23.06.10
Há coisas que só uma relação longa, estável e sólida traz. A intimidade. Ontem tive um momento que me marcou.
O meu marido anda, com o alto patrocínio do trabalho que tem, com um ombro lixado. Ontem, onze e tal da noite, ele deitado, eu a pôr-lhe um saco quente no ombro, depois a massajá-lo com Voltaren, depois a ajeitar-lhe o lençol para dormir. Eu, de pijama (parte de cima descombinada da de baixo, que eu não aguento as calças de um pijama nem a camisola do outro), meias a prender as calças, cabelo amarrado num rabo-de-cavalo mal feito. Sexyness? Zero.
Mas sei que ele me ama. Sei que não me troca por nada. Sei que é comigo que se sente bem. Não se importa que eu esteja mais gorda, mais magra, de cabelo mais curto ou mais comprido. Não se importa de me ver com a maquilhagem por tirar nem de pijama vestido, na tal figura que descrevi. E isso eu nunca tive com mais ninguém. Nunca me senti à vontade com mais ninguém para ser eu, para estar confortável em casa, para não pensar no que o outro iria pensar. E isto não é desleixo. É intimidade. Desleixo seria se eu só andasse assim. Não é, de todo o caso (ainda ontem, ao chegar a casa, ele tratou de elogiar o vestido que eu tinha posto). Chegámos (há muito tempo, não é de agora) àquele ponto em que a outra pessoa é parte de nós, em que, não sendo nós apenas uma pessoa, somos um do outro como de mais ninguém. E a isto também se chama felicidade.
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