Hoje de manhã, não sei porquê, senti um cheiro estranho em casa. Estranho e bom. Delicioso, na verdade. Não percebi de onde vinha. Só sei que fechei os olhos, nariz espetado no ar, e voei para 2005, 2006... quando ainda vivia sozinha naquela casa. Era o cheiro dos meus sábados de manhã, quando tratava das limpezas. Era o cheiro da Primavera naquela casa que na altura era habitada só por mim (e por dois gatos de quem tenho imensas saudades). Hoje de manhã cheirou-me a casa. E não pude evitar o sentimento de nostalgia que me tocou. Estou melhor agora, amo a vida que tenho agora. Mas fui tão feliz ali, sozinha, naquele mundo que era meu, que fui eu que criei... Se pudesse vivia tudo outra vez (com a premissa de que, passados dois anos, a minha vida fosse exactamente aquilo que é hoje).
Ontem, na Sport Zone, deparei-me com uma rapariga na caixa. Ora a miúda tinha umas gigantescas (já de si grandes e claramente já a precisarem de manutenção) unhas de gel. Metade transparente, metade verde-sporting. Com desenhos. E brilhantes. E eu só pensei... "f***-se!"... Que coisa mais horrível, pá! Ca nojo! Falta de nível, de classe e de elegância, elevado ao cubo até ao infinito ida e volta!
Unhas de gel? Sim, desde que sejam pequenas, discretas e uniformes. Nada de manicures francesas invertidas (por exemplo, vermelhas na ponta e transparentes atrás), nada de borboletinhas, florzinhas, pintinhas, estrelinhas e o caraças (ia dizer pior mas contive-me). Francesa normal, branco leitoso e as cores normais, que as pessoas normais colocam com normalidade nas unhas. Unhas de gel à porno-star é do mais brega que há. Argh!
É giro ver o entusiasmo com que os amigos acolhem os nossos projectos. É bom ouvir um "isso é genial! Vai correr super-bem!" e sentir que é verdadeiro, que quem o diz o sente. É bom pedir ajuda e ouvir um "conta comigo para tudo, vou ajudar-te a pôr isso a andar!". É bom saber que temos amigos ao nosso lado, ponto final parágrafo.
Estou na fase de juntar pecinhas. Já pedi ajudas, sugestões, dicas. E toda a gente tem sido super-entusiasta da coisa, o que só pode deixar-me muito feliz. E eu sinto que este é o meu caminho, que isto é o que quero fazer, que é a isto que me quero dedicar...
A todos vocês, que me apoiam, que me incentivam, que ficam felizes por mim, o meu sentido e humilde MUITO OBRIGADA!!!
[Claro que também há quem não se entusiasme, quem ache que eu me devia dedicar a outra coisa, quem ache uma perda de tempo. Curiosamente, este género de feedback veio dos sítios de onde eu esperava mais apoio. Mas no problem, amigos como dantes. Eu cá estou para provar quem é que tinha razão...]
Eu compro muita coisa segundo o princípio "vou levar e depois logo vejo o que é que faço com isto". E, até há coisa de três ou quatro meses, o que acontecia era que as tais coisas sem propósito definido acabavam no lixo por se terem estragado ou por ter passado o prazo de validade. Portanto estes dois sites são assim a atirar para o MUITO úteis.
[E sim, é verdade, quando não estou por aqui é porque estou... na cozinha... bom, não será exactamente assim, mas 80% do tempo que passo em casa é na cozinha. E não, não me sinto escrava do fogão. Bem pelo contrário. Porque é na cozinha que tenho dado largas à criatividade...]
Sinto que me falta material para os meus on-going-projects...
Portanto, o meu próximo objectivo é comprar um netbook destes... estou é indecisa entre memória e autonomia... (ou seja, privilegio o que tem mais memória e é mais barato ou o que tem mais autonomia e é mais caro?)...
Ao lado do meu prédio há uma mercearia onde vou muitas vezes. A dona é... básica, pronto. Anteontem estava um casal de leste à minha frente, os dois a falar (suponho eu) russo entre eles e português correcto mas com sotaque com a senhora da mercearia. Quando eles sairam:
Ela: esta é portuguesa e casou com um russo. Eu: olhe que ela não parece nada portuguesa. Ela: ai parece, parece, é morena. Eu: mas fala russo e português com sotaque. Ela: mas fala bem português, se calhar tem família portuguesa, pronto. Eu: pronto, está bem...
No fim desta conversa dei por mim a pensar por que raio é que eu me dou ao trabalho de continuar as conversas com a senhora...
Ontem ao jantar, filha a brincar com duas Pinypons:
Ela: elas são namuadas e são muito felizes... Pai: não são nada namoradas, as meninas não namoram com meninas... Eu: queres fazer o favor de te calar e de não dizer isso à miúda? Filha, pois é, são namoradas! Ela: pois é. Gostam muito uma da outa! Pai: mau... Eu: a seguir vais dizer o quê, que as meninas não brincam com bolas e carrinhos? Ele: podem brincar... Eu: ... e que os meninos não brincam com bonecas? Ele: isso já é outra conversa... Eu: esquece. Ela tem que crescer a saber que tudo pode acontecer. Não a quero preconceituosa nem castrada. Ele: humpf...
Tenho portanto uma filha muito à frente e um marido que parou algures em 1950. E eu jogo claramente na equipa da minha filha. O que faz com que passe a ter não um, mas dois lá em casa para educar.
Lá na Herdade estava um grupo composto por quatro casais, uma mulher "extra" e seis miúdos. Gente de berço, elegantérrima, chiquésima, que trata os filhos por você, que se tratam entre eles por você e que não tinham mais de 40 anos. Um must, portanto. Gente daquela que fala com os cantos da boca para baixo e que diz coisas como "maçada", "Ó Bernardo, pare já com isso, querido" e afins. Os miúdos (a mais velha com 9 anos, a mais nova com 4, os outros ali pelo meio, três rapazes, três raparigas) a tratarem-se uns aos outros por você, "ó Gracinha, venha cá", "Manel, onde é que foi?", "quer jogar à bola, Vasco?" e por aí adiante. Chiquésimos, já disse?
Às tantas a minha cria andava lá a brincar com eles (é assim, de vez em quando misturam-se com o povo, uma espécie de coisa meio National Geographic. E uma das mães sempre a chamá-los. E eu já a passar-me. E os miúdos sempre a virem para ao pé de nós, conversar. E nós a tratarmo-los por tu, como as pessoas normais fazem. E eles na boa. Educadíssimos, é um facto, mas à vontade.
A meio do jantar de sábado a minha filha foi pintar para ao pé deles, para uma salinha de pinturas improvisada. E eu fui indo controlar. A dada altura, para chegar à tal sala, passava-se por um corredor e por uma salinha de estar. E lá estava um dos miúdos sentado de perna aberta, outro dos miúdos (rapazes, os dois) de joelhos em frente ao primeiro, cabeça enfiada no meio das pernas do outro. Passei, levantei o sobrolho e não disse nada. Mas o que estava sentado desatou a guinchar "ajude-me, o Bernardo quer-me morder a pilinha". Elegantérrimos. De berço. E ainda assim...
Hoje foi o primeiro dia que vim trabalhar de Havaianas... e isto, para mim, é um privilégio. Claro que tenho os sapatinhos de salto alto pipis no carro, mas só os calço mesmo se precisar. Se não... é assim: havaiana no pé e sol nas costas!
Aproveitei a hora de almoço e fui fazer uma caminhada. Ao fim de 20 passos já tinha os tornozelos a ganir. Obriguei-me a fazer o percurso todo. E consegui. Com dores, mas consegui. Obrigadinha, Óscar*, por me teres dado cabo das pernas (e do rabo, mas esse agora não se fez sentir) ontem!
*Óscar: o cavalo branco da foto mais abaixo, que montei para dar um passeio pela Herdade, ontem de manhã. E que me f**** os tornozelos (porque o tipo queria era comer e eu passei o tempo a apertá-lo para ele andar) e o rabo (porque a sela era, vá, dura).
Sentar-me na sala de jantar, num sofá com vista para uma janela-de-cima-abaixo, rodeada de almofadas, de revistas de cozinha gourmet, de arquitectura e de decoração, pegar num livro de culinária, folheá-lo, copiar para o meu cook-book uma ou duas receitas que me interessaram, escrever uma crónica, escrever o início de um conto, chill-out a tocar, um cheiro delicioso a bolo de coco que estava efectivamente delicioso (e eu não gosto de coco...), o sol lá em cima, algumas nuvens, os miúdos lá fora a correr, vinte ou trinta páginas do livro lidas e muita vontade de parar o tempo.
Apaixonei-me por tudo naquela casa. Pelas jarras, pelos pratos, pelas flores, pelas cores, pelo ar rústico-vintage dos elementos, pelas mesas postas, pelos quartos, pelos jardins desarranjados. Tudo. Eu podia viver assim.
Eu gosto de pessoas que me ensinam. Gosto especialmente de pessoas que me ensinam coisas sobre temas acerca dos quais sei bastante. Não estou a ser sarcástica. Gosto mesmo. Porque, mesmo no campo do que nos apaixona e de que sabemos muito, há sempre ainda mais para aprender. E é disso que eu gosto. Da inesgotabilidade* do saber.
*Provavelmente um neologismo. Coisas que acontecem.
A cozinha, obviamente. Duas vertentes: o que se come e o que se vê (e se ajuda a) fazer.
À chegada, já tarde, tivemos sopa de legumes (a melhor que já provei), arroz de vegetais com carpaccio de vitela e bacalhau com gambas e gengibre, mousse de chocolate com baba de camelo (parece improvável... mas é divinal).
No dia seguinte, à hora de jantar enfiei-me (eu e quase toda a gente que lá estava a passar o fim-de-semana) na cozinha (enorme, linda, cheia de luz, inspiradora) a ver fazer e a ajudar a fazer o jantar. Tomate com alecrim, courgette com roquefort, cachaço de porco preto gratinado, samball de marisco, bolo folhado de morango. Tudo coisas que hei-de reproduzir (e alterar) em casa. Pelo meio, copos de vinho branco gelado, muita conversa, muita aprendizagem e muita, muita inspiração...
Para o último almoço, sopa de legumes, salada de vegetais, presunto e cogumelos frescos, umas sandwiches de atum e gelado caseiro de morango.
Agarrar nas tralhas, nos meus dois amores (lálálálálálá) e zarpar. Para sul, onde houvesse sol, boa comida e descanso com fartura. Apetecia-me estar um fim-de-semana inteirinho de papo para o ar, numa de não fazer rigorosamente nada!
Dizia-me o meu patrão ontem que às vezes fica impressionado com a forma como eu ultrapasso as coisas más que me acontecem, aquelas coisas supostamente "grandes", e como me deixo abater com ninharias. Verdade. É nas ninharias que eu me permito resvalar. É nas ninharias, que eu sei que não têm importância nenhuma, que eu me dou espaço para ceder. Porque sei que aquilo não tem realmente importância nenhuma. E porque sei que passa depressa.
Em coisas aparatosas, daquelas de fazer quebrar, aguento-me. E não acumulo. Não vai haver um dia em que vou rebentar, porque não há nada para rebentar. As coisas acontecem, eu lido com elas, ultrapasso-as e não penso mais no assunto. Como é que consigo? Não sei. Sou assim, sempre fui. E às vezes gostava de não ser. Porque sinto que esta frieza, esta distância, este pragmatismo é um bocado grande demais para o que é suposto. But then again... quem é que quer saber do que é suposto??
Aquelas pessoas que, no MSN, respondem "lololololololololololol" a tudo, seja a uma piada, a uma conversa séria ou a uma conversa de circunstância. Ca nervos!
... não é norma, mas de vez em quando lá calha. Deitei-me não tão cedo quanto isso, mas levantei-me cedinho, cedinho. E preparei tudo e saí de casa mais ou menos à hora a que me costumo levantar. Portanto cheguei ao escritório muito antes do normal. Portanto já estou cheia de fome. Portanto já despachei uma data de assuntos. Portanto não tarda despacho o resto. Portanto...
... e depois há um dia em que um dos nossos sonhos começa a realizar-se. Não porque nos tenha caído do céu, mas porque corremos atrás dele. E acreditamos que temos talento e que vai correr bem.
O meu sonho começou a realizar-se hoje. É um bom dia para começar!
Acordar, tratar da filha, tratar de mim, sair de casa, levar a filha, ir a Lisboa, chegar às 10h30, apanhar pessoa, levar pessoa aos Correios, sair dali às 10h45, entrar na 2ª Circular.
Andar de
va
ga
ri
nho.
Chegar a Queluz às 12h10, deixar pessoa, esperar por pessoa, seguir atrás de pessoa, chegar ao trabalho às 12h45, atender telefone a outra pessoa, guiar pessoa no percurso para chegar ao meu escritório, reunir com pessoa, configurar 4 caixas de email a pessoa, despedir-me de pessoa, atender telefone a pessoa e guiá-la para sair desta cidade, rumo a Lisboa.
Abrir mail, ver mails, abrir editor do blogger, escrever isto. 14h17. Pensar que se calhar não era mal pensado ir almoçar a seguir.