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A curta memória dos avós

06.04.13

Quando eu andava a estudar a coisa processava-se assim: tinha boas notas? Podia ter melhor. Estava no quadro de honra? Era a minha obrigação. Tinha notas assim-assim? Tinha mesmo que melhorar. 

Tenho uns pais - principalmente um pai - muito exigentes que, de caminho se foram esquecendo de elogiar os bons resultados que eu tinha. É que, reparem, eu fui sempre boa aluna. Muito boa aluna. Não era um exemplo de bom comportamento, era super faladora (quem diria??) e distraía toda a gente à minha volta mas... funcionava em stereo e se por um lado falava, por outro apanhava tudo o que os professores diziam. Isso e a minha memória bastavam para as notas altas (só comecei a estudar para testes quando cheguei aos exames do 12º ano). E lá estava eu, no quadro de honra. E lá andava eu, a ser odiada pelo resto da turma com base nas notas que tinha.

Portanto, os meus pais não tinham nada de que se queixar. Mas tinham matéria para se orgulharam. E se se orgulharam... olhem, não sei; nunca me disseram. E eu fui andando e achando sempre que não era suficientemente boa, que o que eu fazia não chegava, que não era suficiente. Não que isso me tivesse deitado abaixo, mas fui tendo sempre um travo amargo a insucesso (quando não tinha mesmo razões para isso!).

 

Ora agora é a vez da minha filha começar a ter "notas". Ontem foi a reunião de fim de período e lá veio o resultado. A gaiata tem tudo excelente, excepto um pequeno detalhe que tem mais a ver com personalidade do que outra coisa: tem dificuldade em esperar pela vez dela, em dar a vez aos outros. Ela sabia que havia reunião de notas e perguntou logo por resultados, quando cheguei. Disse-lhe que estava tudo bem, menos aquele ponto. Desatou num pranto... diz que se esqueceu que tem que aprender a respeitar a vez dos outros, que vai melhorar, pediu muitas desculpas. E eu a dizer que não fazia mal, mas que é importante para ela ser uma menina educada e simpática. Ela percebeu e seguimos caminho.

 

Calha que o meu pai ouviu a conversa. E ficou muito "tocado" por eu ter chamado a atenção à menina. E à noite, depois de termos ido com ela ao hospital (porque mandou uma cacetada na piscina e dói-lhe o ombro - fez uma contractura, mas nada de grave), o senhor meu pai e avô desta neta resolve dar-me um ralhete e dizer que eu tenho que dar muito mimo à miúda durante o fim de semana, para compensar o facto de lhe ter ralhado (que nem sequer é o termo correcto!) por causa das notas.

 

Maravilhosa, a curta memória dos avós, não é? Claro que me ouviu logo relembrá-lo do dia em que, perante um 19 numa cadeira da faculdade (do 3º ano, coisa avançada, portanto), a resposta dele foi "ah tiveste 19? Para o 20 ainda falta 1...". É um daqueles casos flagrantes de dois pesos e duas medidas...

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1 comentário

De Isa a 07.04.2013 às 20:11

Os pais ficam sempre diferentes quando se tornam avós... mas percebo essa sensação que falas. No meu caso, sei que ficavam orgulhosos, mas os bons resultados eram tantos, que às tantas já parecia tudo normal, e como era o que estavam à espera, já se esqueciam de elogiar! ;)

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