, quando os enjoos derem por terminada a sua missão (espero eu que eles façam isso...). Claro que vou engordar um disparate de quilos no final, porque esta gravidez acertou mais uma vez naquela época diabólica para mim: o Natal. E eu, que até já sei isto tudo, por experiência provada e comprovada, já sei que, quando chegar Dezembro vou esquecer todos estes discursos de peso e comer o que me apetece, quando me apetece. Hei-de dar entrada na maternidade mascarada de baleia, mas não faz mal. É a última gravidez e depois desta, sim, entrego-me de alma e coração (e corpo, pronto) à missão de perder o peso ganho em três gravidezes. Até ver, tenho 14 quilos para perder. Calculo que isto no final acabe nos 18 quilos a abater. A ver vamos. E daqui a um ano penso nisso... para já só consigo mesmo pensar que os dois Nausefe que tomei há dez minutos já estão a fazer efeito e os arranques abrandaram. Por agora...
Ó gente que gosta de escrever: estão abertas as inscrições para o III Concurso Online de Escrita. Inscrevam-se!!
É muito giro escrever sobre os temas propostos, desafiarmo-nos, tentarmos superar-nos, ver onde as palavras nos levam.
Desta vez não vou concorrer... mas vou estar do lado de lá da barricada, a avaliar os textos. Bora lá, sim?
É ir a www.escrita-online.blogspot.pt, ver o regulamento e fazer a inscrição!
Se alguém sequer sugerisse que a minha vida um dia seria o que é hoje... era menina para passar horas a rir. Nunca imaginei ser possível ter tantos papéis num dia só. E mesmo assim não faço tudo o que quero. E ficam sempre pontas soltas para o dia seguinte...
Hoje, por exemplo, ainda tenho que lavar o aquário do peixe, passar a ferro, arrumar roupa, lavar roupa, estender roupa, fazer o jantar, lavar o chão da cozinha e, de caminho, dar atenção às três pessoas (e meia) que moram naquela casa. Aposto que, desta lista, umas quatro tarefas transitam para amanhã. Porque eu não chego para tudo, não chego a todo o lado e, cortesia da presente gravidez, sou agora um ser que precisa de dormir muito.
[Ah, e cereja no topo do bolo: uma máquina de costura avariada e eu sem saber quando a tenho de volta. Dava-me um jeitaço uma daquelas promoções do Lidl, com máquinas a 100 euros. Para ver se conseguia retomar a encomendas, que estão paradas há demasiado tempo!]
... dos enjoos, do sono (MUITO sono) e das dores de cabeça...
[Isto das gravidezes é muito giro mas os efeitos colaterais são do caraças... e tão dispensáveis!]
É horrível que os senhores do Pingo Doce tenham que trabalhar no 1º de Maio.
Mas não é horrível que também tenham que trabalhar no 1º de Maio os senhores
do Continente
do Jumbo
do Minipreço
do Lidl
da Zara
da Massimo Dutti
da Lanidor
da Lusomundo
da Castello-Lopes
do Ikea
da BP
da Repsol
da Galp
da Starbucks
da Fnac
da Worten
and so on...
[Isto, na minha terra, tem um nome: hipocrisia. Poupem-me!]
Vocês já sabem que eu não sou de floreados. Ter três filhos é isso mesmo: ter três filhos. Não é ser mãe-coragem coisa nenhuma. Mães-coragem são as que amparam filhos doentes e, muitas vezes, os enterram, num momento completamente contranatura em que uma mãe vê morrer um filho. Mães-coragem são as que sofrem maus tratos e ainda assim os aguentam porque não têm como sobreviver de outra forma.
Eu sou só uma mulher que um dia sonhou ter três filhos. E sou uma mulher casada com um homem que quis tantos filhos quanto eu. Sou também uma mulher com muita (muita mesmo!) facilidade em engravidar. E sou uma mulher feliz nesta vida de mãe de dois-e-meio. Claro que não é fácil: juntem uma miúda compreensiva mas que exige atenção, um miúdo com quase ano e meio, que ainda não anda pelo próprio pé e que depende de nós para quase tudo, e uma semente de sésamo embutida que me dá MUITO sono e alguns (demasiados) enjoos. Não é fácil, mas não é impossível.
E o lado financeiro da coisa? Para nós os filhos não exigem grande coisa. O que custa mais é o primeiro, que envolve muito hardware: camas, carrinhos, mudadores de fraldas, cómodas, banheiras, etc. Os que vêm a seguir usam as mesmas coisas que o primeiro. A roupa é herdada dos irmãos (o meu filho, por exemplo, está neste momento vestido com um babygrow cor de rosa, da Minnie, e ainda não o noto efeminado por causa disso). Tenho amigas que me dão e emprestam roupa (e é uma sorte). Os meus filhos só têm roupa nova nos saldos ou para eventos ultra-especiais (o casamento de uma prima nossa, onde serão uns dos meninos das alianças, por exemplo) e mesmo assim é roupa comprada na Zara. Não sei o que se vende na Girândola, na Laranjinha nem na Petit Patapon, confesso. Nem faço questão de saber. O mais caro, no meio disto tudo, são as fraldas, as vacinas e as consultas de pediatria (e só vão a consultas particulares porque o pediatra era o pediatra do meu marido e confiamos nele de olhos fechados - não fosse isto e eram seguidos no centro de saúde sem problemas nenhuns).
E as escolas? Públicas, obviamente. A miúda ainda está num colégio privado, mas vai sair para fazer a pré no público. E eles, os mais novos, só irão para a escola quando tiverem 3 ou 4 anos, e tentaremos que seja para a pública também. Eu andei sempre em escolas públicas e valorizo imenso este ensino. Ah, e tal, mas é um risco... Ai é? Não me parece! Quantos meninos finos de colégios privados se drogam e se embebedam e vandalizam coisas e tratam mal os colegas? Imensos - tal como os meninos menos finos de escolas públicas (estou, obviamente, a fazer uma viagem no tempo até à adolescência deles).
Para nós, este terceiro filho é uma terceira bênção na nossa vida. Estamos felizes. Havemos de estar felizes e cansados daqui a uns tempos, mas temos a certeza de que eles os três têm um tesouro inestimável para a vida inteira: um par de irmãos, companheiros de brincadeiras e disputas, e um amor enorme entre eles. E isso para nós vale muito mais do que todos os bens materiais que poderíamos eventualmente dar à mais velha, se só a tivessemos a ela.
Vi telejornais, li posts, li timelines do facebook e sabia perfeitamente que a coisa estava caótica. Mas precisava de fraldas. Por isso peguei na minha mãe - que precisava de outras coisas - e fomos espreitar o Pingo Doce do Fórum Sintra. Não consigo pôr em palavras o que vi. Centenas de pessoas enfileiradas, munidas de sacos e carrinhos vazios, à espera. As grades fechadas. Uma voz-off a anunciar que o tempo de espera para as caixas era de cerca de 3h e que a circulação dentro da loja era impossível. Quando fosse possível voltar a circular as grades seriam reabertas para permitir entradas faseadas. Olhámos para aquilo e seguimos caminho: apesar de ser uma promoção que dá muito (mesmo muito!) jeito, tenho conseguido comprar tudo o que precisamos sem promoções destas, portanto não nos juntámos às filas intermináveis e seguimos caminho. Duas horas depois, a voz-off continuava a dizer o mesmo, as portas continuavam fechadas e as filas de gente à porta continuavam sem ter fim à vista.
O objectivo da Jerónimo Martins (e de qualquer empresa, empresário, etc.) é apenas um: lucro. Aquilo não é uma organização sem fins lucrativos, portanto o propósito é este: gerar lucro.
Os empregados da Jerónimo Martins precisam de comer (como toda a gente) e trabalhar um dia pelo triplo do que ganham num dia normal, terem direito a uma folga extra e poderem usufruir da promoção durante mais uns dias parece-me um bom negócio.
E o que aconteceu ontem espelha bem o que se passa neste país. Houve milhares de pessoas suficientemente necessitadas desta promoção para se sujeitarem a horas de espera, de stress e de cansaço.
Este país não se indigna com as pessoas que esperam dias à porta dos sítios que vendem bilhetes para concertos de grandes estrelas (Madonnas e U2s da vida, por exemplo). Não se indigna com quem põe estes bilhetes à venda. Este país não se indigna com as pessoas que fazem fila à porta das Fnacs para serem os primeiros a comprar o último iPad, o último iPhone ou ou último iMac. Não se indigna com a Apple por ter estes produtos tão apetecíveis (e quem diz a Apple diz outras marcas).
Não. Este país indigna-se com a cadeia de lojas que disponibiliza uma promoção que, apesar de ter em vista o lucro, beneficia milhares de pessoas. E indigna-se com aqueles que, por necessidade, se sujeitaram a passar um feriado épico. Este país não se indigna com o luxo, mas indigna-se com a fome. E eu tenho vergonha deste país. Não do país da Jerónimo Martins nem do país dos que foram ontem ao Pingo Doce, mas sim do país de todos quantos criticam a iniciativa porque não percebem que, a justificá-la, está um país carenciado, depauperado e sem saída.
[E às tantas os que andaram à porta da Fnac para comprar o último iGadget são os mesmos que ontem tiveram que passar horas à porta de um Pingo Doce qualquer, para poderem comprar mercearias e etc. a metade do preço normal...]
[ 6 Semanas - DPP... lá para o Natal! Ah, e é só um. Eu estou é gorda! ]