Premissa: toda a gente erra.
Todos, a não ser que sejamos a Madre Teresa de Calcutá (anyone? Não? Bem me parecia), tendemos a olhar mais para o nosso umbigo do que para o que o rodeia. Ou seja: vemos o nosso lado da história antes de qualquer outro lado. Olhamos a vida da nossa perspectiva e pormos os pés nos sapatos alheios não é tarefa fácil nem que ocorra muitas vezes. E, nisto, acontece repetirmos erros que apontámos a outras pessoas quando elas os cometeram. Mas agora, que somos nós a cometê-los, não somos capazes de os perceber e muito menos de os assumir.
Um exemplo: tive alturas, em namoros idos (coisas quase do milénio passado) em que, assim que a coisa se dava, eu morria para o mundo. Deixava de estar com os meus amigos, deixava de ter disponibilidade para programas de amigas, telefonava muito menos. É normal e expectável. Não quer dizer que seja correcto. Demorei muito tempo a perceber a dimensão do meu erro. Afastei-me das minhas melhores amigas e na altura nem me apercebi, entretida que andava com o meu umbigo (e com o do namorado, já agora). Bati com os pés na terra, não quando elas me chamaram a atenção para o facto (porque aí tive sempre justificação e resposta e mil maneiras de explicar o que se andava a passar, mas assumir a verdade... não), mas apenas quando a relação terminou e eu percebi que, agora que estava numa dança a solo, estava, na verdade, sozinha. Elas, com razão, tinham ido à vida delas. Não deixaram de ser minhas amigas, mas deixaram de estar lá todos os dias. Não, na verdade, não deixaram. Eu é que deixei de as procurar e comecei a achar que elas não estavam lá. Mas estavam. E eu aprendi com o erro. No dia do meu casamento, lembro-me perfeitamente de me terem pedido que não me afastasse e de eu ter respondido que não ia voltar a cometer aquele erro.
Hoje, casada e com filhos, os programas com amigas são muito mais raros, cortesia da falta de tempo e do excesso de tarefas. Mas, curiosamente, sinto-me muito mais próxima delas agora do que noutras alturas. Estamos perto, é fácil combinar qualquer coisa, nem que seja um cafézinho rápido. Tenho, acima de tudo, disponibilidade mental para isso: sei que me apetece estar com elas, sei que elas fazem parte da minha vida e sei que consigo arranjar meia hora para pôr a conversa em dia.
Mas é por já ter estado do outro lado, cega e só com olhos para o namorado da altura (e com trabalho e o resto da vida a correr) que me custa que, quem já me apontou (e bem!) o dedo agora faça a mesma asneira que eu fiz e ande longe. E custa-me essencialmente porque sei que há-de haver um dia em que a ficha cai e a pessoa se apercebe do tempo que perdeu. A amizade não desaparece nem se transforma (porque essa é a espinha dorsal das amizades verdadeiras). Mas as saudades magoam. E é isso que sinto: saudades das minhas amigas que, engolidas pelo vórtice da paixão e do trabalho e tudo o mais, delegaram para último plano a amizade que sabem que está lá para o que der e vier.
[Resumindo: tenho saudades tuas, miúda. Volta!]