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Ontem fui à apresentação do livro da Catarina - nem poderia não ir!
Há uma coisa que me aquece sempre o coração nos eventos-da-Catarina: ver sempre as mesmas caras. Caras que só vejo ali e que não conheço pessoalmente (de ter sido apresentada, isto é). São os amigos dela de sempre. Estão sempre lá. A rede é enorme. E forte. Invejo-lhe isso: a rede de amigos de sempre, que não tenho (assunto para outro post, voltemos à programação inicial).
Bom, casa cheia para aplaudir as conquistas da Catarina: o livro e o objecto do livro - a nova Catarina. Ouvir a Isabel Zibaia Rafael foi uma delícia. Ouvir a Catarina é sempre uma delícia. Claro que me emocionei (o termo certo é "chorei"). Claro que me revi numa data de coisas. Agradeci-lhe mentalmente por também eu já ter feito parte do percurso, muito impulsionada por ela - vide o post sobre a inspiração que está mesmo abaixo deste. Um percurso feito com recursos diferentes, mas ainda assim com conquistas feitas. Deliciei-me perante o beijo e o abraço que o Gonçalo, filho mais velho da Catarina, lhe deu quando ela terminou o discurso. Ri-me entre amigas, entre conhecidas, entre gente que gosta da Catarina a sério.
À noite, no silêncio, agarrei o livro e li metade. Lembrei conversas que fomos tendo durante o percurso dela, celebrei as vitórias dela "para dentro". Aprendi. Tive ainda mais vontade de não desistir, de me manter aqui, onde estou, a tentar ser mais saudável e mais feliz.
Obrigada, querida.
Desde que a minha filha começou a interagir com objectos que fiz questão de a rodear de livros. Já tem uma biblioteca considerável, entre livros que lhe comprei eu e livros que lhe foram oferecendo. Quando achei que já tinha idade para isso comecei a levá-la à biblioteca, numa espécie de momento mãe-e-filha, muito nosso. Ela adora. Já há muito tempo que não a levo a ouvir a hora do conto, mas tenho que tratar disso porque já temos saudades.
Ela sempre me viu a ler muito. Sempre me viu com um livro na mala, porque eu não vou para lado nenhum sem levar um livro para ler. Sempre me viu a ler nas férias e na cama, antes de dormir. Sempre lhe lemos histórias antes de dormir, e só em dias de maior cansaço saltamos a rotina e passamos logo ao beijinho de boa noite. Andava ansiosa por começar a ler. Já começou. Há umas duas ou três semanas sentei-me ao lado da cama dela, com ela já deitada, e pedi-lhe que me lesse uma página sozinha. Ela leu. Ajudei nos casos que ela ainda não aprendeu (os nhe, lhe, que e afins). Ela percebeu que é capaz sozinha.
Passou a despachar-se depois de jantar, para poder ir ler um bocadinho. Lava os dentes, veste o pijama, deita-se, acende a luz, escolhe um livro e fica a ler sozinha, até lhe dizermos que é hora de dormir.
Adoro. Adoro ver que ela gosta mesmo de ler. Adoro ver que ela já tem o hábito da leitura. Adoro ver que ela quer mesmo aprender mais para poder ler cada vez mais. Adoro saber que ela vai estar sempre bem acompanhada, enquanto houver livros bons para ela ler. Adoro sabe que vai passar momentos maravilhosos nas páginas dos livros que ler.
[Para mim, leitora compulsiva e viciada, pessoa que já se perdeu milhares de vezes nas histórias de pessoas que não existem, mulher que já foi mil coisas através das personagens dos livros que leu, é um orgulho sentir que a minha filha vai pelo mesmo caminho. Esta era a única característica que eu fazia questão que ela herdasse. Herdou outras (celulite, por exemplo - totalmente dispensável!), mas esta é a que me faz babar de orgulho!]
Impossível não amar a "minha" biblioteca! Acabei de andar entre o GoodReads (e a minha lista do que quero ler) e o catálogo da biblioteca, a reservar livros. Estão cinco reservados, hei-de ir buscá-los amanhã ou quarta. Escuso de andar lá à pesca nas prateleiras e tudo (se bem que foi assim que descobri uma data de livros que adorei ler!).
Ando há que tempos para experimentar a de Sintra (a "minha é a de Oeiras), mas, não sei porquê, aquilo não me puxa tanto... Sei que é gira, que tem muita, muita coisa, que tem actividades e tal e tal. Mas... a de Oeiras é ao pé do mar e há sempre estacionamento disponível perto e fica mesmo pertinho do meu Renato - e sim, estou a precisar de ir cortar o cabelo. Hábitos, que fazer?
... que estou a adorar os dois livros que estou a ler.
Isto...
"Assassino de Sombras", Val McDermid
Descobri esta autora por acaso, na Biblioteca. Este segundo livro que li dela não foi diferente do primeiro ("Compulsão", que adorei). Muito bem escrito, a trama bem orquestrada, as reviravoltas nos sítios certos. Foi uma leitura rápida e compulsiva!
Um livro "levezinho", lido a conselho de uma amiga. Gostei muito mesmo. Fez-me lembrar os universos do senhor Chris Cleave (autor de "Pequena Abelha", entre outros), que adoro. É um daqueles livros que nos toca sem que percebamos bem porquê; talvez porque relate vidas que podiam ser nossas, pessoas normais, que todos conhecemos. O livro "implora" para ser transformado em filme e, se for, há-de ser uma coisa leve mas sentida, daquelas que nos fazem sair da sala de cinema com vontade de fazer coisas, de ver coisas, de ir à procura da nossa felicidade.
"Despedida de Solteiro", Peter James
Mais do mesmo: um thriller dos bons. [Pequeno interlúdio: eu sei que leio muitos, muitos policiais. É o género que mais tenho lido nos últimos tempos, já falei sobre isso. Acontece que, talvez por ler tanto, sou muito cuidadosa na escolha do que leio. Policiais manhosos são mato. E eu não quero perder tempo a ler coisas manhosas. Tenho tido alguma "sorte" com os autores que vou descobrindo. Esta colecção da Gótica, chamada Nocturnos, tinha (ou tem - não sei se continua a ser editada) livros muito, muito bons. Fim do interlúdio.] Este é daqueles em que achamos que estamos perante uma coisa e afinal não tem mesmo nada que ver. Somos surpreendidos de vez em quando, mas assim em modo chapada na cara, zás, não estava nada à espera disto. Adorei!
"Mil Sóis Resplandecentes", Khaled Hosseini
Já falei várias vezes sobre isto aqui no blog: se há cultura que me intriga e apaixona é a cultura árabe. Ok, nem todas as culturas árabes são idênticas: a cultura marroquina não tem muito que ver com a cultura afegã, mas são ambas árabes. E eu sou fascinada por ambas. O que me interessa no universo árabe é muito abrangente: a religião, a história, as tradições... tudo, vá.
Quando comprei este livro sabia que, quando o lesse, ia voltar a procurar outros livros e filmes sobre isto. Não me enganei. Nem sequer estava muito virada para um livro duro e complexo (não no sentido da linguagem - que é bastante simples -, mas sim do tema) mas li-o no âmbito de um desafio literário de um grupo de que faço parte, no GoodReads. Demorei mais tempo a ler as 300 páginas desde do que demoro a ler 500 de um policial. Mas isto é para ser lido devagar, a saborear. De vez em quando lá vem um murro no estômago. E aprende-se muito: lá pelo meio está o manifesto (real) escrito pelos talibã aquando da sua tomada de Cabul e isso permite entender as diferenças entre a cultura árabe e o fundamentalismo talibã (que, embora se insira na dita cultura, vai muito além dela... para pior, óbvio).
Apaixonei-me pelas personagens, consegui "ver" os ambientes, as situações... e, lá está, fiquei com muita vontade de ler mais sobre isto e de ver e rever alguns filmes que estão em falta e outros que adorei (em particular, "Caramel" que, não sendo sobre o Afeganistão, é maravilhoso). De caminho, ficou a vontade de ler outras coisas que não policiais... (ando há que tempos para pegar nuns romances históricos que tenho cá em casa - acho que é o que faço, depois de devolver todos os livros que trouxe da biblioteca).
Pronto, lá está... um policial dos bons. Ainda assim, não está no meu top....
"O Leitor de Cadáveres", Antonio Garrido
Conheci este autor há uns anos, quando li o seu romance de estreia "A Escriba". Este segundo livro não está a desiludir nadinha! Já me fez lembrar "A Catedral do Mar" (Ildefonso Falcones): é um épico, passado na China medieval e estou a adorar a forma como o autor nos transporta àqueles locais. Ainda não cheguei sequer a meio, mas estou a gostar mesmo muito. Toda a história anda em torno de Cí Song, o primeiro médico-legista da história. Ora Cí Song existiu, foi realmente o primeiro médico-legista da história - e este livro conta a vida dele - de forma ficcionada, obviamente.
Acabei "O Assassino de Sombras", de Val McDermid. Acabei "Onze", de Mark Watson. Não faço ideia do que ler a seguir. Mas sei que ainda tenho uma semana e tal de muito, muito tempo para ler. E vim carregada com livros (trouxe oito, acho). Muito com que me entreter, portanto.
... para mim, são os que me dão vontade de escrever. Não acontece muito com os meus policiais, que não me puxam para aí (mas sim para pensar, para ligar coisas improváveis e para procurar "Wallys" pela trama fora). Acontece-me muito com romances-dos-meus. Eu não leio xaropadas românticas tipo "rich boy meets poor girls yadayadayada". Não me atrai, não me puxa. Os romances que leio tendem a ser densos, muitos deles são mais prosa poética do que outra coisa. E sei que são mesmo bons quando, assim que leio a última página e os fecho, me apetece sentar-me a escrever. Aconteceu-me ontem quando terminei o livro da Catarina. Não é um romance, mas está tão bem escrito que me deu aquela urgência de voltar às palavras-a-sério. (Era demasiado tarde e não voltei). Era isto: Catarina, apeteces-me escrever!
Conheci a Catarina por causa dos blogs. Não sei precisar quem chegou primeiro a que blog, se eu ao dela, se ela ao meu. Não importa. Foi em 2005. Conversávamos, trocávamos opiniões e um dia passámos à tangência e fomos, com outra amiga comum e o seu bebé de 10 meses na altura (quase 9 anos agora... ouch!), almoçar sushi na Baixa. Selou-se a amizade. A Catarina é doce. Se eu só pudesse dizer uma coisa acerca dela seria isto: ela é doce. Apesar da vida, apesar das perdas, apesar dos insucessos, apesar do que correu menos bem, apesar de tudo. Doce. Não deixa que o lado negro se apodere da luz e brilha. É daquelas pessoas que, no caos, é o espelho da serenidade. Ao pé da Catarina nada corre mal. A vida é sempre um regato manso e morno, onde gastamos horas sem pensar em mais nada.
A Catarina, mulher de palavras, escreveu um livro onde reune crónicas do seu blog (e não só). E se eu sou um bocado avessa a isto de editar blogs em livro, com o livro da Catarina deixei de lado esta minha mariquice. Na sexta-feira foi o lançamento. Peguei na minha filha ("nora" dela, embora o filho dela não saiba nem queira saber) e fomos ver a Catarina brilhar. Ri, emocionei-me, abracei-a, matei saudades, revi caras conhecidas, e no fim, já na rua, chorei. Chorei quando vi a dedicatória que escreveu no meu exemplar. Porque o livro é dela, o dia era dela, mas ela escreveu para mim. E eu chorei.
[À noite, senhor marido - que não lê um livro há anos, nem sente falta nem liga nenhuma - pegou no livro dela e leu-o. Todo. E riu e emocionou-se e ficou feliz, como eu também fiquei, por ver ali materializado um bocadinho da nossa Catarina. Um bocadinho que, como ela, só podia ser assim. Doce.]
Depois do passeio familiar à Feira do Livro, prometi a mim mesma uma ida a solo, para poder ver tudo como deve ser. Foi hoje. Combinei com a minha querida Meg (parceira de Frente&Verso, na Papel... vocês sabem) e com a querida Erica e lá fomos, almoçar, tagarelar e dar uma olhadela.
Conversámos p'a caraças (a sério... não sei se consigo imaginar trio mais conversadeiro!), elas comeram umas cenas altamente calóricas (que são as duas parvas de magras e podem comer tudo!) e eu almocei a minha relva salada de alface, mozzarella e delícias do mar, que levei de casa. Depois elas foram fazer pela vida e eu fiquei a bater perna na Feira. E fiz a coisa à minha maneira: subir pela esquerda, descer pela esquerda, subir pela direita, tornar a descer pela esquerda. E ir anotando o que me chamava a atenção e ir avaliando como distribuir o meu plafond. E comprar, claro.
Resultado:
"Deixa-me Entrar", John Ajvide Lindqvist
"O Cirurgião", Tess Gerritsen
"O Cego de Sevilha", Robert Wilson
"Histórias Extraordinárias", Edgar Allan Poe
"Os Crimes da Rua Morgue e Outras Histórias", Edgar Allan Poe
Até ter ido agora ali ao GoodReads achava que eram todos policiais... o "Deixa-me Entrar" não é. Mete vampiros. E eu sou muuuuuuuuuito renitente em relação a histórias de vampiros - gosto muito do "Drácula" porque é o original. Tudo o resto não me inspira confiança nenhuma - muito por culpa da não-sei-quê-Meyer e do seu Twilight, que não consegui ler (tentei, mas não consegui passar das 30 páginas do primeiro livro). Bom, logo se verá... pode ser que me surpreenda...
Depois, no carro, a notícia: o pequeno Rodrigo não resistiu à leucemia e morreu hoje. Nenhuma criança devia morrer sem ter verdadeiramente vivido. E não consigo sequer imaginar a dor daquela mãe, portanto nem entremos por aí...
Ontem à noite, marido a deitar-se e eu já instalada a ler o livro do momento. E diz ele: "já estás quase a acabar esse livro?? Mas ainda há dias o começaste a ler...! Tu vais tendo hobbies e coisas de que gostas de fazer, mas depois deixas meio de lado... depois de vez em quando lembras-te e voltas a elas. Mas desde que vivemos juntos que te vejo sempre com livros atrás e já perdi a conta à quantidade de livros que te passaram pela mesinha de cabeceira..."
Verdade. Ponto-cruz, tricot, crochet, bonecada de feltro, costura... gosto de tudo, faço isto tudo de vez em quando. Mas a única coisa constante é mesmo a leitura. E este ano estou a notar um aumento brutal da minha dedicação aos livros. As razões para isto estar a acontecer são tão simples... a primeira é a biblioteca: vou lá, trago sempre quatro ou cinco livros que tenho que ler no prazo máximo de seis semanas. Depois, pelo meio desses, vou lendo outros que vou apanhando... A segunda razão é o GoodReads. Uma pessoa mete-se ali e aquilo acaba por ser desafiante e motivador. O meu "problema" é que, a seguir a este, tenho ali 28 em fila de espera. E não sei em qual me apetece pegar primeiro...!
No domingo arrastei marido e filha para a Feira do Livro. Missão: autógrafos do João Tordo. Só. O resto, ver e comprar livros, hei-de fazer a solo porque não gosto de fazer compras acompanhada - não gosto de sentir que estou a pregar secas a ninguém... e eu e livros é igual a seca para quem está de fora!!
Chegámos, estacionámos com relativa facilidade e, por sorte, entrámos na Feira mesmo na área dos pavilhões da Leya. Oh que chatice! Corri aquilo com os olhos e o senhor Tordo estava mesmo ali à beirinha. Lá fui eu, com metade do meu espólio dele, cravar autógrafos. Conversámos um bocadinho, foi inspirador.
Demos uma mini-volta pela Feira, comprei um livro em que fixei os olhos ("Mil Sóis Resplandecentes", Khaled Hosseini) porque estava com um preço muito interessante e ala que se faz tarde. Conto voltar lá na semana que vem, durante o dia, com calma, sem gente a fazer-me companhia. Sou bicho do mato, eu sei. Adoro partilhar o que leio, adoro escrever as minhas opiniões acerca do que leio, mas gosto de comprar livros com tempo, lendo sinopses, explorando, vendo tudo. E é chato, eu sei.
Sobre o livro, deixo aqui a review que escrevi no GoodReads:
Depois de ter lido "Pequena Abelha" e "Menina de Ouro" e de ter adorado os dois, faltava-me ler "Incendiário", que é o primeiro romance do autor.
Logo no início estranhei: a ausência de vírgulas foi coisa a que tive que me habituar, mas consegui fazê-lo muito rapidamente. Na verdade, sendo este livro uma carta escrita pela narradora a Osama Bin Laden, ele está escrito na linguagem que ela utiliza e não na linguagem que o autor utiliza. Só por isso, já merece ovação de pé, porque nem sempre é fácil abandonarmo-nos daquilo que escrevemos. Chris Cleave faz isso com magistral talento.
Este livro conta a história de uma mulher que perdeu o marido e o filho num ataque bombista da Al Qaeda. Vamos conhecendo a história deles à medida que ela escreve a carta a Bin Laden. Vamos também conhecendo a fundo esta mulher, as suas qualidades, as suas fraquezas, as suas falhas. Dei por mim a conseguir ouvi-la falar. Senti uma empatia enorme com este mulher que não tem nada que ver com o estereótipo da heroína a quem é arrancada a vida que tinha. Ela é uma mulher de carne e osso, real, com uma humanidade incrível. Até hoje, poucas foram as personagens de quem posso dizer o mesmo. Curiosamente, quase todas as que conheço assim saíram da "pena" de Chris Cleave.
Li este livro de um fôlego (demorei dois serões a lê-lo). Não consegui largá-lo, colou-se a mim sem me dar escapatória. Queria mesmo saber o que tinha acontecido, como é que ela sobreviveu àquelas duas pessoas que eram o centro do seu mundo. E, à medida que o livro avança, vamos percebendo que a dor continua a crescer, que o sufoco aumenta, que o cerco se aperta. Para mim, é um livro a revisitar de vez em quando. Imperdível...
Acabei de ler isto ontem e hoje aproveitei o almoço para ver o filme. Bom... os argumentistas tomaram a liberdade de escrever uma história completamente diferente! Não é cortar uma coisa ou outra para caber em 90 minutos!! É mudar coisas essenciais! Um abuso!
Ainda assim, o filme é bom, é duro... Não tanto como o livro - porque, lá está, mudaram tanto que "aligeiraram" aquelas dores todas -, mas é duro.
Recomendo, claro! Mas leiam o livro e, se quiserem ver o filme, não deixem passar muito tempo entre uma coisa e outra ou perderão pormenores importantes...
Há autores que nos prendem pelo coração e não nos largam mais. Foi o que o Chris Cleave conseguiu comigo. O senhor Cleave tem 40 anos, trabalhou em jornais e depois houve um dia que decidiu dedicar-se à escrita a tempo inteiro. Em boa hora o fez!
O primeiro livro que li dele foi "Pequena Abelha": um murro no estômago, uma coisa crua, dura, quase cruel. Mas tão bem escrito que nem a dureza das palavras me impediu de devorar o livro. Isto aconteceu no Verão passado.
Depois, em Abril deste ano, li "Menina de Ouro", o seu mais recente romance. Mesma fórmula: crueza, realidade sem floreados, brutalidade e aquela escrita maravilhosa que é impossível pôr de lado.
Ontem comecei a ler "Incendiário", que é o seu primeiro romance (sim, não os li por ordem e não faz mal, porque as histórias não têm nada que ver umas com as outras). Li mais de metade do livro. De uma assentada. Neste livro ele faz o mais difícil: escreve mal. O livro é uma longa carta dirigida a Osama Bin Laden, escrita por uma mulher que perdeu o marido e o filho num ataque terrorista da Al Qaeda. A senhora assume logo de início que não tem o dom da escrita e mantém-se fiel a isso: não há vírgulas, há frases complexas por estarem mal escritas, mas ao fim de pouco tempo estamos a "ouvi-la" falar e é precisamente através desta característica que ela se materializa e se torna de carne e osso. Hei-de acabar o livro hoje e, a não ser que piore muito, vai ser mais um daqueles livros que ficam para a vida.
Entretanto descobri porque é que gosto tanto dos livros do Chris Cleave: pela humanidade das personagens. Ele não entra em estereótipos, não alinha na regra do herói/heroína. As personagens dele são reais: têm qualidades e defeitos, têm fragilidades, erram, não são perfeitas. São pessoas como todos nós conhecemos. Há sempre personagens de que não gostamos, não porque sejam más (no sentido "evil" da coisa) mas porque são o tipo de pessoa com quem não nos daríamos bem, se existissem.
Li reviews do livro que estou a ler em que se dizia que não se tinha sentido empatia com a personagem principal e que essa era a razão para não se ter gostado muito do livro. Eu estou a adorar o livro precisamente por causa da personagem principal: uma mulher imperfeita, com fraquezas, mas genuína e transparente, o tipo de pessoa que existe na vida real e com quem já todos nos cruzámos.
Resumindo: para mim, ali ao lado do Follett, do Falcones, do Tordo, do Saramago... está o Cleave. Mesmo!
Sim, eu (quase) só leio policiais. Tive uma fase "romance histórico", mas deixei de encontrar romances históricos daqueles mesmo bons, cheios de ritmo e fui lendo outras coisas. O meu gosto literário é esquisito, eu sei. Recuso-me a ler romances de cordel - Nicholas Sparks e sucedâneos, Sveva Casati Modignani e afins. Leio menos clássicos do que "devia" - há uma série deles que quero ler em breve e que estão ali ao lado a olhar para mim, mas se calho a ir à biblioteca já sei que venho de lá carregada de livros que são, regra geral, policiais.
Também gosto de livros "difíceis" (termo tão discutível, senhores...): Saramago, Kureishi, Cleave. Gosto muito de literatura oriental (de ou sobre o Japão, principalmente). E gosto de um ou outro romance que não encaixo naquela treta daquela categoria de "romance de cordel" - o "The Help", por exemplo. Nunca li Young Adult, mas acho que é coisa de que não vou gostar - o mais próximo que estive disto foi com o Crepúsculo... li 30 páginas e fechei aquilo, que era mau demais... demasiado teen, isto é. E eu tenho tempo para aturar cenas de teens... quando os meus filhos lá chegarem. Até lá, fico-me pelas cenas de crescidos (fiz o mesmo com filmes de animação: não via nada, mas vejo agora, com eles. E assim faz sentido. Agora ir empatar dinheiro no cinema para ver os Up da vida só porque sim... não me parece. Bom, adiante.
Já expliquei algures o meu fascínio por policiais. Se há quem se encante com histórias de amor (booooooooooooring), eu encanto-me com psicopatas, sociopatas, sangue e entranhas. Cenas...
Aquilo que verdadeiramente me interessa nos policiais é a mecânica mental da coisa. É perceber os requintes de malvadez dos criminosos. É perceber até que ponto o autor foi genial - se nos dá uma trama daquelas que ninguém consegue deslindar antes de ele próprio nos juntar as peças à frente dos olhos, então tem o meu voto. E não é fácil. Há muitos policiais manhosos. Há muitos policiais básicos, sem encanto, superficiais.
E depois há os outros. Há o "Messias", Boris Starling, que não me canso de elogiar. E, dentro do género, achei que seria difícil - para não dizer impossível - que alguém chegasse lá perto. Enganei-me.
Na minha última ida à biblioteca trouxe apenas livros que tinham sido devolvidos nesse dia. Policiais, todos. Um com laivos de histórico, mas ainda assim policial. Comecei a ler este, "O Suspeito", sem nunca ter ouvido falar dele. Claro que fui ao GoodReads investigar - and God knows o quanto isto é uma asneira, por vezes! Pareceu-me bem. Peguei-lhe. Não o consegui largar enquanto não o acabei. Foram 500 páginas em 3 dias (com dois filhos pequenos e blábláblá). Aquilo é viciante. E perturbador. E tão bem arquitectado, senhores!
Portanto, para vocês que de vez em quando vêm aqui espreitar as minhas opiniões literárias à procura de "o que ler a seguir", conselho de amiga: leiam isto. Vale a pena! (E como os restantes volumes desta colecção - ou seja, livros do mesmo autor, com o mesmo personagem principal - ainda não estão editados cá, vou recorrer ao meu bom amigo The Book Depository e tratar de fazer viajar um exemplar do segundo livro cá para casa. ASAP...)
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Eu não gosto de deixar livros a meio. Se os começo a ler e percebo que dali não vai sair nada de bom, abandono a leitura e pronto. Mas não gosto de avançar muito num livro e ter que desistir quase no fim. Acabou de acontecer. Estava a ler "O Inquisidor", Catherine Jinks, e fartei-me. Ok, aquilo passa-se na Idade Média. Mas não tinha que ser chato. Só que é - MUITO. E eu resolvi que o tempo de vida que me resta não chega para ler livros que não valem a pena. Por isso, toca a avançar na matéria...
Peguei no "Menina de Ouro", Chris Cleave. É o mesmo Senhor (assim, com maiúscula) que escreveu "Pequena Abelha". Bom, li 40 páginas daquilo e estou enleada. Isto sim, é bom. Nisto vale a pena gastar tempo!
De vez em quando perguntam-me pelos meus preferidos. Consoante o tema, vou dando a minha opinião. Hoje resolvi reunir num só post uma espécie de Best Of. Obviamente, estas escolhas não são estanques. Porque daqui a um ano terei lido mais, terei visto mais filmes, terei conhecido mais coisas e as minhas opiniões podem mudar. Ainda assim, hoje é este o meu Best Of.
Livro - autor português preferido:
Duvido que algum dia este deixe de ser o meu livro preferido. É uma história pungente, que mexe no epicentro da humanidade. Leva-nos aos limites, faz-nos abrir os olhos para uma realidade dura, crua, que fere. Foi o livro que mais mexeu comigo e aquele que me fez perceber que, quando toca à nossa sobrevivência, somos capazes de tudo.
Livro - autor português vivo, com muitos anos pela frente para criar pequenas-grandes maravilhas:
O João Tordo é, para mim, o melhor escritor português vivo. (Não menciono o Lobo Antunes, por exemplo, porque nunca consegui ler um romance dele, logo, não o posso considerar para este best of). A sua escrita é simples, fluida, escorreita e muito, muito cinematográfica. Ele puxa-nos para dentro dos seus romances e nós conseguimos ver as coisas à medida que acontecem. Não é um autor difícil de ler (em contraponto com o Saramago que muita gente acha difícil - pessoalmente não acho, mas talvez seja porque já me habituei à forma como ele escrevia), é um autor que sabe exactamente como e quando prender o leitor.
Livro preferido - autor estrangeiro
O Ken Follett é o meu autor estrangeiro preferido, de caras. Só que não consigo escolher UM livro dele... portanto, escolho uma série. Falta sair o terceiro volume da trilogia "O Século", mas meto dinheiro em como não me vai desiludir nada e em como vai fazer com que a trilogia se mantenha no meu top.
Thriller
Pois... O melhor dos melhores, para mim, é este. Claro que há mais, mas este é um retrato fiel do que se quer quando se trata de um thriller. Andamos ali até ao fim a tentar descobrir quem fez o quê, vamos achando que já percebemos tudo... e não percebemos nada, a não ser quando o autor quer que percebamos.
Filme "made in Hollywood"
Vi este filme quando tinha uns 16 ou 17 anos. Não tinha visto muita coisa, não tinha maturidade nenhuma. Mas este filme rebentou com a escala. Pôs-me a tentar imaginar o que seria preciso para engendrar aquela sequência de eventos que continuo a achar, ainda hoje, brilhante. Foi este filme que me tornou fã de thrillers. Depois deste, já vi dezenas (centenas?) e este continua a ser o meu #1.
Filme europeu
Vi este filme no cinema em Dezembro de 2003, salvo erro. Houve pessoas a abandonar a sala logo na cena inicial. A meio, mais pessoas desistiram. Não por o filme ser mau, mas por ser cru, violento. Não é um filme fácil, é preciso algum estômago. Mas a história é lindíssima e, mais uma vez, o que está em causa são os limites a que o ser humano pode chegar e como reage quando lá chega. De vez em quando revejo-o e a agonia que sinto é igual à que senti no Saldanha, em 2003.
Filme indiano
Mais um filme sobre emoções, sobre pessoas, sobre relações. Desta feita, o pano de fundo é a Índia e o seu estrito sistema de castas, as tradições e o papel da mulher. E o amor, claro. Um filme lindo, comovente, que faz pensar.
Ando a ler o "Anatomia dos Mártires", do João Tordo. A propósito disto e da tal entrevista dele à Papel, dei por mim a pensar no seguinte: se me dissessem que eu teria de escolher um autor para ler até ao fim da vida, só podendo ler livros desse autor e de mais nenhum outro, quem é que eu escolheria? E, sem pestanejar, a resposta é óbvia: João Tordo.
Porquê? Simples: é o meu segundo autor preferido. O primeiro é o Saramago que, onde está, já não pode escrever nada - ou seja, a obra dele está fechada, não dá para acrescentar mais livros. O Tordo, vivinho da silva, há-de continuar a produzir histórias das boas. E, se me garantissem que eu teria sempre livros novos para ler, ficava-me por ele até ao último dos meus dias, sem problema.
Porque gosto mesmo da escrita dele. Cinematográfica, simples, absorvente. É fácil uma pessoa ver as cenas que ele descreve - por ser tudo incrivelmente simples e por ser tudo incrivelmente cinematográfico.
Então, mas não há mais autores bons? Certamente que sim. Mas se eu só pudesse escolher um, era ele.
Claro que há o Follett, o Murakami, o Caruso, a Cornwell, a Gerritsen... Mas nenhum se equipara, para mim, ao senhor Tordo, que está muitos pontos acima. E isto, parecendo que não, é obra. É que, bem vistas as coisas, ele só tem 38 anos... e tem muito tempo pela frente, para escrever muitas histórias para cima de boas.
[Por isso, João, tal como te pedi aqui há tempos... escreve. Sempre. Muito. E quando não tiveres nada que fazer... escreve!]
A miúda está de férias. Hoje acordámos os três às 11h (com interrupções pelo meio, mas a alvorada oficial foi a essa linda hora). Eles passaram a manhã entre episódios do Mickey, brincadeiras e brigas de irmãos. Eu passei a manhã agarrada ao ferro de engomar. Almoçámos tarde. Agora eles dormem. Eu vou acabar de passar a ferro e conto gastar o resto do tempo entre um filme e um livro. Desta vez decidi não me massacrar e permitir-me aproveitar estes dias com eles. Reservo os serões para a escrita, sem sentimentos de culpa e sem stresses.
Amanhã haverá cinema (prometi à miúda que a levava ao cinema... no verão. Depois nas férias do Natal. Depois no Carnaval... Não passa de amanhã!) e natação. Amanhã, com sorte, conseguirei ir ao ginásio. Na quarta haverá lanche com a BFF que não nos abandonou rumo a Beja. Na quinta mais natação e, com sorte, mais ginásio. Na sexta... logo se vê. De caminho, filmes e séries e livros. Ah, e comer em condições - esta parte também está a correr lindamente, fiquem a saber! E vai melhorar!!
Boa semana, gente!!
Para mim,um bom policial tem que ter duas ou três características obrigatórias: ritmo, uma história inesperada (e um final surpreendente) e tem que fazer uso de técnicas policiais de investigação - metam polícias, detectives privados, o que for, mas tem que haver alguém à procura de respostas. Ok, "O Nome da Rosa" é um policial e nem por isso tem polícias - não há polícia envolvida, bem entendido, mas há uma investigação.
Se pego num policial e à décima página ainda não estou agarradíssima (daquele género que é impossível largar o livro), a coisa vai mal. Ok, aconteceu num dos melhores policiais do mundo, "Os Homens que Odeiam as Mulheres", do Stieg Larsson. Mas depois percebe-se para quê toda aquela apresentação da família. E o ritmo da narrativa é suficientemente bom para que não seja uma estopada ler aquilo.
Tudo muito diferente do que este "Em Parte Incerta", até agora, me trouxe. Vou na página 150 e nem vislumbre de "policiação". Ok, há uma mulher desaparecida e podia dar-se o caso de o livro ser sobre as buscas dela. Que pode ter morrido, ter sido assassinada, ter sido raptada ou, simplesmente, ter ido passar uns dias a uma cabana no meio da floresta. Até ver, não se sabe.
O problema deste livro, para mim, é que ele é muito mais sobre as pessoas do que sobre os acontecimentos - e as personagens não são muito interessantes... Atentem: só ainda li 150 páginas, portanto é perfeitamente possível vir aqui amanhã escrever um post sobre quão estúpida fui e dizer que o livro é a oitava maravilha dos policiais. Mas não me parece. O problema é essencialmente estrutural. O livro está construído em capítulos relativamente curtos, todos escritos na primeira pessoa (é uma coisa que não aprecio por aí além, nem neste nem noutros livros), e intercala dois narradores: o marido, Nick, e a mulher, Amy. Há ainda uma divisão em duas partes - ainda vou a meio da primeira parte. A primeira é sobre o desaparecimento dela, a segunda, aparentemente, é sobre o aparecimento. Na primeira, os capítulos da Amy são acerca do passado dela e do marido. A ideia, suponho, é contextualizar tudo o que se passa em torno do desaparecimento dela. Os capítulos dele são sobre os dias que se seguem ao desaparecimento. E chateia-me muito aquele andar para trás na história. Pode ser fundamental - acredito que sim, ou a autora teria ido por outro caminho - mas, até ver, é uma seca.
Desconfio que, no fim, vou estar a defender a minha dama: isto não é um policial porra nenhuma. Será, eventualmente um mix entre romance e mistério, mas um policial... duvido. E ou a coisa muda muito nas próximas 350 páginas ou não sei. Se tivesse que ir agora ao Goodreads avaliar o livro, dava-lhe uma estrela. Talvez o problema sejam as minhas expectativas. Entendam: eu sou apaixonada por policiais, já li dezenas, tenho preferidos, já li uns mauzitos, mas sei identificar os imperdíveis e as xaropadas. Quando vejo meio mundo a gabar este livro, é natural que fique curiosa e que me atire vorazmente à leitura. Expectativas a bater no topo, obviamente. E depois começo a ler e aquilo e... meeehhhhhh... não anda, não tem um gatilho forte, parece uma sopa morna... Altamente desapontada, prossigo a leitura, na esperança de que algo ali me faça mudar de opinião rapidamente. Ainda estou à espera... porque, 150 páginas depois, o mais normal seria já ter desistido. Estou a dar-lhe (me) uma oportunidade. A ver vamos...