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Quando eu andava a estudar a coisa processava-se assim: tinha boas notas? Podia ter melhor. Estava no quadro de honra? Era a minha obrigação. Tinha notas assim-assim? Tinha mesmo que melhorar.
Tenho uns pais - principalmente um pai - muito exigentes que, de caminho se foram esquecendo de elogiar os bons resultados que eu tinha. É que, reparem, eu fui sempre boa aluna. Muito boa aluna. Não era um exemplo de bom comportamento, era super faladora (quem diria??) e distraía toda a gente à minha volta mas... funcionava em stereo e se por um lado falava, por outro apanhava tudo o que os professores diziam. Isso e a minha memória bastavam para as notas altas (só comecei a estudar para testes quando cheguei aos exames do 12º ano). E lá estava eu, no quadro de honra. E lá andava eu, a ser odiada pelo resto da turma com base nas notas que tinha.
Portanto, os meus pais não tinham nada de que se queixar. Mas tinham matéria para se orgulharam. E se se orgulharam... olhem, não sei; nunca me disseram. E eu fui andando e achando sempre que não era suficientemente boa, que o que eu fazia não chegava, que não era suficiente. Não que isso me tivesse deitado abaixo, mas fui tendo sempre um travo amargo a insucesso (quando não tinha mesmo razões para isso!).
Ora agora é a vez da minha filha começar a ter "notas". Ontem foi a reunião de fim de período e lá veio o resultado. A gaiata tem tudo excelente, excepto um pequeno detalhe que tem mais a ver com personalidade do que outra coisa: tem dificuldade em esperar pela vez dela, em dar a vez aos outros. Ela sabia que havia reunião de notas e perguntou logo por resultados, quando cheguei. Disse-lhe que estava tudo bem, menos aquele ponto. Desatou num pranto... diz que se esqueceu que tem que aprender a respeitar a vez dos outros, que vai melhorar, pediu muitas desculpas. E eu a dizer que não fazia mal, mas que é importante para ela ser uma menina educada e simpática. Ela percebeu e seguimos caminho.
Calha que o meu pai ouviu a conversa. E ficou muito "tocado" por eu ter chamado a atenção à menina. E à noite, depois de termos ido com ela ao hospital (porque mandou uma cacetada na piscina e dói-lhe o ombro - fez uma contractura, mas nada de grave), o senhor meu pai e avô desta neta resolve dar-me um ralhete e dizer que eu tenho que dar muito mimo à miúda durante o fim de semana, para compensar o facto de lhe ter ralhado (que nem sequer é o termo correcto!) por causa das notas.
Maravilhosa, a curta memória dos avós, não é? Claro que me ouviu logo relembrá-lo do dia em que, perante um 19 numa cadeira da faculdade (do 3º ano, coisa avançada, portanto), a resposta dele foi "ah tiveste 19? Para o 20 ainda falta 1...". É um daqueles casos flagrantes de dois pesos e duas medidas...